A última semana trouxe dois factos relevantes que permitem antecipar uma espécie de arrefecimento global em matéria de transição energética. Refiro-me à pré-falência da Northvolt, abalada por uma quebra de encomendas na ordem dos milhares de milhões; e à consequente desistência do consórcio com a Galp para a instalação da maior refinaria de lítio na Europa, prevista para Setúbal. .Estas duas notícias prenunciam o que há muito se suspeitava: a proliferação das energias renováveis não vai acontecer ao ritmo e à dimensão desejados. Ao contrário do que uma certa ortodoxia ambiental previa, nem o desenvolvimento de algumas fontes de energia limpa está a atingir a maturidade necessária, nem os consumidores as estão a adotar de forma consistente, gerando disrupções de procura, como a que atingiu a empresa de baterias sueca. .Além disso, o consumo de combustíveis fósseis não para de crescer, como demonstram, de forma inequívoca, os dados de 2023, ano em que, pela primeira vez na história, a procura pelo petróleo ultrapassou os 100 milhões de barris por dia. Os valores das emissões globais de CO2 afetas ao consumo de energia, por seu lado, também voltaram a avançar no ano passado, em cerca de 1,1%. .Neste quadro, compreende-se que a UE não queira dar sinais de abrandamento no objetivo da transição energética e do net zero em 2050. Isso seria nivelar por baixo os compromissos internacionais nesta matéria e oferecer um salvo-conduto aos blocos concorrentes para manterem em alta a procura pelos hidrocarbonetos. O que já não se percebe muito bem é o motivo pelo qual Portugal continua, de forma quase compulsiva, a querer estar na linha da frente deste combate, antecipando-se à UE nas metas sobre as emissões e as energias “limpas”. Foi essa, no entanto, a opção que o Governo tomou no PNEC 2020, ao subir a fasquia das renováveis para 51% no final da década e da redução de CO2 para 55%. .Quem paga a fatura desta transição a todo o custo são os consumidores. Não por acaso, o preço da eletricidade tem vindo a aumentar, de forma consistente, desde o início de 2023; enquanto o gás natural se mantém muito acima da média comunitária. A irracionalidade domina as nossas opções de política energética, mas, pelo menos nisto, somos dos melhores da Europa. .Presidente da Associação Comercial do Porto