Bots, painéis flexíveis e calor industrial captam foco da EDP para marcar futuro

Energética está em busca de tecnologias disruptoras para o setor. Programas de inovação têm gerado milhões de euros em negócios para o grupo.
Bots, painéis flexíveis e calor industrial captam foco da EDP para marcar futuro
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Um sistema para armazenamento térmico de calor industrial, bots que centralizam e controlam a energia que cada eletrodoméstico da casa usa, painéis fotovoltaicos leves e moldáveis ou robots que limpam painéis solares são algumas das inovações identificadas pela EDP para o futuro do setor, estando a apoiar as provas de conceito de oito startups . Em caso de sucesso, a empresa ganha vantagens competitivas em futuros serviços e ofertas comerciais, ao mesmo tempo que contribui para a transição energética do setor.

A indiana Aegeus, a espanhola Build to Zero, a israelita Dustoss, as norte-americanas Latimer Controls, Molecule e Pegasus, a sul-africana Plentify e a germânica SunOyster foram as selecionadas para a fase final do programa de inovação aberta Energy Starter, entre 185 candidaturas. Aquelas oito apresentaram propostas para beneficiar empresas e famílias, sendo que na última semana iniciou-se a fase de co-desenvolvimento dos projetos-piloto que podem captar investimento direto da EDP. O DN assistiu ao bootcamp que decorreu entre os dias 3 e 5 deste mês.

“[Desde 2016], a EDP já apoiou mais de 143 startups  com realização de pilotos, que resultaram em 42 rollouts [lançamentos comerciais] com as nossas unidades de negócio, num total de 82 milhões de euros de negócios gerados”, afirma Tomás Moreno, diretor do ecossistema de inovação da EDP.

O Energy Starter, que já vai na 8.ª edição, é um dos muitos programas que a empresa tem para, na senda da transição energética, apoiar a inovação no setor e identificar oportunidades de negócio para futuros serviços, que possam ser integrados nas operações da EDP ou representem um potencial retorno financeiro consoante o investimento feito.

Segundo Tomás Moreno, que cita dados de um estudo da McKinsey, 30% das tecnologias que vão cumprir as metas de descarbonização ainda não existem. “Estamos focados nos 70%, porque aqueles 30% ainda estão em laboratório, nas universidades, a serem descobertos. Aqui, estamos interessados em áreas como automação, robótica, mobilidade, mas o convite que fazemos dá abertura para as startups  apresentarem coisas totalmente novas, e aí já entramos um pouco naqueles 30%”, conta o gestor, notando que a iniciativa em causa é mais para “ajudar a desenvolver negócio do que para acelerar”. “Vamos buscar startups  para trabalharem connosco e não para demonstrações”, adianta.

O referido estudo indica que há 15 macrotecnologias identificadas para a transição energética. Não quer dizer que estejam prontas, mas já haverá algo a apresentar. O que a EDP pretende com as oito finalistas é “validar a tecnologia e, em caso de sucesso da prova de conceito, fazer um rollout comercial”. O lançamento comercial pode surgir integrado nas ofertas da empresa ou apenas em áreas específicas da cadeia de valor do setor da energia.

“O objetivo agora é delinear um piloto com as oito finalistas, até porque estas empresas já estarão prontas a implementar algo”, explica Tomás Moreno.

As inovações a testar

E o que vai apoiar a EDP nos próximos tempos? A Aegus criou um sistema robótico automatizado de limpeza de painéis solares, sem ser necessário utilizar água. A Dustoss desenvolveu faixas aerodinâmicas para limpeza e prevenção de poeira e sujidade nos painéis solares, enquanto a Latimer Controls criou um software  para operar ativos solares de forma flexível. A Molecule, por sua vez, tem uma plataforma que otimiza a gestão do comércio de commodities  e a Pegasus um sistema inovador de montagem de painéis solares. São seis casos que precisam de ser validados e encontrar forma de implementação comercial. Mas há ainda outros três que se destacam.

A alemã SunOyster criou um painel fotovoltaico leve e moldável à superfície dos telhados. “São módulos flexíveis ou semiflexíveis, que também podem ser ajustados em telhados um pouco redondos”, conta o fundador da startup, Carsten Corino. A ideia surgiu porque em terras germânicas “cerca de 50% dos telhados, o que equivale a 1,2 mil milhões de metros quadrados”, precisam de infraestrutura flexível para instalar painéis solares.

