Farfetch já contratou 400 em Portugal em 2020. Trabalho remoto inclui app de saúde mental e consultas online

Empresa de José Neves líder nas vendas online de marcas de luxo continuou a contratar em Portugal durante a pandemia, já tem mais de dois mil colaboradores no país. Farfetch tem ainda lista de regalias e benefícios a pensar no trabalho remoto, que veio para ficar pelo menos de forma híbrida, diz-nos a vice-presidente de recursos humanos Ana Sousa.
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Como tecnológica em franca expansão que é, a Farfetch, empresa luso-britânica fundada e liderada José Neves e que é uma espécie de Amazon da moda de luxo, há muito que inclui um pacote de regalias para os seus funcionários, ou não fosse a atração de talento uma das prioridades de qualquer empresa que se distingue pela inovação. Com a pandemia e a necessidade de ter mais pessoas em trabalho remoto, a empresa criou mecanismos para dar apoio extra, incluindo o acesso global a uma app de serviços pagos de bem-estar e saúde mental, Unmind.

"Criámos diversas iniciativas de bem-estar, que vão desde aulas remotas a consultas médicas online", diz-nos Ana Sousa, vice-presidente de People Strategy da Farfetch, o primeiro "unicórnio" português (empresa com valor de mercado acima dos mil milhões de dólares). A empresa tem já mais de 4500 colaboradores em várias áreas do mundo, mais de dois mil estão em Portugal - a maioria nos escritórios de Leça do Balio.

Esse é um tema que José Neves, que criou recentemente uma fundação homónima que promete ajudar na educação de qualidade em Portugal, acarinha desde há muito. O mês passado, na apresentação dessa mesma instituição, o CEO da Farfetch entrevistou António Horta-Osório, CEO do Lloyds Bank, e ambos concordaram precisamente com a importância da saúde mental no mundo profissional e em como as suas empresas podem ajudar. No caso do português que lidera o maior banco inglês, a principal iniciativa foi disponibilizar aos 65 mil funcionários ferramentas de saúde mental que incluem webinares e grupos de WhatsApp dedicados ao tema.

Boa parte dos colaboradores da Farfetch estão neste momento em trabalho remoto, mas todos os escritórios estão abertos (à exceção de Lisboa) para quem queira lá trabalhar, até porque "muitos colaboradores queiram ter a possibilidade e trabalhar no escritório", embora cumprindo "regras de segurança exaustivas" que incluiu "um bot para assegurar uma gestão eficiente da capacidade". "Todos os colaboradores que podem trabalhar remotamente têm essa possibilidade a 100% pelo menos até ao fim do ano", explica Ana Sousa, que avança que o centro de Operações de Guimarães esteve sempre em funcionamento.

Algo que ajudou a Farfetch a adaptar-se aos novos tempos de trabalho remoto não como benefício, mas como necessidade, foi o foco já existente na flexibilidade do trabalho: "um valor fundamental para os nossos colaboradores". "Na Farfetch, chamamos-lhe Making Work, Work for You" e com a pandemia e os novos tempos "evoluímos até a nossa política de flexibilidade de longo prazo".

Apesar do período de disrupção criado pela pandemia, a empresa que completou este mês 12 anos, continuou a contratar e, só em Portugal, 2020 trouxe 400 novas contratações desde o início do ano até ao final de setembro. 70% dessas contratações foram já durante e após o confinamento - entre março e setembro. Não houve alterações em termos de estratégia de contratações, mas o clima de incerteza "leva a uma adaptação constante".

As áreas com mais contratações foram as de Operações e Tecnologia, embora tenham continuado a contratar em todas as áreas. "Estas contratações resultam de uma necessidade do negócio e não foram uma consequência da pandemia. Estes novos colaboradores fizeram a sua integração remotamente e essa foi uma das adaptações rápidas que fizemos", explica a responsável.

