Em 2025, a start-up pretende levantar 2,5 milhões de euros em seed capital, com vista a triplicar a equipa e a reforçar o desenvolvimento de novas funcionalidades.Foi numa madrugada de 2014, após mais uma longa jornada de trabalho, que um acidente motivado pelo sono, ao volante, despertou a consciência de André Azevedo para um problema que afeta milhões de condutores em todo o mundo - e que custa anualmente cerca de 289 mil milhões de euros, só na Europa e nos Estados Unidos da América. Na mesma semana, Filipe Monteiro teve uma experiência semelhante, contribuindo igualmente para a estatística que aponta o erro humano como responsável por 94% dos acidentes rodoviários a nível global. “A verdade é que 20% a 30% dos acidentes na estrada não têm uma causa evidente e, parte deles, estarão relacionados com a fadiga, mas são mal reportados porque ninguém gosta de assumir que adormeceu ao volante”, diz André Azevedo.Perante estes dados, revela o cofundador e CEO da WingDriver, “quisemos dar o nosso contributo para ajudar a salvar vidas na estrada”. Da intenção à ideia, e à concretização desta start-up, que nasceu em 2021, os dois cofundadores percorreram um caminho que acabaria por os levar a criar aquilo que é hoje a WingDriver. “Começámos por desenvolver um hardware e um software que analisavam a face do condutor, equivalente ao que fazemos atualmente, e que gerava alertas”, acrescenta o CEO. Mas, admite, este era o caminho que também a concorrência estava a trilhar, sem diferenciação. “Vendemos essa start-up em 2019 porque percebemos que a forma como a indústria estava a tentar resolver o problema não é eficaz, uma vez que com a venda de hardware apenas é possível atingir nichos de mercado”. Recomeçar do zero para expandir o mercadoSubir a fasquia ao nível tecnológico, bem como conseguir massificar a utilização da App WingDriver através dos smartphones, em tempo real, foi o objetivo dos fundadores. Assim, recomeçaram do zero, depois de venderem a primeira app, para acompanhar as necessidades do mercado e as exigências da crescente digitalização nas empresas. “Estes dispositivos (tablets e smartphones) estão hoje em todos os veículos e podemos tirar mais proveito da sua utilização”, assegura André Azevedo.Para avançar, a start-up contou com o apoio de investidores norte-americanos, facto que motivou o registo da sua sede do outro lado do Atlântico. Contudo, explica o CEO, a maior parte da equipa está em Portugal, e é assim que irá manter-se até porque, salienta, “temos excelentes recursos técnicos e faz todo o sentido manter uma presença também na Europa”.Em abril de 2021, a empresa avançou com a investigação sobre a possibilidade de correr algoritmos de inteligência artificial (IA) e visão computacional em smartphones, Androids e IOS, com a premissa de desenvolver uma tecnologia ‘for everyone everywhere’, ou seja, para todas as pessoas, em qualquer parte do mundo, independentemente do seu poder financeiro. “O nosso sonho é um dia ‘vivermos’ no Waze, no Google Maps, no Apple Maps... porque é por aí que conseguimos quase virtualmente chegar a todos os smatphone”, revela André Azevedo, que, além disso confessa ter como meta estar dentro dos veículos desde o momento em que eles são construídos. “É essa a estratégia de tentar mudar o mundo todo de uma vez, com o apoio de empresas que já têm sistemas de mobilidade implementados e que podem ter a proveito das nossas funcionalidades de segurança para educarmos o condutor”, acrescenta.Mas como se faz esta pedagogia, diariamente e em tempo real? “Nós analisamos a face do condutor e em tempo real detetamos se o olho está aberto, se está fechado, se está a olhar para trás ou para o lado, se está com o telemóvel, ou se está a comer ou a beber”, explica o CEO. Perante estes dados, e se for detetado um comportamento perigoso, a App WingDriver emite um alerta sonoro e visual que varia consoante o perigo e consoante a atividade que está a fazer, para educar o condutor naquele preciso momento.Com os clientes que já detém atualmente, a nível global, a WingDriver consegue quantificar uma redução aproximada de 30% nos comportamentos perigosos que geram acidentes e perdas. O objetivo para 2025 e 2026 passa por reduzir 57% das mortes, chegar a três milhões de utilizadores, e reduzir 8 mil acidentes.A start-up posiciona-se no segmento ‘business-to-business’ estando, para já, a apostar no mercado das empresas que vendem software para o setor da logística, e das organizações com frotas grandes. Seguir-se-ão os condutores profissionais, nos quais se incluem os motoristas das plataformas como a Uber ou a Bolt, e o pilar das seguradoras que André Azevedo admite ser uma das metas para 2025 em Portugal. O objetivo, conta, é revolucionar o mercado segurador e a forma como é calculado o risco nos seguros automóveis. “A forma como conduzimos deverá impactar o valor do seguro, uma vez que impacta o risco”, explica.Os fabricantes de automóveis são igualmente um segmento de aposta para o ano que agora começou, com vista a que a tecnologia WingDriver possa ser incluída de raíz no software dos veículos.Geograficamente, a WingDriver está a apostar nos mercados espanhol, francês, alemão e sueco, além, claro, de Portugal e Estados Unidos, apesar de continuar em período de investimento. O ano de 2024 marcou a emissão da primeira fatura. Admite o CEO em jeito de brincadeira que “foi uma satisfação perceber que deixámos de ser o ‘crazy kid on the block’ para ser uma empresa”.Entre os principais investidores, a start-up conta com a Techstars – uma das maiores aceleradoras norte-americanas -, alguns business angels dos Estados Unidos, um investidor português e, mais recentemente, um italiano. “Já temos o nosso ‘market fit’ pelo que vamos este ano levantar uma ronda de 2,5 milhões de euros para o nosso ‘seed stage’”. O objetivo será fazer triplicar a equipa ao longo dos próximos 18 meses, com um forte enfoque na área de vendas, e reforçar o investimento no desenvolvimento com vista a implementar funcionalidades que permitam fazer a análise do batimento cardíaco, stress e a identificação de potenciais paragens cardíacas. Mais tarde está ainda prevista a possibilidade de deteção de drogas e de álcool.