"Eu acho que não vale a pena ter / Ido ao Oriente e visto a Índia e a China. / A terra é semelhante e pequenina / E há só uma maneira de viver", escreveu Álvaro de Campos. Às vezes os poetas não devem ser tomados demasiado à letra: nenhum rumo é tão fascinante como o que nos conduz ao Oriente. E, a oriente, nenhuma urbe rivaliza com o fascínio de Hong Kong. O território, que já foi possessão britânica e em 1997 reverteu para a soberania chinesa, é uma janela aberta sobre o globo. Nele se cruzam viajantes de todas as rotas, partilhando idiomas, crenças e sonhos. Certas cidades têm vocação para capitais do mundo. Esta é uma delas.
Hong Kong (que significa "porto perfumado") é um território de mil quilómetros quadrados composto por uma faixa continental (Kowloon e Novos Territórios) e um arquipélago de 235 ilhas - entre elas Lantau, onde se situa o aeroporto internacional, Cheung Chau, inconfundível paradeiro de pescadores, e Lamma, famosa pelas suas esplanadas onde se serve excelente peixe e marisco. Mas a mais deslumbrante de todas as ilhas é mesmo a que dá nome ao território.
Com o seu jogo de contrastes, Hong Kong tem múltiplos atractivos. É uma tentação para quem gosta de compras - das lojas de marca em Central ou Wanchai ao pitoresco comércio de rua em Causeway Bay. É uma interminável girândola de diversões - dos night clubs para todos os gostos ao inigualável Ocean Park, o maior parque de diversões ao ar livre existente no planeta. É também um verdadeiro paraíso gastronómico, acolhendo restaurantes de todos os quadrantes - dos barbecues mongóis ou coreanos aos tandooris indianos ou nepaleses, passando por genuína comida de pub, bistrot ou trattoria, confeccionada por chefes qualificados. E sobretudo por todas as variantes regionais da fabulosa gastronomia chinesa, que nada tem a ver com o intragável porco doce ou o incaracterístico chap soy mastigados nos duvidosos restaurantes de "comida chinesa" existentes em cada recanto de Portugal.
Mas o melhor de Hong Kong são os passeios. Dentro do secular elevador que nos conduz ao ponto mais elevado da ilha - o Pico, de onde se avista um magnífico panorama da costa do Sul da China e das ilhas que se sucedem na direcção de Macau. Ou a bordo do "cacilheiro" lá do sítio - o Star Ferry, que une Hong Kong a Kowloon, propiciando excelentes recuerdos fotográficos aos forasteiros. Ou num dos confortáveis autocarros que dão a volta à ilha, com paragens inevitáveis no belo bairro residencial de Stanley, polvilhado de sumptuosas moradias, ou na praia de Repulse Bay, onde Jennifer Jones e William Holden protagonizaram uma cena inesquecível do filme A Colina da Saudade. Tendo em fundo a canção Love is a many splendoured thing. Um tema musical que jamais passará de moda em Hong Kong.