Ao contrário do que aconteceu há alguns anos, onde o forte crescimento da empresa trouxe centenas de novos colaboradores em poucos meses aos escritórios de Leça do Balio, agora "é natural que em algumas áreas o crescimento das equipas não seja elástico e diretamente proporcional ao contínuo crescimento do negócio".

Já sobre possíveis dificuldades de contratação nesta altura - com grande procura por talento tecnológico - "há áreas como é o caso de Data Science, em que a disponibilidade de talento não evolui ao ritmo da necessidade das empresas". "Independentemente disso a nossa procura por talento é global e prova disso é que quase 20% dos nossos colaboradores em Portugal têm nacionalidade estrangeira", indica Ana Sousa.

Embora a Farfetch já estivesse preparada para o trabalho remoto, sendo prática comum fornecer monitores, computadores e ligações VPN aos funcionários com práticas de segurança garantidas, Ana Sousa admite que por já não ser uma prática ocasional podem ser criados pacotes mais completos para o trabalho remoto que pode incluir mobiliário.

"Estamos a avaliar como é que poderemos apoiar as nossas pessoas para que outras condições de conforto e ergonomia sejam asseguradas, nomeadamente através de acesso a descontos em mobiliário mais ergonómico", admite.

A Farfetch já tinha várias dimensões do bem-estar dos colaboradores asseguradas, "mas a pandemia veio ajudar a acelerar alguns processos e ideias". "Aquilo de que estamos certos é que a flexibilidade no trabalho ajuda as nossas pessoas a promover um maior equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, e por isso preparámos já algumas alterações para entrar em vigor a partir do início de 2021", anuncia Ana a responsável de recursos humanos. Se nuns casos são medidas novas, noutras são ajustes às existentes. São elas:

1) "Vamos alargar o trabalho remoto. De uma forma geral, todos os colaboradores cujas funções permitem o trabalho remoto, poderão fazê-lo durante cerca de 60% do tempo";

2) "Vamos também possibilitar os pedidos de trabalho remoto a 100% por um período máximo de 6 meses";

3) "A mobilidade internacional também é possível. Podem surgir questões familiares que levam a pessoa a ter que mudar de país durante um determinado período balizado no tempo, por exemplo, e esse, só por si, não deve ser o motivo para se quebrar a ligação com o colaborador. Por outro lado, estamos a contribuir para o bem-estar e segurança psicológica dessa pessoa".

Ana Sousa resume depois a atualização de alguns benefícios pela qual a Farfetch também se tem tornado conhecida, que reproduzimos de seguida e que incluem saúde, bem-estar e flexibilidade. Iniciativas que se "destacam a nível internacional, mas sobretudo a nível nacional", numa abordagem que a responsável diz ser "muito inovadora". Segue a lista:

1) "Boomerang: o nosso programa de licenças sabáticas: dá acesso a uma licença sabática, que pode ir até 8 semanas, paga pela empresa. Podem beneficiar do Boomerang todos os colaboradores que estejam na empresa há pelo menos 5 anos consecutivos (renovando depois essa possibilidade a cada 5 anos). Na sociedade moderna, o tempo é de extremo valor. Com o Boomerang reconhecemos as pessoas que estão connosco há mais tempo, dando-lhes o que mais valorizam. Tempo de qualidade, para os seus sonhos e projetos pessoais";

2) "Em Portugal, todos os colaboradores têm direito a 3 dias extra, sem prejuízo de poderem ainda também acrescentar mais 3 dias, por escolha própria, como parte dos seus benefícios flexíveis - que passam também por opções em áreas como a saúde, educação/formação, planos PPR";

3) "Caring Days - 2 dias adicionais que podem ser usados para voluntariado ou simplesmente para as pessoas cuidarem de si ou de terceiros";

4) "Licença sem vencimento pelo período máximo de 1 mês (para colaboradores na empresa há mais de 3 anos)";

5) "Licença sem vencimento parental ou para cuidar de dependentes";

6) "Acesso global a uma App de wellbeing e saúde mental (Unmind) e ainda diversas iniciativas de bem-estar, que vão desde aulas remotas a consultas médicas online".

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