Só 4% das casas em Portugal têm proteção contra assaltos

Compra de soluções privadas está a crescer. Especialistas lembram que crises fomentam este tipo de criminalidade, que está a aumentar sobretudo nas segundas habitações.
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O número de assaltos a residências está a aumentar e as técnicas dos assaltantes estão mais sofisticadas. Ainda assim, os portugueses continuam a reagir à posteriori. Embora não existam dados rigorosos, estima-se que só 4% das casas no país têm proteção contra roubos, a maioria em Lisboa e Porto. Mas este este tipo de criminalidade tem vindo a crescer, principalmente nas segundas habitações, e em tempos de crise é sabido que dispara. No acumulado dos primeiros cinco meses deste ano, o número de roubos ou tentativas de roubo a casas no Algarve cresceu mais de 13% em comparação com o mesmo período de 2022. E no Alentejo registou uma subida de 50%. Os dados são da Securitas Direct e vêm confirmar uma tendência que se começou a evidenciar já em 2021, ano em que se contabilizaram mais de 50 ocorrências por dia nos meses de verão.

Em 2022, o cenário agravou-se. O relatório anual de segurança interna dá nota do registo de 9276 furtos em residências com arrombamento, escalamento ou chave falsa, um crescimento de 10,2% face ao exercício anterior. Somam-se ainda 4047 assaltos com recurso a outros métodos, valor que corresponde a uma subida de 7,9% quando comparado com 2021. O documento revela ainda a ocorrência de 529 roubos a habitações com procedimentos caracterizados de violentos e graves, um aumento de 4%.

De acordo com Luís Quintino, diretor de operações da Securitas Direct, o modus operandi dos assaltantes tem vindo a alterar-se. "Há um tipo de assalto mais organizado, mais criativo e adequado à realidade", embora se continue a utilizar o método de arrombamento, chaves mestras, entrada por janelas e radiografias, diz.

Os assaltantes estão conscientes das alterações na mobilidade da população devido ao teletrabalho e, por isso, da possibilidade de estar gente em casa, e estão a aplicar procedimentos como libertar fumo ou água por baixo das portas, ou vigilância da habitação e inscrição de símbolos junto às caixas de correio e em portas. No cenário de fumo ou água, "o primeiro impulso de uma pessoa é abrir a porta, o que aumenta a possibilidade de agressões físicas", alerta o responsável.

Luís Quintino lembra também que o mercado da segunda habitação representa hoje 1,1 milhões de residências e, desde a pandemia, é mais procurado pelos proprietários, que inclusive fizeram investimentos na melhoria das habitações. "Antigamente, estas casas estavam muito vazias, algumas quase abandonadas, mas hoje em dia há uma grande probabilidade de se encontrarem habitadas, o que aumenta a possibilidade de confrontos". Estão também mais atrativas, porque em geral os proprietários rechearam a habitação aquando da crise sanitária, pois foram espaços de refúgio. Os dados da Securitas Direct apontam para um aumento deste tipo de crimes nas zonas costeiras e em segundas habitações.

Foco em Lisboa e Porto

Os registos da Central de Segurança da Prosegur Alarms 24h evidenciam "um aumento nas ocorrências reais entre os meses de junho e outubro", essencialmente nas regiões de Lisboa, Porto e Coimbra, quando os habitantes estão noutros destinos, diz Carlos Vaqueirinho, diretor-geral da Prosegur Alarms. Segundo este especialista de segurança, "a maioria dos assaltos são originados por pequena delinquência e com especial concentração em termos de volume em núcleos urbanos e períodos noturnos". Entre 2021 e 2022, o número de assaltos em Lisboa aumentou 9% e no Porto 10% (as zonas do país onde mais ocorre este crime), e cresceu significativamente em Coimbra (mais 40%), Leiria (34%) e Alentejo (30%). No Algarve, o incremento foi de 10%.

Para Luís Quintino, os assaltos a residências têm tendência a aumentar devido à atual situação macroeconómica. Como lembra, em alturas de crise há um incremento da criminalidade. Apesar dos portugueses estarem mais conscientes da necessidade de protegerem as "habitações e em contrariar a velha premissa "casa roubada, trancas à porta", os dois especialistas do setor aconselham os proprietários a não abrir a porta a desconhecidos, a fecharem portas e janelas quando se ausentam, a ter atenção ao conteúdo partilhado nas redes sociais, atualmente uma ferramenta bastante utilizada pelos assaltantes, a deixar uma luz acesa, programar a televisão para que se ligue e desligue a determinada hora ou não deixar encher a caixa de correio, providenciando que alguém recolha a correspondência. Há também soluções profissionais e inovadoras, como serviços de alarme com monitorização permanente e suporte 24 horas, central recetora de alarmes, com aviso à polícia, videovigilância, entre outras.

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