Uma família de quatro pessoas que tome um duche diário desperdiça, por ano, mais de 10 mil litros de água e 350 kwh de energia enquanto espera que chegue água quente ao chuveiro. Se a água saísse logo quente da torneira, sem que isso implicasse um acréscimo o gasto de energia, quanto é que pouparia por ano?
A resposta pode ser encontrada num simulador no site da Hoterway, a inovadora coluna de chuveiro desenvolvida por um grupo de engenheiros da Universidade de Aveiro (na foto: Rui Paulo, Eduardo Noronha, Rui Teixeira e Rafael Rodrigues) que não utiliza energia elétrica para garantir água sempre quente mal se abre a torneira. A tecnologia baseia-se numa bateria termal que acumula calor da água quente e que, depois, utiliza esse mesmo calor para fornecer água quente nos cerca de 90 segundos que demora a chegar ao chuveiro a água aquecida que está a ser produzida no momento pelo esquentador ou termoacumulador.
"E o produto integra ainda uma torneira termoestática que fixa a temperatura da água, assegurando o conforto do utilizador", acrescenta Rui Paulo, o diretor técnico e responsável pelo desenvolvimento de produtos da Heaboo, a startup sedeada na incubadora da Universidade de Aveiro. A produção será também efetuada em Aveiro e será 100% nacional.
A campanha de crowdfunding lançada no Kickstarter há cerca de um mês termina já no próximo domingo e dá a possibilidade aos interessados em adquirir uma Hoterway a cerca de metade do preço de retalho, ou seja, 379€ em vez de 699€.
Rui Paulo admite que o valor do produto não é amortizável rapidamente (demora cerca de oito anos a amortizar, para o consumo da família-tipo mencionada no início do artigo), mas em fase de construção já é competitivo face a produtos semelhantes que não têm a componente de poupança de água e/ou energia, nem o controlo termoestático. Esta tem ainda a "vantagem de ser muito fácil de instalar pelo utilizador, sem ser preciso um técnico".
"A troca do chuveiro que as pessoas têm em casa por um sistema destes pode demorar a amortizar, mas trata-se mais de uma questão de conforto para as pessoas, que perdem menos tempo a entrar no duche, e de consciência ecológica, visto que há menos desperdício de água e energia", resume Rui Paulo.
"Já foram vendidas mais de 20 unidades, das cerca de 50 que estabelecemos como limite para atingir o objetivo de 20 mil euros", adianta Rui Paulo. "Como há alguns contactos de interessados em adquirir mais do que uma unidade para revenda em loja, temos a certeza que vamos atingir o objetivo do crowdfunding", avança ainda.
O mais curioso, a nível de vendas, é que um número elevado de unidades (8) foram adquiridas para os EUA, isto "sem qualquer publicidade ou comunicação nos media, pelo que revela o poder do marketing que as plataformas de crowdfunding representam" para as startup que as utilizam para o lançamento dos seus produtos.
Com a entrega das primeiras unidades prevista para maio do próximo ano, a equipa da Heaboo está já a trabalhar ainda num produto para edifícios maiores - como hotéis ou hospitais - onde a instalação de um sistema de recirculação possa beneficiar das baterias termais, evitando cerca de 70% do desperdício de água e energia. O Boxer estará disponível no final de 2017.