“[Com a EDP], o objetivo é começar com um projeto-piloto e ir aumentando a escala. Já há um local identificado com painéis leves e flexíveis instalados. [Esta solução], em comparação com os preços comerciais praticados, pode poupar até 100 mil euros e evitar a emissão de 380 toneladas de dióxido de carbono, durante toda a vida útil do painel”, conta.

A sul-africana Plentify desenvolveu bots, que podem ser descritos como um sistema de caixas inteligentes (uma por cada divisão), para gerir a energia usada pelos eletrodomésticos de casa.

“Estamos a tentar resolver o desfasamento que existe entre o momento em que a energia renovável é produzida e o momento em que é necessária. Por exemplo, a energia solar é produzida a meio do dia, mas a maior procura ocorre de manhã e à noite. Queremos deslocar a procura dos eletrodomésticos por energia , que representa 70% da procura doméstica. É possível deslocar a procura das horas de ponta para as horas de produção solar. Se o fizermos corretamente, podemos resolver este problema a um preço 75% mais barato face ao uso de baterias”, explica o cofundador Kailas Nair.

Os referidos bots  vão indicar aos aparelhos quando estes devem estar ligados e quais fontes de energia renovável, sendo que as casas terão de ter acesso a sistemas de energia limpa, como painéis solares. Com o tempo, Nair diz que será possível controlar sistemas de aquecimento/arrefecimento central ou tomadas domésticas para carregamentos de veículos elétricos.

A Build to Zero, por sua vez, desenvolveu um sistema de armazenamento térmico para eletrificação de calor industrial. “Os esforços anteriores [do setor] foca- ram-se na descarbonização da produção de eletricidade. Agora que já há muitos ativos renováveis implementados e a serem implementados é altura de utilizar a eletricidade renovável para descarbonizar processos industriais que ainda libertam gases fósseis”, afirma Miguel Méndez Trigo, CEO da startup  espanhola. Ou seja, o objetivo é usar o calor gerado por cada processo industrial e reutilizá-lo como energia térmica renovável.

O gestor garante que a “tecnologia está madura e que tem sido utilizada há muitos anos no solar”. “Este programa [da EDP] permite-nos definir um piloto para implementar a tecnologia à escala comercial”, conclui, indicando que, no futuro, a EDP poderá usar esta solução “para fornecer a eletricidade que necessitam e utilizar a nossa tecnologia para fornecer calor limpo à indústria”.

Validar, implementar e escalar

Feito o bootcamp  e identificada a metodologia a seguir, a EDP e as oito finalistas vão perceber agora como funcionam aquelas inovações em ambiente real. O Energy Starter dura cerca de 14 meses, segundo Tomás Moreno, procurando acompanhar todos os processos. O diálogo com aquelas oito startups já leva meses, mas agora o contacto é presencial para cumprir o ciclo normal - oportunidade identificada, validação, implementação e dar escala à oferta.

“Observamos mais de 2000 startups por ano e é um grande sucesso quando encontramos valor num piloto e criamos valor para a empresa ou para o setor”, diz. E se correr mal? “O falhanço é bem-vindo, tem é de ser rápido e barato”, responde, explicando que o custo de um piloto “é relativamente baixo” e que o papel da energética em projetos de coinovação é “mitigar os erros”. “Se nunca falharmos não estamos a inovar o suficiente”, comenta.

E a concorrência como fica? “Acredito que estas empresas queiram chegar ao mercado todo e não ficar apenas a fornecer um player. Há espaço para isso. Nós vamos buscar soluções inovadores quando muitos não estão a integrar nada - dá-nos vantagem no mercado. Numa fase de rollout  podem surgir premissas comerciais, que são negociadas caso a caso se houver interesse, e sempre com o objetivo de não asfixiar a startup. Depois, quando a startup vender a outros, podemos ter aí um benefício financeiro”, explica o diretor do ecossistema de inovação da EDP.

Outro cenário passa pela EDP Ventures, embora o foco do fundo de investimento da energética esteja nas startups em early stage [estágios iniciais do negócio]. “A EDP Ventures já investiu 75 milhões de euros em mais de 50 startups/scaleups  em 11 geografias. Os contratos assinados valem mais de 116 milhões para a EDP”, conclui.

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