A Carmo Wood, empresa especializada em trabalhar a madeira, quer ser parte da solução para resolver a grave falta de casas no país. E, para isso, desenvolveu soluções habitacionais de construção rápida, sustentável e com preços para diferentes carteiras. A matéria-prima primordial é - como não podia deixar de ser - a madeira. Junta-se-lhe mais de quatro décadas de conhecimento, uma equipa técnica especializada, uma cadeia de quatro unidades fabris (que a qualquer momento pode aumentar) e um portefólio reconhecido nos mercados nacional e internacional e a receita está pronta. À frente deste desafio está João Figueiredo.O atual CEO da área de Engenharia e Construção do grupo está convicto de que as casas de madeira da Carmo Wood podem ser uma resposta “à crise de habitação brutal” que se vive em Portugal. João Figueiredo diz mesmo que, em muitas situações, é já “uma crise do foro psicológico”, com pessoas forçadas a coabitar no mesmo espaço por falta de alternativas. A Carmo Wood tem, atualmente, quatro soluções de casas para oferecer ao mercado. A experiência na construção destas residências está comprovada no seu portefólio. Em Portugal, tem montras de luxo na Comporta, Óbidos e Albufeira.A Nature Home é o modelo que João Figueiredo considera estar mais adaptado às necessidades das famílias. É uma moradia construída em fábrica num prazo de quatro a cinco meses, e montada no terreno em 48 horas. É uma solução com resposta quase imediata, com critérios de sustentabilidade e design, garante. E que só possível porque a fábrica pode trabalhar com três turnos, um ritmo bem diferente da jornada numa construção tradicional, que está limitada a oito horas.A Carmo Wood está preparada para construir este modelo com uma dimensão mínima de 80 metros quadrados (m2) e máxima de 180m2. Segundo o gestor, o preço é da ordem dos 1650 euros/m2. Uma residência de 100m2 fica, assim, por cerca de 165 mil euros.A Carmo Wood tem uma solução mais económica, onde o preço de um T2 pode rondar os 49 mil euros. Chama-se BlockHouses e pode ser fabricada em apenas dois meses. Sempre com a madeira como matéria-prima, material que agrega qualidades acústicas e térmicas, este modelo já foi requisitado para a expansão de um lar de idosos. Segundo João Figueiredo, o grupo esteve todo o ano de 2024 a preparar a cadeia logística para a construção destas casas e já garantiu uma carteira de 60 unidades para entrega em 2025. “Foi um sucesso”, resume.No início foi o luxoCom experiência comprovada na construção de casas de madeira de luxo, o grupo tem também no seu portfólio os modelos Green Vila e Golden Vila, cujos preços já não são para todas as carteiras. Estas moradias, instaladas em vários países da Europa, permitem uma construção à medida. Nestes modelos, o projeto é de arquiteto e a equipa de engenharia da Carmo Wood, especializada em cálculo, assegura a transposição do desenho para a construção modular em madeira. O preço mínimo ronda os 250 mil euros e pode escalar até aos dois milhões. Segundo João Figueiredo, todos os anos a empresa faz entre 20 a 30 destas casas.O gestor considera que as casas de madeira da Carmo Wood “vão ser o segmento mais falado nos próximos tempos”. A possibilidade de reclassificação dos solos rústicos em urbanos que o Governo abriu recentemente, a falta de mão de obra no setor da construção para dar resposta à escassez de habitações no país e as grandes construtoras, que não estão preocupadas com o cliente final, são motores para o desenvolvimento deste negócio, acredita. Mas, para resolver o problema da habitação, João Figueiredo defende a aceleração do simplex urbanístico - no caso das casas de madeira, a construção é mais rápida do que o licenciamento -, uma educação da população para os novos métodos construtivos e apoios às soluções industrializadas. De outra forma, “só se resolve o problema da habitação daqui a mais de 10 anos”, avisa.Segundo João Figueiredo, a Carmo Wood está até preparada para acelerar a produção. No ano passado, “fizemos um investimento em robots e maquinação em madeira de