Turismo. Demora nos licenciamentos põe em risco investimentos do grupo Fladgate

Expansão do Vintage House foi anunciada em 2018, entre outros projetos no Pinhão. Em Gaia é o Bearsley Hotel que continua também à espera
O Vintage House foi recomprado em 2015 pela Fladgate e o projeto de expansão anunciado em 2018. Foto: André Rolo/Global Imagens
O Vintage House foi recomprado em 2015 pela Fladgate e o projeto de expansão anunciado em 2018. Foto: André Rolo/Global ImagensAndré Rolo/Global Imagens
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A The Fladgate Partnership (TFP) - grupo que detém as marcas de vinho do Porto Taylor’s, Fonseca, Croft e Krohn e negócios no turismo, como os hotéis The Yeatman e Vintage House e o empreendimento cultural World of Wine - espera e desespera pelo licenciamento de novos projetos em carteira. A expansão do Vintage House, no Pinhão, foi anunciada em 2018 e ainda não avançou. A pandemia não ajudou, reconhece Adrian Bridge, CEO do grupo, mas “já lá vão dois anos”. Agora, é a aprovação do novo Plano Diretor Municipal (PDM) do Pinhão que parece estar a atrasar tudo, prejudicando a performance do grupo na região. “Não podemos esperar eternamente, temos que tomar decisões. Ou podemos avançar com este projeto na beira rio, ou esquecemos  e vamos investir noutro local. Temos outras quintas e outras zonas onde o podemos fazer”, sublinha o responsável.

O projeto, num investimento estimado de 15 milhões de euros, prevê a construção de 25 novas suítes, a par de um museu dedicado aos vinhos do Porto e do Douro, novo restaurante, bar, loja de vinhos e um spa, além de estacionamento, nos 14 mil metros de terrenos que adquiriu, junto ao Vintage House, e que eram da Casa do Douro. “Não podemos avançar por falta do PDM, mas quero acreditar que o novo plano diretor será emitido ainda este ano. Mas há uma série de outras entidades envolvidas que também têm que se pronunciar, a Agência Portuguesa do Ambiente, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte ou a Administração dos Portos do Douro e Leixões”, alerta Adrian Bridge, lembrando que o turismo contribuiu, em 2023, com receitas de mais de 25 mil milhões de euros para a economia portuguesa. 

O CEO da Fladgate considera que o turismo é ainda mais importante no Douro, porque ajuda à diversificação da economia local. “Qualquer região dependente de uma só indústria [os vinhos e, em especial, o do Porto] está mais vulnerável. O Douro é a mais bonita região vitivinícola do mundo, e temos que aproveitar isso com oferta turística de qualidade”, sustenta. A incapacidade de expandir o Vintage House, um projeto que, depois de aprovado, levará sempre dois a dois anos e meio a construir, faz com que muitos dos seus clientes do The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, acabem a procurar outros 5 estrelas no Douro, concorrentes, quando visitam a região. Os cruzeiros que ficam parados durante a noite no cais do Pinhão também não ajudam. “Ninguém quer ter a sua suíte com vista para um navio nem ouvir o barulho dos sistemas de ventilação e ar condicionado de um barco em frente à sua janela”, sublinha.

Este responsável admite, no entanto, que, no imediato, a grande preocupação no Douro são as vindimas que se aproximam, numa conjuntura particularmente adversa, com uma produção que se espera grande quando os stocks das colheitas anteriores são ainda muito significativos.  Por definir está ainda qual será o quantitativo de benefício, ou seja, a produção autorizada de vinho do Porto na próxima vindima.

"O ano passado precisávamos de fazer apenas 96 mil pipas [de 550 litros cada], fizeram-se 104 mil, por motivos políticos provavelmente. Este ano há que encarar a realidade. As vendas caíram o ano passado 7% em volume e, até maio, estavam com quebra de 1%. Significa que 80 a 85 mil pipas serão suficientes para as necessidades. O que implica que o preço das uvas do vinho de mesa tem que subir senão teremos produtores em falência no Douro. Não é possível manter este conceito de subsidiar o vinho de mesa com o benefício", critica.

Mas não é só no Douro que a Fladgate desespera com a demora no licenciamento. Em Vila Nova de Gaia, nos antigos armazéns da Fonseca, o grupo quer fazer o primeiro hotel com neutralidade carbónica do país, o Bearsley Hotel, que designa por “irmão” do Yeatman. Este é um projeto anunciado em 2022, quando vendeu o Infante de Sagres, num investimento calculado de 35 a 40 milhões de euros, mas que continua à espera. O objetivo era abrir em 2024 e os atrasos puseram em causa, inclusivamente, uma linha de crédito de 18 milhões de euros do Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbanas (IFRRU). 

"O tema não é um exclusivo nosso, mas é uma preocupação. Quero acreditar que este novo governo também entende a necessidade de acelerar as aprovações para estimular a economia", frisa Adrian Bridge. 

Refira-se que o grupo faturou, em 2023, cerca de 150 milhões de euros, dos quais 33% foram assegurados pela área do turismo. Para este ano a expectativa é chegar aos 175milhões.

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