Von der Leyen: Maria Luís “combina tudo” e “será vital” em pasta financeira

À esquerda, eurodeputados sublinham possíveis “conflitos de interesses” da comissária portuguesa. À direita, elogiam nomeação para cargo de “grande relevância”. Conheça os 27 novos comissários.
Von der Leyen: Maria Luís “combina tudo” e “será vital” em pasta financeira
ALESSANDRO DELLA VALLE / POOL / AFP
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A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou esta terça-feira, em Estrasburgo, a composição do futuro colégio de comissários. A portuguesa Maria Luís Albuquerque fica com a pasta dos Serviços Financeiros e União de Poupanças e Investimentos. Von der Leyen considera que a portuguesa “será vital para fortalecer e completar a União dos Mercados de Capitais e garantir que o investimento privado impulsiona a nossa produtividade e inovação”. Durante a apresentação, a presidente do Executivo Comunitário elogiou a “vasta experiência” de Maria Luís Albuquerque, como ministra das Finanças, destacando “também uma enorme experiência no setor privado, ela combina tudo”.

Von der Leyen reconheceu que “é difícil no campo político” o papel que está a pedir à portuguesa, relativamente à capacidade de Maria Luís para convencer o Conselho a levar por diante a União dos Mercados de Capitais, um plano lançado há quase uma década. “Mas, a pressão está a aumentar (...), estamos a perder todos os anos 470 mil milhões de euros de investimento que não é realizado na União Europeia devido à falta de uma União dos Mercados de Capitais (...) e há uma enorme urgência agora para a concretizarmos”, sublinhou a chefe do Executivo Comunitário, para quem, Maria Luís “é absolutamente a pessoa certa, com um vasto conhecimento sobre este tema”.

A portuguesa será ouvida nas próximas semanas pela Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários, do Parlamento Europeu, onde os eurodeputados vão avaliar a sua idoneidade e competência para o cargo. Habitualmente, é aí que o Parlamento “gosta de mostrar o seu poder”, comentou uma fonte ao DN, antevendo que “normalmente, [os eurodeputados] não facilitam”.

É principalmente à esquerda que Maria Luís desperta mais crispação. A eurodeputada Catarina Martins (BE) expressa forte oposição à nomeação de Maria Luís Albuquerque, considerando que “existem claros conflitos de interesse” para desempenhar o cargo de comissária. A deputada afirma que Albuquerque “beneficiou o Sistema Financeiro durante o seu mandato como ministra e depois foi trabalhar para as empresas que favoreceram as suas decisões”. Por essa razão, promete fazer tudo para que o Parlamento Europeu rejeite a sua candidatura, considerando que se trata de uma nomeação “inaceitável para a União Europeia”.

O eurodeputado Paulo Cunha (PSD) vê a nomeação de Maria Luís Albuquerque como “uma vitória para Portugal e para a Europa”, elogiando “as suas credenciais e experiência financeira”. O partido acredita que a pasta atribuída “é de grande relevância”. Quanto às acusações de partidos sobre possíveis conflitos de interesse, o deputado diz-se confiante de que Maria Luís Albuquerque será capaz de passar pelo “escrutínio necessário sem problemas”.

A eurodeputada Marta Temido (PS) destacou a necessidade de se “completar a União Bancária e o Mercado de Capitais”, considerando importante a nomeação de Maria Luís. No entanto, Marta Temido expressou “preocupação com o histórico da ex-ministra”, cujas decisões anteriores “não foram vistas como um sucesso”. Além disso, a eurodeputada também levantou dúvidas quanto à “circunstância de haver uma aparente incapacidade de discernir conflitos de interesses” da parte de Maria Luís Albuquerque.

