A intenção de avançarem com uma nova ligação aérea para a ilha do Sal foi conhecida em maio. Na passada semana, dia 29 de outubro, decorreu o voo inaugural. Como foi este processo? Quando abrimos escritório em Portugal, há 12 anos, uma das ideias em carteira era voar para Cabo Verde mas na altura não foi possível. Há cerca de dois anos iniciou-se o projeto de concretização. Logicamente, tratando-se de um espaço fora da União Europeia, entrou em causa regras que têm a ver com os acordos entre os países. Tivemos que analisar o acordo bilateral [Portugal e Cabo Verde], cumprir todos os requisitos do mesmo e solucionar alguns entraves. A partir desse momento começámos a trabalhar para aquilo que agora se concretizou nas ligações aéreas da companhia com voos de Lisboa e do Porto. Antes disso logicamente fizemos uma análise do mercado e acreditamos que esta ligação será um êxito..Neste processo estiveram em diálogo permanente com o governo de Cabo Verde, presumo? Existe um acordo bilateral entre os ministérios de negócios estrangeiros dos dois países. Mas relembro que há situações diferentes como no caso de Marrocos, que também abrimos a ligação aérea recentemente. Existe um acordo bilateral entre o Reino de Marrocos e a União Europeia como um todo. No caso de Cabo Verde é diferente. Existe um acordo bilateral com Portugal que no futuro poderá evoluir para um acordo bilateral a nível comunitário. Como tal, a Easyjet foi designada como uma das companhias do lado português para operar para Cabo Verde, tal como a TAP. Existem outras, como a Cape Verde Airlines, designada pelo lado Cabo Verde. Neste acordo não existe uma limitação ao número de companhias designadas. Relembro que há outros mercados que não é assim, para a Tunisia por exemplo existem limitações e só pode existir uma companhia designada para cada lado (da União Europeia e da Tunísia)..Lançaram a ligação com a frequência de quatro voos semanais de Lisboa e dois do Porto. Como chegaram a esses números? Foi aquilo que nós, neste momento, achámos que seria a oferta adequada para o arranque da operação. Costumamos exemplificar com o se passou connosco na ilha da Madeira. Entrámos com uma capacidade menor e fomos crescendo até que hoje somos a companhia número 1 a operar no Aeroporto da Madeira, com 12 rotas, das quais 10 internacionais. Quando apostamos num mercado, neste caso Cabo Verde, acreditamos que tem potencial para crescer..Sendo que de início anunciaram 50 mil lugares para o inverno e agora anunciaram mais uns tantos para a época de verão. Sim, vamos estender esta operação para o verão também. E isso quer dizer que anualmente a nossa oferta entre Portugal e Cabo Verde será de cerca de 120 mil lugares anuais..E depois desse período terminar, avaliam se vale a pena continuar com a rota? Se estivermos satisfeitos iremos tomar decisões de manter ou aumentar a capacidade. Dependerá de existirem rotas e slots disponíveis. Estamos a falar de dois aeroportos, Lisboa e Porto, que neste momento estão completamente congestionados. Contudo, conseguimos fazer uma gestão de slots e tirar de um mercado para outro. Mas respondendo, no final de cada temporada fazemos sempre uma análise da operação e ajustamo-la para a temporada seguinte. No plano que temos para os próximos cincos anos, Cabo Verde tem um papel relevante..E qual foi o cálculo feito para chegar aos preços dos bilhetes para o Sal que serão abaixo do que a concorrência pratica...pelo menos por enquanto? Quando fazemos um businessplan de uma operação sabemos quais são os custos operacionais, sabemos os nossos próprios custos. Esses incluem os custos aeroportuários dos dois lados, os custos com a utilização da tripulação, com a utilização de aeronaves, os custos com a navegação de espaço aéreo, isto e o combustível são os principais custos. Depois fazemos o cálculo da receita. Exige-se isso a uma companhia cotada em bolsa como a nossa, não somos propriamente uma empresa que se possa dar ao luxo de ter rotas deficitárias, e nosso objetivo é sempre dar um retorno ao acionista que investiu em nós. Faz parte do nosso ADN ter uma base de custos extremamente controlada e temos um trabalho diário para controlar os custos, é um negócio com uma margem limitada, mas com volume, porque a aviação é um negócio de volume, E isso permite-nos satisfazer os clientes com preços que são atrativos e manter o nosso ADN desde o primeiro dia. Em 2025 faz 30 anos que abrimos a primeira rota entre Londres e Edimburgo ao preço de um par de jeans, a 60 libras, hoje em dia os jeans são mais caros que algumas viagens. Em relação a esta nova ligação posso dizer taxativamente que viemos democratizar as passagens aéreas entre Portugal e Cabo Verde, que tinham preços proibitivos..Em quanto reduziram o preço dos bilhetes para acontecer essa “democratização”? Se olharmos para as tarifas máximas à venda, as pessoas estão a poupar dois terços do que costumavam pagar antigamente pelos voo para Cabo Verde, e isso no mínimo. Quando comparamos, mesmo com os preços atuais da concorrência, abre-se aqui uma janela da oportunidade não só para muitos portugueses. Existe uma grande diáspora de Cabo Verde em toda a Europa e com estes preços,vamos aproximar essas famílias, não só desses cabo-verdianos que vivem na Europa mas também para serem visitados por quem vive em Cabo Verde..Qual foi o investimento que fizeram, no total, para servir esta nova operação? Nós não adiantamos números, mas aquilo que podemos explicar é que trouxemos três aviões Airbus 320 Neo para Lisboa e dois para o Porto. E ainda existe um sexto avião que tem por base Milão, que faz a rotação para a manutenção. Existiu também a necessidade de ter um sistema de comunicação de satélites para que os aviões de Portugal para Cabo Verde possam voar em mar aberto. E estas aeronaves têm menos 25% de consumo que outras da Airbus e menos 50% do nível de ruído. .Quantos empregos foram criados em Cabo Verde? Em termos de criação de emprego indireto será bastante positivo para a economia do Cabo Verde e em termos de entrada de divisas também. E é importante que Cabo Verde esteja no mapa da Easyjet, a terceira maior companhia europeia..E em Portugal? Esta operação faz parte da reestruturação para a época de inverno. Não existindo slots neste momento disponíveis em Lisboa e Porto, fizemos uma reestruturação e trocámos os slots de forma a abrir espaço para poder incorporar. Ou seja, não criámos empregos diretos, porque neste momento não existe uma possibilidade de crescer, senão sim, teria havido capacidade adicional. Mesmo não havendo mais slots conseguimos crescer 6% a nível de capacidade em Lisboa, este ano vamos crescer cerca de 2% a nível de lugares.