Centro de engenharia da Bosch em Aveiro já emprega 540 pessoas e regista 77 patentes em dez anos

Centro de engenharia que a Bosch tem em Aveiro ganhou relevância na última década para responder às necessidades do mercado em diferentes geografias. Segundo Pedro Ribeiro, que lidera aquele polo de I&D, estão em curso 35 projetos que vão ter impacto em diferentes áreas.
Pedro Pinto, responsável pelo centro de engenharia da Bosch de Aveiro. Foto: Carlos Pimentel
Pedro Pinto, responsável pelo centro de engenharia da Bosch de Aveiro. Foto: Carlos Pimentel
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O grupo alemão Bosch tem há décadas uma atividade robusta em Portugal. É uma das cinco maiores empresas exportadoras nacionais, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, sobretudo devido à operação desenvolvida na área da mobilidade, em Braga, mas não só. Em Cacia, localiza-se a Bosch Termotecnologia, uma das “joias” da multinacional em solo luso que é não só um dos maiores contribuidores da economia do distrito de Aveiro, como é também um centro de retenção do talento dos engenheiros formados na Universidade de Aveiro (e também pelas faculdades de Coimbra e do Porto). Um dos reflexos da retenção de talento é o sucesso do centro de engenharia daquela unidade industrial aveirense, que completa por estes dias dez anos de atividade.

Numa década, aquele centro de engenharia, que é apresentado ao Dinheiro Vivo como um dos polos de desenvolvimento e inovação da Bosch no país, o número de trabalhadores cresceu onze vezes e já foi responsável por 77 patentes, de acordo com Pedro Ribeiro, responsável pelo centro de engenharia da Bosch em Aveiro, que guiou o Dinheiro Vivo numa visita às instalações da unidade.

A Bosch chegou a Aveiro no final da década de 1980 do século XX, quando adquiriu a Vulcano Termodomésticos, onde já havia uma equipa com funções de inovação e desenvolvimento que o grupo de origem germânica aproveitou.

“Já existia o centro de competências de água quente, água sanitária, e há dez anos decidiu-se criar equipas em Aveiro, que nessa fase inicial faziam algumas tarefas para projetos de unidades no centro da Europa, por exemplo, para a Holanda e Alemanha. Éramos um braço [de engenharia] que estava em Aveiro, muito alavancada por uma tradição de desenvolvimento e inovação e na competência dos engenheiros”, recorda o responsável, que lidera aquele polo de Investigação e Desenvolvimento (I&D) desde 2017.

Com o tempo, a equipa inicial “mostrou competência à casa-mãe” e a “necessidade de acompanhar a evolução rápida do mercado” fez com que, logo em 2014, quando o centro de engenharia surgiu, se decidisse que passasse a “executar” projetos próprios em vez de contribuir para tarefas de outras unidades ou áreas de negócio.

“Hoje, temos aqui em Aveiro pessoas com responsabilidade por tudo em algumas áreas. Essa foi a grande conquista dos últimos dez anos, o que é estrategicamente bastante bom para nós. E isto foi tudo alavancado pela competência”, explica Pedro Ribeiro, que antes de liderar aquele centro em Aveiro, integrou e liderou centros de engenharia na Turquia, na China e Suécia, tanto para a inovação em caldeiras, como em bombas de calor.

No final de 2014, aquele polo de I&D contava com 48 profissionais, distribuídos por três equipas. Atualmente, conta com 540 talentos, distribuídos por 32 equipas, o que significa que o número de trabalhadores daquele centro cresceu 11 vezes em dez anos. Aliás, representa quase 35% do total das pessoas empregadas na Bosch Termotecnologia, em Aveiro (1555 no final de 2023).

Ao dia de hoje, o centro de engenharia instalado na Bosch de Aveiro desenvolve soluções nos segmentos home comfort, power tools e automotive aftermarket (pós-venda, que é, embora de forma independente, complementar ao trabalho desenvolvido pela Bosch de Braga). Aliás, dentro do segmento home comfort, “a equipa da área de águas sanitárias tem o controlo total em Aveiro”, ou seja, o centro de desenvolvimento de projetos nessa área está em Portugal, e a área de bombas de calor também está centralizada naquele centro de inovação de Aveiro “para o mercado do sul da Europa”.

O trabalho deste centro está ligado às unidades produzidas na fábrica de Aveiro? “Não totalmente. Alguns produtos desenvolvidos são produzidos nesta fábrica”, responde Pedro Ribeiro, explicando que “muitas das coisas feitas no centro não estão diretamente ligadas à fábrica”. “Podemos desenvolver para outras fábricas e para outras áreas de negócio”, realça.

O que explica a aposta da casa-mãe e o crescimento do centro de engenharia de Aveiro? Revelando que estão em curso naquele polo de I&D 35 projetos desenvolvidos em consórcio, de diferentes dimensões e em diferentes fases, para dar resposta a diferentes necessidades, o gestor aponta como primeiro motivo a proximidade à universidade. “A transferência do conhecimento da universidade para a empresa é crucial para fazer inovação. Eles têm o conhecimento puro e nós temos a necessidade de o ter”, diz, referindo que “cerca de 50% das pessoas que estão no centro [de engenharia] de Aveiro” vêm da universidade da capital de distrito, “mas também do Porto e de Coimbra”.

Depois, algo que considera “muito importante”, é que os projetos e a forma como a Bosch permite inovar cria um propósito. “Eles [os jovens engenheiros] têm um propósito, identificam-se com o produto. Estar a fazer uma linha código para um produto que desconhecem perde o propósito. Se tiver o contacto direto e vir a materialização do trabalho há um propósito”, garante, realçando que isso “é fundamental” para reter talento.

“Em Portugal, temos o privilégio de ter talento com capacidade criativa e competência, o que faz a diferença. Liderei equipas de engenharia em vários países e nós, portugueses, fazemos a diferença pela qualidade das pessoas. É isso que realço como grande vantagem na nossa unidade”, afirma.

Das mais de três dezenas de projetos de I&D em curso naquele centro de engenharia, Pedro Ribeiro destaca o desenvolvimento de uma linha de produção completa para “todos os mercados do sul da Europa, que será lançada no fim de 2025 e permitirá à Bosch posicionar-se de uma forma muito competitiva”.
No exercício relativo a 2023, a Bosch registou vendas de 2,1 mil milhões em Portugal, mais 1,7% comparativamente com o ano anterior. A maioria das vendas traduz-se em exportações. Até à publicação deste artigo não foi possível obter o valor das exportações com origem em Aveiro e no centro de engenharia da região, mas o grupo afiança que “mantém a sua posição como um dos maiores exportadores no país, com um nível de exportação superior a 97%, com mais de 50 países em todo o mundo a importar soluções produzidas em Aveiro, Braga e Ovar, e serviços prestados desde Lisboa para o mundo”.

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