Timor

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A crise que se vive em Timor-Leste tem evoluído de forma preocupante para um ambiente golpista que pode vir a ter consequências trágicas. Para explicar a situação podem convergir múltiplos factores que é necessário descodificar e atacar com a maior urgência. Todavia, neste momento, a maior das emergências está em travar a espiral suicidária que atravessa a jovem democracia timorense. De preferência adoptando medidas que não venham elas próprias a agravar as feridas abertas em Díli.

Neste contexto, assume especial importância a rápida aprovação do envio de uma força multinacional que tenha a cobertura de uma decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Só assim uma força militar terá a necessária autoridade para actuar na estabilização do território sem correr o risco de poder ser vista como uma espécie de guarda pretoriana do Governo. Compreendem-se sobretudo as cautelas do Governo português nessa matéria, tendo em conta que uma força paramilitar como a GNR a actuar sob um comando local poderia sempre ser vista como um braço armado das autoridades de Díli. Num quadro de reposição da autoridade democrática isso seria possível, mas esse seria um acto irresponsável que só agravaria as possibilidades de promover uma rápida reconciliação das forças que se confrontam nas montanhas de Timor.

Um outro elemento decisivo para devolver a tranquilidade a Timor está no envolvimento de todas as forças democráticas e da Igreja no enfrentamento da crise. Não é esta a altura de gerir vinganças, de calculismos políticos ou de manobras tácticas. O que possa vir a correr mal não vai poupar ninguém num processo de responsabilização. Xanana Gusmão tem de pôr o seu prestígio nas ruas para evitar incompreensões populares. D. Basílio Nascimento tem de pôr a sua influência ao serviço da paz. Alkatiri tem de pôr a sua inteligência muito mais ao serviço da sua pátria, coisa que manifestamente não aconteceu quando instigou a votação de braço no ar no Congresso da Fretilin.

Só com o que cada uma destas e de outras personagens pode fazer pelo seu próprio país Timor conseguirá sair da actual situação. Se isso não acontecer regressarão certamente os anos de chumbo. Desta vez, sem invasor, mas abrindo caminho a uma guerra sanguinária entre irmãos. Não foi para isto que tantos lutaram, durante tanto tempo, vencendo tantas trevas e com tanto sangue derramado.

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