Sem contar com 2020, avanço do desemprego é o mais elevado desde a troika

IEFP. Estavam sem trabalho 304.946 pessoas, no final do primeiro semestre deste ano, na sequência de uma subida homóloga de 9,8%. Mais do que em maio, quando a subida foi de 8,5%. E muito mais do que há um ano, no primeiro semestre de 2023, quando o stock de desemprego caiu quase 2%.
Fotografia: Gerardo Santos / Global Imagens
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Sem contar com o ano extraordinário que foi 2020, o primeiro da pandemia marcado pelo choque sem precedentes das medidas de confinamento que obrigaram negócios a fechar portas e até a falir, o número de desempregados registados nos centros públicos de emprego teve, no primeiro semestre deste ano, o maior aumento em mais de uma década, desde o tempo da troika (desde meados de 2013), indicam cálculos do DN/DV a partir de dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), que é tutelado pelo Ministério do Trabalho. A subida é de quase 10%, soube-se esta segunda-feira (link para o pdf aqui, no site do IEFP).

Ao longo do segundo semestre do ano passado, e sobretudo após a jornada do Papa Francisco que culminou no início de agosto, o desemprego total registado (stock, situação no final do mês) começou a ganhar corpo mês após mês e terminou o ano passado com uma subida mensal superior a 17,3 mil casos (só em dezembro).

Atualmente, o país ainda está a recuperar dessa fase, mas não o suficiente porque quando se compara com o período homólogo (primeiro semestre de 2023, quando a economia estava mais dinâmica em termos de emprego e o desemprego a cair), o ritmo do desemprego registado continua a ganhar força em termos homólogos, sendo esta a melhor medida para expurgar efeitos de sazonalidade.

No final do primeiro semestre deste ano, o número de pessoas dadas oficialmente como desempregadas nos centros do IEFP subiu 9,8% face ao mesmo semestre do ano passado (homólogo). Assim, estavam sem trabalho 304.946 pessoas no final deste período que vai de janeiro a junho.

Em 2020 e parte de 2021, o desemprego avançou a ritmos na casa dos dois dígitos. Foi a razia da pandemia. No entanto, sem contar com este tempo de exceção, é preciso recuar a abril de 2013 para encontrarmos um aumento maior nos registos da rede dos centros de emprego do Estado.

Aquele avanço de 10% é maior do que o de maio, quando a subida foi de 8,5%. E muito mais do que há um ano, no primeiro semestre de 2023, quando o stock de desemprego caiu quase 2%.

Nos 12 meses que terminaram no final de junho passado, os centros do IEFP tinham mais 27 mil inscritos, pessoas sem trabalho e que procuram ativamente emprego.

Em termos absolutos, o maior contributo para o aumento do desemprego acontece no norte (mais 12,2 mil casos), sendo verdade que também é a região do país com mais pessoas inscritas, o que ajuda a explicar o tamanho da subida em causa.

Logo a seguir, o maior impulso vem da região de Lisboa e Vale do Tejo, onde o contingente de desempregados é hoje maior em cerca de 10,7 mil casos.

Em todo o caso, os dados do IEFP mostram que o desemprego está a aumentar em todas as regiões do continente. Pelo contrário, mas ilhas (Açores e Madeira) cai.

Por nível de instrução, as novas estatísticas do IEFP, ontem divulgadas, mostram que o desemprego continua a subir mais entre quem tem ensino secundário (+19%) e curso superior (+11%). O desemprego nacional apenas recuou no grupo dos que têm até à quarta classe, segundo os mesmos dados oficiais.

A atualização do instituto também permite concluir que as profissões mais afetadas pelo aumento do desemprego são pessoal administrativo (mais 4,2 mil sem trabalho e à procura), seguranças e vendedores (mais 4,9 mil) e trabalhadores não qualificados não especificados (acréscimo anual de 8,2 mil casos).

Como já noticiou o DN/DV há escassos meses, os setores do vestuário e do couro tem estado sob alta pressão e a ser assolados pelo desemprego.

Segundo as novas estatísticas oficiais, isso continua a acontecer, sobretudo na indústria do couro, que continua a dar um contributo assinalável para a deterioração homóloga do mercado de trabalho (mais de 1,8 mil casos no referido acréscimo total nacional de 27 mil).

Mas há casos piores, agora: o maior impulso no desemprego acontece nas atividades imobiliárias (aumento de 7,3 mil desempregados), na dupla alojamento/restauração (mais 4 mil desempregados), no comércio (mais 2,5 mil) e na construção (mais 1,8 mil casos).

Vários economistas continuam a afirmar que, pelo menos este ano, o mercado laboral ainda vai aguentar, mas que a dinâmica subsequente dependerá muito do arranque sólido e efetivo do investimento (privado e público) e dos fundos europeus.

Segundo o gabinete de estudos da Universidade Católica Portuguesa, coordenado pelo professor de Economia João Borges de Assunção, "em Portugal, a taxa de desemprego terá diminuído de 6,8% para 6,2% [da população ativa] no segundo trimestre e a perspetiva para 2024 continua favorável em termos históricos (6,3%)".

No entanto, "o investimento recuou no primeiro trimestre e as exportações perderam o fulgor do ano passado, pelo que é difícil que a economia portuguesa continue a surpreender pela positiva como tem acontecido ao longo dos últimos trimestres".

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