Já o eurodeputado João Cotrim de Figueiredo (IL) não vê razões para Maria Luís Albuquerque ser acusada de conflitos de interesse, principalmente tendo em conta a sua “experiência profissional”, em particular no setor financeiro. Nesse sentido, considera que o Governo fez “uma escolha forte” no contexto das Finanças Públicas. Cotrim de Figueiredo entende que Albuquer- que possui “instintos políticos alinhados com uma visão liberal, suficiente para garantir a confiança na sua nomeação”.

A eurodeputada Ana Pedro (CDS) expressou satisfação com a atribuição da pasta a Maria Luís Albuquerque, destacando a sua relevância e experiência como ex-ministra e ex-secretária do Tesouro durante o ajustamento financeiro de Portugal, “um dos períodos mais críticos da economia portuguesa”, que considera como um trunfo para lidar com questões como a transição digital e verde. Quanto às questões sobre conflitos de interesse que podem surgir durante as audições no Parlamento Europeu, Ana Pedro acredita que estas são “parte do processo natural de nomeação”.

O Chega reconhece “a competência de Maria Luís Albuquerque para desempenhar o cargo”, mas expressa preocupações sobre o impacto do caso TAP, que poderá “fragilizar a sua nomeação”.

O eurodeputado João Oliveira (PCP) expressou surpresa pela atribuição da pasta a Maria Luís Albuquerque, argumentando que a sua escolha “favorece o setor financeiro” e aprofunda “a centralização do capital na União Europeia”. Além disso, João Oliveira critica o envolvimento da ex-ministra em decisões políticas controversas, como o caso dos contratos swap  e a venda de ativos tóxicos. O PCP considera que a nomeação reflete “os interesses dos grandes grupos financeiros” e espera que o escrutínio no Parlamento Europeu “seja rigoroso”.

Quem é a nova Comissão Europeia?

Teresa Ribera (Espanha)
Vice-presidente executiva para uma Transição Limpa, Justa e Competitiva

A espanhola será responsável por garantir o cumprimento das metas do Green Deal e pela Concorrência.

Stéphane Séjourné (França)
Vice-presidente executivo para a Prosperidade e Estratégia Industrial

Terá sob a sua alçada a política Industrial, PME e Mercado Único, criando condições para as empresas “prosperarem”.

Raffaele Fitto (Itália)
Vice-presidente executivo para a Coesão e as Reformas

Von der Leyen está a contar com a sua “larga experiência”  para reforçar  a coesão. Fica com as políticas para o Desenvolvimento Regional e das Cidades.

Kaja Kallas (Estónia)
Alta Representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança e vice-presidente executiva

Ursula von der Leyen diz que conta com ela para tornar a política Externa e de Segurança “mais alinhada” com os interesses da UE.

Valdis Dombrovskis (Letónia)
Economia e a Produtividade

Desempenhará um duplo papel, além da Economia e Produtividade fica com a pasta da Implementação e Simplificação.

Henna Virkkunen (Finlândia)
Vice-presidente executiva para a Soberania Tecnológica, a Segurança e a Democracia

Uma pasta para “fortalecer as fundações da nossa democracia”, explicou Von der Leyen.

Roxana Mînzatu (Roménia)
Vice-presidente executiva para as Pessoas, as Competências e a Preparação

Será responsável pela qualidade do Emprego e Direitos Sociais para uma Europa coesa.

Marta Kos (Eslovénia)
Alargamento e Vizinhança Oriental

A líder da Comissão Europeia sublinhou que o nome indicado pela Eslovénia ainda terá de passar pelo Parlamento esloveno. Entre as suas funções, estará “apoiar a Ucrânia” e ajudar os países a preparem a entrada na UE.

Maroš Šefčovič (Eslováquia)
Comércio e a Segurança Económica

Trata-se de uma pasta “nova” sublinhou Von der Leyen, que inclui a política Aduaneira. Além disso, será responsável pelas Relações Interinstitucionais e Transparência.

