A incerteza provocada pela antecipação da introdução de taxas aduaneiras sobre produtos importados nos EUA pairou, durante as últimas semanas, em Wall Street, que viveu o prior trimestre desde 2022, entre janeiro e março. No entanto, a Europa escapava à maré de pessimismo, e as praças do Velho Continente foram somando ganhos, servindo de uma espécie de refúgio entre os investidores. Mas o choque provocado pelo discurso de Donald Trump na quarta-feira foi muito mais brutal do que se esperava e, durante esta sexta-feira, nenhum índice escapou às perdas – alguns anularam mesmo os ganhos trimestrais, como foi o caso do FTSE 100, o principal índice britânico, que na sessão desta sexta-feira tombou 4,95%. O DAX alemão perdeu 4,54%, enquanto o espanhol Ibex35 afundou 5,83%. Em Lisboa, o PSI não conseguiu manter-se em terreno positivo – um feito garantido em muitas das sessões negativas da europa nas últimas semanas – e perdeu 4,75%. A Edp Renováveis e o Millennium BCP lideraram as perdas, com quedas acima dos 9%. A Mota Engil fechou o pódio das que mais caíram, com uma desvalorização de 7,46%.O CAC francês não ficou atrás das congéneres europeias e fechou a última sessão da semana a perder 4,26% .Na praça-americana, o ambiente também segue negativo, com o S&P 500 a escorregar mais de 3% e o Nasdaq e o Dow Jones a cair quase 4%. Para o S&P, "foi uma das suas piores sessões desde 2020, com uma queda superior a 4%, enquanto o índice de volatilidade VIX subiu mais de 2%", adianta ainda ao DN/Dinheiro Vivo Adriana Rojão, analista da XTB.Na tecnologia, destaque para a desvalorização da Apple, que perdia 4% à hora de fecho deste texto, e para a Nvidia, que registava perdas superiores a 7%. A Amazon deslizava 1%. Mas, no acumulado do ano, todas estas cotadas já registam perdas entre os 20% e os 30%.E nem a Tesla, fundada e dirigida pelo braço direito de Donal Trump – apesar de se dizer que Elon Musk já estará de saída da administração americana – tem escapado a esta derrocada acionista: as ações da empresa perdiam quase 10% esta sexta-feira, e acumulam uma desvalorização de mais de 35% desde janeiro."A decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de aplicar novas taxas elevou-as para o nível mais alto em mais de um século, provocando uma reação negativa nos mercados de ações e aumentando o receio de uma recessão iminente. As taxas de juro dos títulos do Tesouro dos EUA caíram abaixo dos 4%, refletindo a fuga para ativos de refúgio", adianta ainda a analista.O facto de a China ter retaliado contra as mais recentes tarifas impostas pelo presidente norte-americano desferiu uma espécie de último golpe, nas praças que já tinham iniciado a sessão a negociar abaixo da linha de água. O governo de Xi Jinping anunciou uma tarifa de 34% sobre todas as importações dos EUA e controlos de exportação de terras raras, a partir de dia 10 de abril, igualando a taxa aplicada por Trump aos produtos vindos da China. Donald Trump apelidou a decisão de Pequim de “ridícula”."Adicionalmente, os dados macroeconómicos americanos têm sido inferiores ao esperado, reforçando a ideia de uma possível recessão. As políticas protecionistas de Trump estão a fomentar a procura de ativos seguros, aumentando a volatilidade e o pessimismo no mercado. Os investidores manifestam preocupação com a profundidade e amplitude das novas tarifas, alertando para um possível impacto adverso prolongado nos mercados", nota. .Em redor do mundo crescem as preocupações sobre o impacto que a decisão da administração norte-americana vai ter nos diversos setores de atividade, desde o automóvel – aquele que tem sido mais falado – até ao relojoeiro que, reunido na Suíça por ocasião da Watches and Wonders, já veio a público manifestar a sua preocupação com o impacto que as tarifas de 30% terão para a manufatura. Os EUA representam, atualmente, cerca de 50% das vendas das relojoeiras suíças. Numa declaração emitida ontem, o Conselho Federal Suíço afirmou que iria analisar as medidas acnunciadas pela Casa Branca e o seu impacto. Informou ainda que estava em contacto com as indústrias afectadas e com as autoridades americanas e que procurava uma solução.As tarifas generalizadas anunciadas pelo governo dos EUA contra várias nações parceiras comerciais baseiam-se, alegadamente, nos respectivos défices comerciais, como já explicámos aqui. “Os cálculos do governo dos EUA não são claros para o Conselho Federal”, disse ainda o mesmo orgão."Em resposta a estas tarifas, intensificou-se a retaliação internacional: o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu sanções da UE contra as empresas tecnológicas americanas e apelou às empresas europeias para suspenderem os investimentos nos EUA", nota Adriana Rojão."França e Alemanha estão a pressionar por uma resposta mais forte às medidas tarifárias de Trump, incluindo um imposto sobre os serviços digitais, que poderia afetar diretamente as empresas de tecnologia norte-americanas", salienta. No mesmo sentido, "a publicação de dados de emprego não agrícola muito mais fortes do que o esperado nos EUA hoje criou algum alívio no mercado acionista, levando o US100 a tentar recuperar". E, "no mercado cambial, o dólar valorizou e a publicação simultânea de dados fracos de emprego no Canadá levou a que o USD/CAD atingisse um novo máximo diário".Agora, os olhos estão postos na próxima semana, quando haverá dados sobre a inflação nos EUA. "As expectativas de inflação dos consumidores aumentaram em março, enquanto os preços da indústria transformadora e dos serviços do Institute for Supply Management (ISM) subiram durante o mês, complicando o panorama da inflação", lembra ainda a analista da XTB. "Este facto pode colocar alguns desafios à Reserva Federal, que terá de encontrar um equilíbrio delicado entre apoiar o crescimento e conter a inflação. Quaisquer valores superiores aos esperados poderão intensificar as preocupações com a estagflação, dado que a atual leitura do IPC ainda não capta o impacto total das tarifas dos EUA", remata. *Notícia atualizada às 17h56 com comentários da XTB.EUA estão a "caminhar para uma recessão" devido às "políticas imprudentes" de Trump, acusam democratas .Tarifas, o dia seguinte. “É o maior ataque desde a Segunda Guerra”, "o pior pesadelo da Europa”