
A empresa de telecomunicações de origem romena Digi vai comprar a Nowo por 150 milhões de euros, foi esta sexta-feira anunciado. O negócio surge depois de a Autoridade da Concorrência (AdC) ter chumbado a aquisição da Nowo pela Vodafone Portugal e após uma tentativa de compra por parte da Media Capital.
Em comunicado, a Digi fez saber que celebrou um contrato de compra e venda com a Lorca JVCO Limited "para aquisição de 100% das ações da Cabonitel S.A", holding que controla a Nowo, "no valor de 150 milhões de euros". A Lorca JVCO Limited controla a MásMóvil e, através desta, 50% da MásOrange, telecom que surgiu da fusão da MásMóvil com a Orange em Espanha.
O negócio ainda está dependente de aprovação regulatória, com a Digi a admitir o surgimento de "eventos contigentes" para a operação ter luz verde. A empresa romena não adianta uma previsão para ter o transação concluída.
Se a compra da Nowo pela Digi for aprovada, o operador de origem romena, que também opera em Espanha, vai absorver cerca de 270 mil clientes no serviço móvel e cerca de 130 mil clientes nos serviços de telecomunicações fixos. Estão também dentro deste acordo as licenças que a Nowo adquiriu no leilão do 5G, em 2021, nas faixas dos 1.800 MHz, 2.600 MHz e 3.600 MHz, por 70,2 milhões de euros.
Para a Digi, cuja entrada no mercado poderá levar a uma redução dos preços nas telecomunicações até 7%, a compra da Nowo vai consolidar os serviços da telecom romena no país. As ofertas do operador com sede em Bucareste deverão incluir internet de banda larga fixa e móvel, em rede 4G e 5G, e também televisão por subscrição. Ou seja, a Digi pretende lançar ofertas fixas, móveis e convergentes (serviços em pacote). Contudo, a empresa tem enfrentado resistência no setor, sobretudo em acordos com os principais grupos de media. A compra da Nowo, que tem contratos de distribuição com os principais canais de televisão, poderá ser a forma ideal para contornar obstáculos.
Acresce que os planos da Digi para a construção de rede móvel e fixa própria, que incluem acordos de instalação de antenas 5G com o operador de torres de telecomunicações Cellnex, leverão tempo até ficarem totalmente concluídos e o plano inicial do operador não previligia as zonas onde a Nowo opera, de acordo com a decisão pública da AdC sobre a operação de concentração da Nowo pela Vodafone. A Nowo tem uma rede terrestre híbrida (cabo e fibra ótica) que serve cerca de 900 mil casas e uma outra rede de fibra ótica que liga 150 mil alojamentos - ativos que também passam para a Digi se o negócio tiver o 'ok' da AdC.
A Digi, que investiu mais de 67 milhões de euros no leilão do 5G, tem de lançar serviços até ao final do ano, mas as primeiras ofertas deverão ser lançadas até novembro.
Negócio acaba com a incerteza em torno da Nowo
A Nowo, que emprega direta e indiretamente cerca de 500 trabalhadores, é considerado o quarto operador de telecomunicações do mercado nacional com uma quota de mercado que não supera os 3%. Esta telecom, que já esteve nas mãos da Altice Portugal entre 2012 e 2015, não oferece serviços em todo o território nacional e desenvolve atividade enquanto operador móvel virtual, ou seja, paga para utilizar a rede de telecomunicações de outro operador (neste caso da Altice Portugal) para fornecer serviços fixos e móveis. Com o leilão do 5G, as coisas poderiam mudar. Três anos antes a Nowo tinha sido adquirida pela espanhola MásMóvil, que ambicionava alargar a atividade a Portugal, e o leilão de frequências permitia à antiga Cabovisão passar a ter rede móvel própria e desenvolver serviços em todo o território nacional. Contudo, com a participação da Digi no leilão, além de alterações no mercado espanhol, a MásMóvil desistiu de investir no mercado português e colocou a Nowo à venda.
Em setembro de 2022, quase um ano após o leilão do 5G e na sequência de uma "guerra de argumentos" no setor sobre quantos operadores poderia o mercado nacional suportar (houve seis empresas licitantes no leilão), a Vodafone chegou a acordo com a dona da MásMóvil para adquirir a Nowo. Mas um ano e meio depois de uma investigação aprofundada e da apresentação de medidas corretivas pela Vodafone, para mitigar eventuais entraves à concorrência, incluindo cedência de espetro e abertura da rede de fibra ótica à Digi, a Autoridade da Concorrência chumbou o negócio.
Com o chumbo regulatório o futuro da Nowo ficou causa, uma vez que os investidores espanhóis não querem colocar mais dinheiro na empresa e porque o prazo para lançar rede própria e serviços 5G, tendo licenças adquiridas por mais de 70 milhões de euros, termina este ano. Aliás, no final de julho, a Nowo pediu à Anacom o alargamento do prazo para lançar rede própria e respetivas ofertas. O regulador aceitou prolongar o prazo até 31 de dezembro de 2025, estando o sentido provável de decisão em consulta pública.
Apesar da incerteza não demorou a surgir alternativas no setor. Primeiro, apareceu a Media Capital logo após a saída de cena da Vodafone. A dona da TVI e CNN Portugal chegou a ter tudo preparado para celebrar um acordo de compra com o acionista da Nowo, mas, de acordo com o Eco, a JVCO Limited rasgou o acordou na última hora. E esta sexta-feira, antes do anúncio do acordo entre a empresa romena e os donos da Nowo, o Jornal de Negócios noticiava que a Digi já tinha sinalizado à AdC interesse em comprar a antiga Cabovisão. A manifestação de interesse acabou por se materializar num acordo assinado.