Comércio internacional de mercadorias já está 10% acima dos níveis anteriores à pandemia

Fatores como o comércio online e atividade dos mercados emergentes explicam crescimento. Guerra na Ucrânia afeta perspetivas, mas não desacelera troca de mercadorias. Portugal continua a ter forte perfil importador, segundo o relatório "Trade Growth Atlas" da DHL, mas companhia germânica antevê oportunidades futuras.
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O comércio internacional de mercadorias já está 10% acima dos níveis registados anteriores à pandemia, conclui o relatório Trade Growth Atlas de 2022 da germânica DHL, divulgado esta quinta-feira em Bruxelas. O mesmo relatório antecipa, ainda, um "crescimento mais acelerado" na transação de mercadorias este ano e também em 2023, em comparação com a década anterior, apesar da guerra na Ucrânia.

"A pandemia de covid-19 não foi o grande revés para o comércio global que muitos esperavam. O comércio internacional de mercadorias subiu até 10% acima dos níveis pré-pandémicos, mesmo com o fornecimento de mercadorias a afunilar significativamente, o que restringiu ainda mais o crescimento", lê-se no relatório, cujos dados compilados reúne informação reportada até maio de 2022. Sem os constrangimentos identificados durante a pandemia, a troca de mercadorias poderia estar já 13% acima dos níveis anteriores à pandemia.

O crescimento na exportação e importação de mercadorias é justificado com o comércio eletrónico (e-commerce), cujas vendas "dispararam durante a pandemia". A previsão aponta para a "continuidade do forte crescimento do e-commerce", sobretudo o que envolve operações transfronteiriças.

De acordo com o CEO da DHL Express, John Pearson, que apresentou o Atlas produzido pela DHL, o e-commerce representava 300 mil milhões de dólares no comércio internacional de mercadorias em 2020. Agora, a previsão é que passe a representar perto de um bilião de dólares até 2030.

Andrew Wilson, global policy director da Câmara Internacional do Comércio (ICC, sigla anglo-saxónica), que também usou da palavra na divulgação do Atlas da DHL, admitiu também que o e-commerce continuará a ser um dos "motores" desta indústria.

Além do e-commerce, novos polos de crescimento para o comércio de mercadorias foram identificados, nomeadamente o Sudeste e Sul da Ásia e a África Subsaariana. Aliás, o relatório Trade Growth Atlas de 2022 da DHL antecipa que a troca de mercadorias "deverá crescer mais rápido em 2022 e 2023 do que nos dez anos anteriores", apesar da guerra na Ucrânia (que obrigou a rever em baixa as perspetivas de crescimento). Como? Através da evolução do e-commerce, que se soma à previsão de que "as exportações da África Subsariana deverão acelerar significativamente". Acresce o fator China, que até hoje representa "um quarto do crescimento do comércio de mercadorias nos últimos anos e prevê-se que continue a ter o maior crescimento, embora a sua quota provavelmente caia para 13% [atualmente é 26%]".

Quanto a perspetivas futuras, a análise da DHL aponta, ainda, para países como Vietname, Índia e Filipinas, que vão destacar-se na escala do crescimento comercial esperado até 2026. "Estes três [países] têm potencial para beneficiar dos esforços de muitas empresas em diversificar as estratégias de produção e fornecimento [que hoje estão] centradas na China."

"Embora as economias emergentes tenham aumentado as suas quotas no comércio mundial, de 24% para 40% entre 2000 e 2012, com metade do aumento impulsionado apenas pela China, essas quotas pouco mudaram na última década", lê-se. Para os próximos quatro, cinco anos, as coisas poderão mudar um pouco, segundo a análise da DHL.

Atualmente, os países que mais viram o comércio de mercadorias transfronteiriço crescer foram Líbia, Guiana, Vietname, Brunei e Ucrânia. Quanto à Ucrânia, a análise da DHL assume, contudo, a incerteza para o futuro deste mercado devido à guerra. Os mercados de maior escala encontram-se hoje na China, Estados Unidos, Alemanha, Vietname e Holanda.

Steven Altman, coordenador do Atlas e diretor da DHL Initiative on Globalization no NYU Stern"s Center for the Future of Management, explicou que os resultados "mostram como ainda existem grandes oportunidades de crescimento comercial tanto nas economias avançadas como nas emergentes". Sobre este ponto, Andrew Wilson, da ICC; admitiu ter ficado surpreso com a "fragilidade" dos mercados da América do Sul no comércio internacional de mercadorias.

Agora, "o cenário comercial está a mudar, apresentando novos desafios. No entanto, este relatório refuta fortemente as previsões de um grande recuo do comércio global", segundo Steven Altman.

"O comércio continuará a ser um motor essencial da prosperidade - como tem sido há séculos", complementou o CEO da DHL Express. Todavia, o futuro dependerá, sobretudo, da "evolução da inflação, dos preços da energia, guerra na Ucrânia e dos confinamentos que ainda ocorrem, sobretudo na China", de acordo com o gestor.

Durante a apresentação do estudo, John Pearson referiu de facto o caso de Portugal, apontando o país como um mercado que representa hoje uma janela de oportunidades futuras para a dinâmica do mercado internacional de mercadorias.

Não obstante, de acordo com a análise da DHL, Portugal continua a ter um forte perfil importador. No último ano, Portugal foi o 42.º país com maior valor comercial (172,6 mil milhões de dólares, ou 173 mil milhões de euros). O valor comercial das exportações ascendeu a 75,1 mil milhões de dólares (75,3 mil milhões de euros), enquanto o valor comercial das importações foi de 97,5 mil milhões de dólares (quase 98 mil milhões de euros).

Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e EUA são os principais mercados de exportação e representaram mais de 60% das mercadorias exportadas. Do lado das importações, Espanha, Alemanha, França, Itália e Holanda são os principais mercados fornecedores de Portugal, representando mais de 63% das mercadorias importadas.

O novo Trade Growth Atlas da DHL analisou as tendências e perspetivas mais significativas no comércio internacional de mercadorias, um estudo que abrangeu 173 países (representam 99% do comércio, do PIB e da população mundial).

Este relatório é uma afirmação do poderio da DHL no universo da logística e do comércio internacional, mas também tem o objetivo de apresentar a companhia alemã como um referencial nos exercícios de prospetiva do comércio internacional.

*O jornalista viajou até Bruxelas a convite da DHL

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