O economista Quentin Parriniello, um dos obreiros do relatório que vai ser apresentado na quinta-feira aos responsáveis das finanças e bancos centrais do G20, considera que taxar os super-ricos é uma questão de “sobrevivência da democracia”..Em entrevista à Lusa, o diretor político do Observatório Tributário da União Europeia afirma que nesta proposta não está em causa apenas “aumentar receita, mas também uma forma de reconstruir a confiança com os governos”..“É preciso exigir de forma clara que somos capazes de desenhar um sistema de impostos onde aqueles que têm mais condições de pagar impostos paguem tanto como o resto da população”, sublinha o economista francês, referindo-se ao sistema vigente..Esse sistema, considera, “facilita a fuga aos impostos dos mais ricos, ou a alocação de capital em que consigam pagar menos impostos, o que permite que “o teu vizinho que ganha mais pode pagar menos impostos que tu”..Na opinião de Quentin Parriniello, a não cobrança de impostos aos bilionários, “mina a confiança nos Governos que deviam trabalhar para o bem maior e não para uma pequena elite”..“Não é apenas sobre aumentar as receitas, é sobre salvar a democracia e reconstruir a confiança entre governos e cidadãos”, considera..O Brasil, que detém a presidência do grupo das 20 maiores economias do mundo (G-20) até finais de novembro, encomendou o relatório e espera que este seja apoiado pelo máximo número de países, durante a cimeira de ministros das Finanças e de Presidentes de Bancos Centrais do grupo, que decorre entre quinta e sexta-feira na cidade brasileira do Rio de Janeiro..As conclusões do relatório indicam que um imposto mínimo de 2% sobre os bilionários seria a opção mais indicada para restaurar a progressividade tributária globalmente e arrecadar mais de 250 mil milhões de dólares (230,9 mil milhões de euros ao cambio atual) por ano..De acordo com o Observatório Tributário da União Europeia existem cerca de 3000 bilionários em todo o mundo..Até agora, os únicos países que pertencem ao grupo das 20 maiores economias mundiais que apoiaram publicamente a ideia de um imposto mínimo global sobre os muito ricos foram o Brasil, a França e a África do Sul..Bélgica e Espanha, país convidado permanente nos trabalhados do G20, também já apoiaram a medida, assim como 12 países da América Latina..O Governo português - que foi convidado pelo Brasil para membro observador do G20 - ainda não se pronunciou sobre esta matéria..Ainda assim, recorda Quentin Parriniello, durante a reunião do G7, que decorreu no mês passado em Itália, as principais economias mundiais mostraram-se “Dispostas a trabalhar de forma construtiva com o Brasil para uma decisão” e assumiram que têm de fazer mais em relação à taxação dos bilionários..Em relação ao desfecho positivo durante as reuniões do Rio de Janeiro, nas quais Portugal está representado pelo secretário de Estado Adjunto e do Orçamento, José Maria Brandão de Brito, o economista francês indica esperar “o melhor”..Aponta, contudo, a possibilidade de não conseguir nada porque “infelizmente isso pode acontecer devido a questões geopolíticas”..Mas pode acontecer também que se faça um “diagnostico comum e uma agenda definida”..“Mas independentemente do cenário isto é apenas o início de uma história”, perceber que isto é um problema e o que se deve fazer para o colmatar, sublinha o economista..Em relação à forma como o dinheiro arrecadado pelos impostos dos bilionários pode ser alocado, Quentin Parriniello justifica que esta não deve ser uma conversa para o momento..“Se discutirmos como utilizar o dinheiro antes de obtermos o dinheiro não é a melhor forma” de se chegar a consenso, considera.