Standard & Poor's avança. Rússia está a dois passos de entrar em incumprimento e bancarrota

De uma assentada, a S&P cortou o rating russo de BB+ para CCC-, dois níveis completos (cada um tem 3 fases), faltando apenas mais dois passos completos até chegar à classe D (default, incumprimento).
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A capacidade da Rússia pagar as suas dívidas está a deteriorar-se de forma acelerada e agora faltam apenas dois níveis de "rating" (nota da dívida pública do País) para a Federação ser considerada incumpridora e começar a falhar pagamentos aos principais credores, avançou a maior agência de notação financeira, a norte-americana Standard and Poor's (S&P), após o fecho da bolsa de Nova Iorque, esta quinta-feira.

De uma assentada, a S&P cortou o rating russo de BB+ para CCC-, em dois níveis, faltando apenas mais dois passos completos até chegar à classe D (default, incumprimento).

A tendência (outlook ou perspetiva) para a nota atribuída hoje (CCC-) é "negativa". A bancarrota está, assim, cada vez mais próxima, de acordo com os parâmetros desta agência de ratings.

A ação da S&P está, na verdade, em consonância com o que têm dito em público os líderes de várias potências, como Joe Biden (Estados Unidos) e Ursula von der Leyen (Comissão Europeia).

Há sanções a vários bancos russos, limites ao uso do sistema SWIFT (transações financeiras internacionais) e inúmeras empresas sediadas no Ocidente estão em retirada da Rússia. Total ou parcialmente, segundo dizem, claro.

"O conflito militar da Rússia com a Ucrânia provocou uma nova ronda de sanções governamentais dos país do G7 [os sete maiores do mundo], incluindo as que visam as reservas cambiais do Banco Central da Rússia (BCR)", refere a empresa de avaliação.

"Isto tornou grande parte das reservas russas inacessíveis, minando a capacidade do BCR de agir como credor de último recurso e prejudicando o que tinha sido - até recentemente - a força de crédito mais destacada da Rússia: a sua posição líquida de liquidez externa."

A S&P observa que "para mitigar a elevada volatilidade resultante da taxa de câmbio e dos mercados financeiros, e para preservar os amortecedores de moeda estrangeira remanescentes, as autoridades russas introduziram, entre outras, medidas de controlo de capitais que, segundo entendemos, podem travar os detentores de obrigações do tesouro não residentes de receberem atempadamente os pagamentos de juros e de capital", avisa a mesma entidade.

Por isso, "baixámos as nossas notações de crédito soberano de longo prazo em moeda estrangeira e local da Rússia para 'CCC-' de 'BB+' e 'BBB-', respetivamente, e mantivemo-las em observação, mas com tendência negativa". Podem descer mais na qualidade do crédito público, basicamente.

Mais para vir nas "próximas semanas"

Este outlook (tendência negativa) indica "que poderemos baixar a avaliação da dívida ainda mais nas próximas semanas".

"Esperamos resolver esta colocação em credit watch assim que tivermos mais certezas sobre a capacidade técnica e/ou vontade do governo russo em honrar as suas obrigações de dívida na totalidade e a tempo."

Este corte a fundo no rating russo vem na sequência da "imposição de medidas que acreditamos que, provavelmente, irão aumentar substancialmente o risco de incumprimento".

Entre elas estão "os controlos de capital introduzidos pelas autoridades que visam proteger o rublo do impacto de severas sanções económicas, preservando ao mesmo tempo as reservas de segurança utilizáveis".

Em cima disto, a S&P somou "as novas restrições governamentais do G7 impostas à Rússia em resposta às suas ações militares rápidas na Ucrânia".

Assim, diz a agência, "estimamos que as sanções internacionais reduziram as reservas cambiais disponíveis da Rússia em quase metade, incluindo depósitos em moeda estrangeira e títulos domiciliados nos EUA, na UE e no Japão".

"Isto enfraqueceu substancialmente a liquidez externa da Rússia durante um período de aumento da procura de moeda estrangeira. As sanções também impuseram restrições que travam ou diminuem significativamente o acesso do sistema bancário russo ao sistema financeiro global, aos mercados", acrescenta a S&P.

"Segundo informações públicas e relatórios da imprensa, as medidas de controlo de capitais implicam a proibição dos fluxos financeiros transfronteiriços, incluindo os pagamentos do serviço da dívida [juros] tanto do setor privado, como do governo."

Por isso, "isto irá, muito provavelmente, restringir a capacidade dos detentores de obrigações nacionais e em moeda estrangeira não residentes de receberem atempadamente os pagamentos de juros e/ou de capital", remata a mesma agência de ratings.

(atualizado 23h00)

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