Maria Luís Albuquerque (Portugal)
Serviços Financeiros e a União da Poupança e do Investimento

A pasta atribuída por Ursula von der Leyen a Portugal vai ao encontro do perfil profissional de Maria Luís Albuquerque, ligado à área financeira. A presidente da Comissão Europeia, na apresentação da equipa no Parlamento Europeu, disse que a pasta atribuída a Portugal “será vital para fortalecer e completar a União do Mercado de Capitais e garantir que o investimento privado impulsiona a nossa produtividade e inovação”.

Wopke Hoekstra (Países Baixos)
Clima, Zero Líquido e Crescimento Limpo

Será o comissário da Descarbonização, incluindo pela parte fiscal.

Andrius Kubilius (Lituânia)
Defesa e o Espaço

Trabalhará no desenvolvimento da União da Defesa Europeia, “impulsionando o nosso investimento e capacidade industrial”, disse Von der Leyen.

Olivér Várhely (Hungria)
Saúde e o Bem-Estar dos Animais

Terá a seu cargo a “construção da União da Saúde Europeia”, a Saúde Preventiva e a combate contra o cancro.

Hadja Lahbib (Bélgica)
Preparação e Gestão de Crises

Trata-se de uma pasta nova, para lidar com a “resiliência, preparação e proteção civil”, disse a líder da Comissão.

Dubravka Šuica (Croácia)
Mediterrâneo

Será uma nova área na Comissão e ficará responsável pelas fronteiras a sul, trabalhando em colaboração com Kaja Kallas.

Jozef Síkela (Chéquia)
Parcerias Internacionais

Fica responsável pela Estratégia Global Gateway, criada para promover o investimento a nível mundial, financiando projetos em várias partes do mundo.

Costas Kadis (Chipre)
Pescas e os Oceanos 

Von der Leyen diz que conta com o representante cipriota para criar o “primeiro Pacto Europeu para os Oceanos”.

Michael McGrath (Irlanda)
Democracia, a Justiça e o Estado de Direito

“Confiei-lhe a responsabilidade de avançar com o Escudo Europeu da Democracia”, disse Von der Leyen, tendo em vista combater a desinformação.

Piotr Serafin (Polónia)
Orçamento, Luta Antifraude e Administração Pública

A prioridade desta pasta, indicou Ursula von der Leyen, será “preparar o próximo Orçamento de longo prazo e garantir que temos uma instituição moderna”. 

Jessika Roswaal (Suécia)
Ambiente, a Resiliência da Água e uma Economia Circular Competitiva

Além da Economia Circular, a comissária sueca terá como missão trabalhar para garantir resiliência quanto à água, que Von de Leyen diz que será “a grande prioridade dos próximos anos”.

Glenn Micallef (Malta)
Equidade Intergeracional, Cultura, Juventude e Desporto

A missão desta pasta é atingir o “equilíbrio correto na sociedade”, entre novos e velhos, defende a líder da Comissão.

Magnus Brunner (Áustria)
Assuntos Internos e a Migração

A implementação do Pacto de Migração e Asilo será a prioridade, assim como “fortalecer as fronteiras e desenvolver uma nova estratégia de segurança interna”.

Dan Jørgensen (Dinamarca)
Energia e a Habitação

O objetivo deste lugar será fazer baixar o preço da energia e reduzir a dependência externa da UE neste campo. Será também, sublinhou Von der Leyen, o “primeiro comissário de sempre para a Habitação”.

Ekaterina Zaharieva (Bulgária)
Investigação e Inovação

Vai assegurar que a UE investe mais em Ciência e ajudar a “focar a despesa em prioridades estratégicas e inovação”.

Apostolos Tzitzikostas (Grécia)
Transportes Sustentáveis e o Turismo

O grego fica com a área da Mobilidade de pessoas e bens. “Setores essenciais para a nossa competitividade”, sublinhou a presidente da Comissão.

Christophe Hansen (Luxemburgo)
Agricultura e Alimentação

O luxemburguês tem de apresentar, nos primeiros 100 dias do seu mandato, uma”Visão para a Agricultura e Alimentação”, disse Von der Leyen.

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