Ser conservador é cansativo 

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Estou cansada de dilemas morais, sexuais, éticos. Estou farta que me desafiem e me provoquem desassossego como se o mundo e a vida dependessem de identidades de géneros, da ideologia de género, da vida dos transexuais, dos binários (que nem sei o quem são mas aviso já que respeito cada um ou cada uma) e dos letreiros que se pregam nas portas de casas de banho públicas. Mulher é mesmo mulher ou é uma pessoa com vagina? Género é apenas um construção social? Transgénero não-binário e cisgénero, sabem a diferença? E os vossos filhos, sabem?

Digam lá se não é cansativa a vida de um conservador do século XXI? É, pelo menos, uma complicação. Estou velha e não me apetece saber coisas novas. Pior, não me apetece ter opinião sobre elas. Já tenho opiniões a mais e sobre demasiadas coisas. Estar de um lado, ser contra o outro, ter razões e argumentos válidos para defender tudo o que acho, ser militante, ativista, espumar fel contra os opressores ou deitar lágrimas em favor dos oprimidos. Nada: não me ocorrem emoções por nenhum dos lados porque nem percebo os conceitos. Mais: não quero saber.

É barulho a mais para a minha cabeça e já estou cansada de tantos gritos. "Vão arrumar os quartos!"; "Quem é que abriu a lata das salsichas?!"; " Porque é que não puxam os autoclismos nesta casa?!" Por estas e por outras parecidas não tenho disponibilidade para ouvir mais gritaria. São muitas cores em todo o lado, em todas as marcas, em todas as esquinas, que querem dizer imensas coisas. Muitas e muitas.

Por outro lado, parece que o fim do mundo em cuecas (literalmente) se aproxima. O Apocalipse em forma de arco-íris - o demónio montado em cima de um unicórnio cor-de-rosa, e não na garupa de um dragão a cuspir fogo, como toda a arte e literatura ao longo dos tempos erradamente fazia crer - está aí. E tem como missão destruir a família, a sociedade, a humanidade. Não deixar rasto de irmão, de pais e de filhos. Uma estratégia que começa na linguagem e acaba nas casas-de-banho; que mina as igrejas e já conspurcou os políticos, a cultura e o ensino.

Estou velha para isto. Cansada de vender esperança e de tanta gritaria. Não, meus amigos, nem as mulheres vão passar ser pessoas com vaginas, nem depende das vossas qualidades a sobrevivência de instituições milenares como a família. O que seria do mundo... Não valemos assim tanto: ser conservador tem como grande principal vantagem percebermos cedo a nossa irrelevância.

O grande problema dos tempos modernos é a quantidade de temas e de polémicas que todos os dias têm de se debater, como se fossem cadernos de encargos. Pois, não sei. Tenho uma opinião cada vez mais consistente sobre os temas fraturantes: fraturantes são os ossos.

O problema deste histerismo é que deixamos passar ao lado as discussões importantes, de vida e de morte, enquanto discutimos cores, e géneros, casas de banho e estupidezes. E misturarmos tudo como se fosse uma sopa juliana. O essencial e o acessório, tudo no mesmo tacho. E engolimos como se tivessem o mesmo sabor. Ser conservador é cada vez mais cansativo porque somos cada vez menos a perceber o essencial das batalhas que temos travar. E estupidamente vamos perdendo as essenciais.

Jurista

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