
No final do mês passado, a Infraestruturas de Portugal (IP) lançou um estudo de procura de passageiros e uma análise custo-benefício na Linha do Vouga, a única linha em via estreita (carris separados por um metro) do país “considerando a componente intramodal” com a Linha do Norte e com três cenários: sem eletrificação, com eletrificação e ainda um terceiro “por definir”.
A IP finalmente revelou que o terceiro cenário inclui, por exemplo, “a ligação da Linha do Vouga à Linha do Norte, a partir da zona de Espinho, com a introdução de um serviço suburbano entre Oliveira de Azeméis e Porto-Campanhã”. Tal opção implica a mudança para a bitola ibérica do percurso da Linha do Vouga entre Oliveira de Azeméis e Porto-Campanhã, referiu a gestora da rede ferroviária nacional, em resposta, esta quarta-feira, ao Movimento Cívico pela Linha do Vouga. Os resultados dos documentos apenas serão conhecidos no final do próximo ano.
“Qualquer estudo que se faça neste momento, seja ele mais ou menos necessário, vai sempre atrasar o processo de modernização da linha, pois a IP e a tutela terão de esperar pelos resultados. Em consequência das conclusões desses resultados, poderão optar por um projeto de maior exigência técnica, que exigirá também mais tempo de execução”, avisa ao DN o Movimento Cívico pela Linha do Vouga, contestatário do cenário de mudança de bitola.
No consulado do PS, com Pedro Nuno Santos, de São João da Madeira, como ministro das Infraestruturas, ficou decidido que a linha seria totalmente modernizada embora mantendo a bitola métrica. No entanto, o cenário tem sido alterado desde a chegada do Governo de Luís Montenegro, de Espinho.
Em setembro, o Governo admitiu aos deputados do PS que a secção norte da Linha do Vouga, entre Oliveira de Azeméis e Espinho, poderia passar a ter ligação direta com a restante rede ferroviária nacional. O gabinete do ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, referiu: “Pretende-se estabelecer um entendimento sobre o desenvolvimento [do percurso] de forma concertada com todos os municípios e que vise potenciar a sua ligação ao núcleo central da Área Metropolitana do Porto”.
Esta ligação pode passar pela transformação da bitola métrica em bitola ibérica neste percurso, permitindo uma viagem direta de comboio entre Oliveira de Azeméis e o Porto. Também está a ser equacionado o regresso do comboio proveniente do Vouga à estação de Espinho - desde 2005 que os passageiros têm de fazer um percurso a pé de 500 metros entre o apeadeiro de Espinho-Vouga e a estação subterrânea, na Linha do Norte.
A opção, por outro lado, implicaria que a Linha do Vouga passasse a ter duas bitolas, pois o percurso entre Aveiro e Oliveira de Azeméis manteria a via métrica, o que permitiria conjugar o serviço de passageiros com o comboio turístico Vouguinha. O agora ministro da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, foi um dos principais defensores da alteração da bitola em debates ocorridos em 2022 e 2023.
O Governo chegou a prometer para outubro novidades sobre a Linha do Vouga mas, até agora, nada disse. O DN também não obteve qualquer resposta junto do gabinete de Miguel Pinto Luz em relação a esta matéria.
Por agora, a IP só se compromete com a conclusão das obras, em meados de 2025, que irão garantir a reabertura do troço central da Linha do Vouga, entre Oliveira de Azeméis e Sernada do Vouga - que não tem serviço de passageiros desde 2013 por conta do elevado estado de degradação. A renovação dos restantes percursos descarrilou: no Espinho-Feira, a obra terminará no início de 2026 e não no final de 2025; entre Águeda e Aveiro, as obras vão decorrer entre o segundo trimestre de 2025 e o terceiro trimestre de 2026. Para já, tudo em bitola métrica.