O regresso do diálogo Governo/PS

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1. O encontro entre Passos Coelho e António José Seguro é em si mesmo uma boa notícia. O Governo parecia ter-se esquecido da importância do consenso político com o Partido Socialista e do que ele significa a nível nacional e, até, europeu.

A vitória de Francois Hollande veio mudar a situação porque está já claro que o novo líder francês vai influenciar algumas mudanças nas políticas delineadas a partir de Berlim, mesmo que não na dimensão inicialmente pretendida.

Seguro apostou numa ligação a Hollande e ganhou espaço político; Pedro Passos Coelho percebeu que o movimento de fundo na Europa pelo "crescimento e emprego" vai acabar por fazer o seu caminho, ditar algumas políticas novas e não quer ficar de fora.

Tudo somado, com a possibilidade de um plano de contingência para a saída da Grécia da Zona Euro já em elaboração, voltou o diálogo entre os chefes de governo e da oposição em Portugal e ainda bem.

2. Fazer com que o País possa voltar a financiar-se nos mercados no final do próximo ano tem de ser um desígnio nacional, e o Governo está a perseguir esse caminho com uma determinação reconhecida pelo FMI e a União Europeia (UE).

O combate ao desemprego - que está a chegar aos 15% - tem de ser o outro desígnio, aconselha mais determinação política e autonomia de ideias ao nível da UE, e aí o secretário-geral do PS português tem marcado terreno com a sua convicção, que deve contagiar a atuação política do Governo no cenário internacional.

Aquilo que se pode fazer no domínio do crescimento económico e de mais emprego depende de recursos financeiros libertados pela UE. Não é possível a Portugal, ou a qualquer outro país, muito menos os que estão em dificuldades, fazê-lo por si só. Por isso, o Governo de Passos Coelho deve estar ao lado de quem defende essas novas políticas (neste caso o novo Presidente da França), e sem complexos pelo atual estatuto de país sujeito a ajuda externa.

3. Há todas as razões para que Passos Coelho e Seguro retomem este diálogo sem demasiados cálculos sobre quem ganha e quem perde.

Estamos num daqueles momentos em que o País merece estar acima da contabilidade permanente à volta de possíveis benefícios políticos imediatos.

Tempo haverá para isso.

Domar as finanças nacionais e cumprir os objetivos orçamentais assumidos perante os credores (algo que não vai ser fácil conseguir, apesar de tudo) é verdadeiramente essencial para o País e o PS projetou uma imagem de responsabilidade quando, há poucos dias, reafirmou o seu compromisso perante o memorando e declinou com firmeza qualquer visão demagógica que o pretendesse minimizar. Passar à fase seguinte, criar condições para o reanimar da economia e com isso escapar o mais depressa possível à recessão que já atingiu mesmo a Espanha, faz todo o sentido e o Governo deve abandonar a posição de aluno calado.

4. As consequências deste diálogo, disse Seguro, serão testadas nas votações da próxima semana no Parlamento. Com certeza, o secretário-geral do PS estará a querer significar que aquelas duas horas de diálogo, depois de dois meses de silêncio, só terão sentido se o ato adicional que o PS pretende juntar ao Pacto Orçamental europeu for finalmente aprovado, ou uma recomendação que se lhe assemelhe for referendada maioritariamente pelos deputados portugueses.

Este é um daqueles momentos em que todos podem sair a ganhar, sobretudo o Governo, se conseguirem unificar posições e materializar consensos.

Seria mau para o Executivo de Passos Coelho vir a beneficiar de novas políticas (vindas da Europa) sem que para isso tivesse feito, ou dito, o que quer que fosse publicamente...

O Facebook vale mais do que a McDonalds e a sua capitalização bolsista (cerca de 83 mil milhões de euros) ultrapassa a ajuda internacional a Portugal. É assim que o mundo nos informa de que está sempre a renovar-se e nos recorda que os pessimistas são sempre aqueles que ficaram para trás.

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