O projeto da alta velocidade e a construção do novo aeroporto, que implica priorizar a terceira travessia sobre o Tejo e o TGV entre Lisboa e Madrid, são o prenúncio de um novo ciclo de grandes obras públicas. Depois de mais de dez anos a viver com um espartilho orçamental e fortes restrições ao financiamento, consequências das crises financeira e pandémica, Portugal tem de novo condições para pensar e executar investimentos estruturais. .E ainda bem que assim é, considerando os efeitos multiplicadores e de arrastamento das grandes obras públicas no tecido empresarial e na globalidade da economia. O investimento em infraestruturas gera riqueza e emprego, promove a coesão social e a qualidade de vida e estimula a iniciativa privada. Em regra, os grandes projetos não só atraem investimento direto estrangeiro como galvanizam a atividade empresarial nacional, em particular, ao criarem uma rede de fornecedores e prestadores de serviços..Mas importa estar consciente dos riscos que os grandes investimentos públicos comportam. Portugal tem um pesado historial de aplicação de dinheiros públicos e fundos comunitários em projetos infraestruturais que geraram derrapagens de custos, elevadas despesas fixas (é o caso das PPP nas autoestradas), atrasos de construção, impactos ambientais e escasso retorno económico e social. É bom que tudo isto não se repita nas próximas grandes obras públicas, sob pena de comprometermos a sustentabilidade orçamental e o desenvolvimento harmonioso do país..Não me vou pronunciar sobre a localização do novo aeroporto, matéria que, como a generalidade dos portugueses, não domino. Prefiro confiar na avaliação da Comissão Técnica Independente e na boa-fé do Governo. Em Alcochete ou noutra localização, o importante é que Portugal tenha uma infraestrutura aeroportuária de excelência, capaz de estimular o crescimento económico e de mitigar a posição periférica do país na Europa. .Considero, aliás, que a prioridade no que se refere ao investimento infraestrutural deve ir para projetos que reforcem a competitividade externa e facilitem as exportações, que são o grande motor da nossa economia. Ora, quer a alta velocidade quer o novo aeroporto favorecem a abertura económica, atraem investimento externo e turistas, melhoram as ligações com os mercados de destino e promovem a internacionalização das empresas. Resta esperar que os dois projetos sejam concretizados com eficiência, transparência e retorno.