Turistas ajudam a puxar pelas vendas de sapatos em Portugal

Em ano de inflação e taxas de juro altas, o calçado foi penalizado a nível mundial, com quebras na produção, nas exportações e consumo. No mercado nacional, foram vendidos 69 milhões de pares, seis milhões a mais do que em 2022.
É de Espanha que vem a maior parte do calçado que Portugal importa, mas a China e o Vietname são principais fornecedores do país vizinho
É de Espanha que vem a maior parte do calçado que Portugal importa, mas a China e o Vietname são principais fornecedores do país vizinhoLeonel de Castro / Global Imagens
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Os portugueses estão a comprar mais sapatos. Ou melhor, o consumo de calçado em Portugal está a crescer: passou de 63 milhões de pares, em 2022, para 69 milhões, em 2023. Foi um aumento de 9,5% e um comportamento em contraciclo com a performance mundial, marcada por uma retração para cerca de 20,6 mil milhões de pares, influenciada pelo disparar da inflação e das taxas de juro. Só na Europa, EUA e China foram consumidos menos 1546 milhões de pares de sapatos. Mas houve países a reforçarem as suas compras. É o caso da Rússia que, em 2022, fora o 10.º maior importador de calçado do mundo e, em 2023, subiu à 5.ª posição, tendo entrado também para o 8.º lugar no ranking dos maiores consumidores de calçado. No caso português, a explicação está, acredita a associação do calçado, no crescimento do turismo.

Os dados são do World Footwear 2024, o anuário estatístico que a APICCAPS publicou pelo 14.º ano consecutivo. “É um facto que hoje há cada vez mais consumidores portugueses a procurarem calçado nacional e Portugal é já um mercado relevante na estratégia de muitas das nossas empresas. Por outro lado, essas são compras feitas por portugueses, mas também pelos muitos turistas que visitam o país”, diz o porta-voz da associação, Paulo Gonçalves.

A atestar a maior atenção dos fabricantes portugueses pelo mercado nacional está o facto de a orientação exportadora da indústria portuguesa ter sido, em 2023, de 81,9%, face aos 89,1% de 2022.

Em 2017, era de 100,6%, mostrando que nem todo o calçado exportado era produzido em Portugal. Essa é uma tendência crescente noutros países europeus, como Itália e Espanha, que têm taxas de orientação exportadora de 128,8% e de 194,5%, respetivamente.

Foi de Espanha que vieram quatro em cada 10 dos 54 milhões de pares de sapatos que Portugal importou em 2023. Seguiu-se China (quota de 32%), França (7%), Alemanha e Bélgica, ambas com 5% de quota. O que não significa que o calçado que estamos a comprar no país vizinho seja produzido localmente.

“A grande diferença face a Itália e a Espanha é que estes são países que importam muito calçado para reexportar e Portugal quase não tem essa tradição. A indústria portuguesa está muito concentrada na área produtiva propriamente dita, mas começam já a surgir casos de empresas a importar calçado, muitas vezes até para diversificarem e enriquecerem a sua própria coleção”, refere Paulo Gonçalves, sublinhando que “esse é um movimento natural e que teremos de continuar a aprofundar”. Em causa, a necessidade de subcontratar fora aquilo em que a indústria nacional não é competitiva.

O estudo mostra ainda que, nos últimos cinco anos, as importações de calçado a partir de Espanha, Bélgica e Alemanha cresceram 14%, 35% e 47%, respetivamente, enquanto as compras ao Reino Unido e à China caíram 72% e 21%. O que à partida poderia parecer uma boa notícia, não o é necessariamente. É que 58% do calçado que a Espanha importou em 2023 veio da China e 14% do Vietname. Mais, nos últimos cinco anos, as compras de Espanha ao Vietnam cresceram 146%, à China aumentaram 44% e à Indonésia dispararam 163%.

Com 81 milhões de pares de sapatos fabricados em 2023, Portugal subiu dois lugares e é o 18.º maior produtor mundial. É que, embora a produção nacional tenha encolhido 3,6% , recuou menos do que a dos principais concorrentes, designadamente Itália, que produziu 148 milhões de pares, 14 milhões a menos do que no ano anterior, correspondente a uma quebra de 8,6%. Caiu, por isso, uma posição na tabela, para o 13.º lugar.

A China continua a ser o maior fabricante de calçado no mundo, com 12,3 mil milhões de pares e uma quota global de 54,9%. A Índia surge no segundo lugar, com 2,6 mil milhões de pares; o país reforçou a sua quota que é agora de 11,6%. O top 10 dos maiores produtores, responsáveis por 88,7% do calçado fabricado no mundo, é dominado por países asiáticos, com exceção do Brasil e do México. A grande novidade este ano é a saída do Cambodja e a entrada do Irão para a 10ª posição.

A China domina também o consumo, o que não admira atendendo a que tem mais de 1400 milhões de habitantes, que compraram, o ano passado, 3 532 milhões de pares, o que lhe dá uma quota de 17,1%. A segunda posição cabe, este ano, à Índia, com 2563 milhões de pares e 12,4% de quota, destronando os Estados Unidos que caíram para o terceiro lugar da tabela, com 1 934 milhões de pares, menos 749 mil do que no ano anterior. Têm 9,4% de quota mundial, quase 3 pontos percentuais a menos do que em 2022.  

A quebra de consumo na Europa leva ainda a que a Alemanha, Reino Unido e França, que ocupavam as três últimas posições na tabela dos 10 maiores mercados de consumo de calçado, tenham, este ano, desaparecido do ranking. Em vez deles estão a Rússia, o Bangladesh e o México. A Rússia, que importou 389 milhões de pares e pagou por eles 4 146 milhões de dolares, um aumento de 29,2% em quantidade e de 38% em valor, subiu do 10º ao 5º lugar na tabela dos 10 maiores importadores mundiais.

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