três milhões de euros”, avança. Agora, é o momento de sentir “a tração” dos produtos. De acordo com a resposta do mercado, o grupo irá apostar no reforço da capacidade produtiva. Como revela: “Temos um plano montado para investir entre 1,5 milhões e cinco milhões de euros em 2026.”O betão do futuroA Carmo Wood utiliza diversos tipos de madeira nos diferentes projetos em que está envolvida. Uma das grandes apostas está na CLT (Cross Laminated Timber), material em madeira que substitui o aço e outras matérias-primas, e que é já considerado o betão do futuro. E tem aplicado este material na construção de edifícios em altura. A nova residência de estudantes do Ave Park, em Guimarães, é exemplo disso. O edifício tem três pisos, que albergam quartos individuais, duplos, estúdios e apartamentos de diferentes tipologias, além de espaços comuns para convívio e lazer, e foi construído em sete meses. Também a Redbridge School, em Lisboa, o mais alto edifício do país construído maioritariamente em madeira, foi uma obra da Carmo Wood com recurso a CTL.Segundo João Figueiredo, o grupo está em vias de fechar uma parceria com uma empresa dos EUA para reforçar o conhecimento na construção de prédios em altura. O objetivo é ganhar escala em projetos de residências universitárias, unidades hoteleiras e edifícios de apartamentos. Neste momento, tem já em carteira duas obras em altura em Valência, Espanha, e em perspetiva outra no Algarve. João Figueiredo lembra que a Carmo Wood tem “a maior capacidade instalada da Península Ibérica” para fazer este tipo de obras, assim como pontes, passadiços, coberturas e grandes estruturas.Todos estes projetos têm a madeira como ponto fundamental. E é esse o material core do grupo há mais de quatro décadas.Como frisa João Figueiredo, a génese da Carmo Wood é a compra da madeira em bruto, que depois é tratada e maquinada. A oferta estende-se a madeira termo-modificada, carbonizada do Japão, envelhecida, exóticas, entre outras, que depois são vendidas para empresas de construção e requalificação, retalhistas e cliente final. O stock permanente ascende a 20 mil metros cúbicos, sendo que o responsável assegura que toda a madeira adquirida é proveniente de florestas certificadas e geridas com regras.Com um vasto conhecimento num material tão versátil, a Carmo Wood estendeu a sua ação ao mobiliário de exterior, às fachadas e aos campings e glampings.Uma nova eraE é nestas seis áreas (madeira tratada, habitação, obras de engenharia de envergadura, mobiliário exterior, fachadas e campismo) que João Figueiredo quer colocar a Carmo Wood a crescer. Com a responsabilidade de gerir esta divisão do grupo desde o verão passado - a área agrícola ficou sob comando de Ricardo Diz -, decidiu “eliminar tudo o que não trazia valor acrescentado e só estava a ocupar espaço no catálogo”. Esta divisão do negócio “é a que tem claramente mais potencial de crescimento”, antevê.O novo foco tem todo o apoio dos acionistas, depois de o fundador do grupo, Jorge Milne e Carmo, ter decidido afastar-se da gestão da empresa. Milne e Carmo saiu no ano passado mas já em 2022 tinha aberto o capital à gestora de fundos de private equity e venture capital Iberis Capital, que tomou uma posição de 20% no grupo, em conjunto com um coinvestidor. O objetivo foi imprimir força no crescimento do negócio e na internacionalização.Como frisa João Figueiredo, a estratégia passa também por replicar em Portugal o que a Carmo Wood faz lá fora. Afinal, são mais de 40 mercados onde a empresa está presente com os seus produtos e construções. No ano passado, a Carmo Wood faturou 72 milhões de euros (não contabiliza a participada Gripple), com a Divisão de Engenharia a contribuir com 35 milhões. Para 2025, o objetivo é fechar acima dos 40 milhões, ombreando “taco a taco com a área da Agricultura, o motor da empresa”, diz.O crescimento terá também em conta os mercados externos, onde tem sido feito um esforço no reforço das equipas. O gestor pretende que a área Internacional, que no ano passado valeu 35% das vendas, seja superior à nacional.