A conferência internacional Deliver, um dos eventos referência no setor de distribuição e logística, arrancou na quarta-feira e termina esta quinta-feira. O evento, apelidado de "Davos for Logistics in e-Commerce", junta operadores de logística e retalhistas, bem como startups, tecnológicas e fornecedores ligados à distribuição e à área de fulfillment e packaging, oriundos de 50 países. A edição deste ano decorre em Amesterdão, Holanda, e nela particpa os CTT- Correios de Portugal, motivo pelo qual o DInheiro Vivo entrevistou João Sousa, administrador dos CTT. A empresa é um dos patrocinadores da conferência e marca presença com um stand, com a esperança de captar potenciais parceiros. .Que perspetivas têm os CTT para a conferência Deliver, que já chegou a ser organizada em Portugal? Que mensagem irá querer o setor, a nível internacional, transmitir?.Queremos aproveitar o momento para apresentar a nossa oferta CTT Ibérica, que consideramos ser diferenciadora, ao entregarmos encomendas em qualquer ponto da Península Ibérica em 24 horas. As nossas perspetivas são o de contactar e reunir com potenciais parceiros e clientes de todo o mundo que necessitem de operações de logística e de entrega e-commerce na Península Ibérica para, em conjunto, gerarmos novos negócios. Este evento irá, com toda a certeza, transmitir que o setor está vivo e bem vivo, muito dinâmico e com muitas propostas de soluções inovadoras, apesar do contexto de crise decorrente da pandemia e agora principalmente da guerra na Ucrânia..O mundo, sobretudo na Europa, atravessa um momento complexo seja pela pressão da inflação nos preços, seja pelos custos energéticos ou pressões nas cadeias de abastecimento. Que constrangimentos enfrentam os CTT neste cenário.Existe uma pressão inflacionista a nível mundial, com fortes subidas nos preços das matérias-primas, por exemplo. Nas cadeias logísticas globais, estamos a verificar constrangimentos, devido à redução de capacidade que se fez no período mais intenso de pandemia e que, de acordo com todas as opiniões especializadas, demorará algum tempo a estabilizar, talvez um a dois anos. Além disso, vivemos num contexto de grande incerteza, com uma guerra no centro da Europa, algo que claramente pode perturbar as pevisões feitas. Mas, ao contrário da maior parte dos nossos concorrentes, os CTT não fizeram uma atualização de preços logo no início do ano, precisamente porque existiam dúvidas sobre a evolução do contexto. Essa atualização de preços ocorreu apenas a partir de 1 de maio, considerando a evolução perspetivada para os preços dos vários fatores, que não apenas o combustível..Relativamente ao custo das matérias-primas, nomeadamente a subida do preço dos combustíveis, é natural que tenha impacto nos CTT como em qualquer empresa que tenha na sua operação uma frota de veículos. Contudo, temos vindo a reduzir (e muito) a nossa dependência de veículos a combustão tradicional e temos vindo a apostar, nos últimos anos, na eletrificação da sua frota, através da incorporação de veículos alternativos na operação. A frota alternativa dos CTT conta atualmente com mais de 400 veículos e a empresa disponibiliza uma oferta de entregas verdes, em veículo 100% elétrico, aos seus clientes empresariais..Os CTT preveem ter de fazer mais algum tipo de ajuste nos preços finais para suportar o impacto do atual momento nas operações? Qual o impacto esperado nas contas do grupo?.Os CTT atualizaram os preços do correio no passado mês de março e esta atualização reflete parcialmente a queda de tráfego e a evolução da inflação registados em 2021. Mas, importa lembrar que os vários países da Europa há vários anos têm vindo a adotar diversas estratégias para fazer face à queda de correio e garantir a sustentabilidade e viabilidade do serviço público que passam não apenas pelo ajuste dos preços mas também pela flexibilização das obrigações do serviço postal universal (SPU), através da redução de frequência de entrega - por exemplo, na Noruega, Finlândia, Itália, Suécia - ou da diluição de prazos de encaminhamento - por exemplo, na Grécia, Itália, Dinamarca, Noruega, Finlândia, entre outros)..E em Portugal, o que tem sido feito?.Em Portugal não houve qualquer alteração na oferta disponibilizada ao cliente no âmbito do SPU, tendo sido feito apenas em 2022 um ajuste de preço um pouco mais pronunciado que nos anos anteriores, o que faz do nosso país o único que conhecemos onde a única forma de combater os efeitos da queda do tráfego de correio é a subida o preço. Por outro lado, o SPU não tem qualquer custo para o contribuinte, não sendo financiado por compensação direta, um mecanismo que, associado à adaptação do serviço, está presente na Europa, nomeadamente na vizinha Espanha, onde, por exemplo, o serviço público não inclui o correio prioritário [entregue no dia seguinte]..Mas é o preço acaba por ser o que assegura o SPU..Mesmo sendo o preço um dos mecanismos para assegurar a sustentabilidade e viabilidade do SPU, a partir de 2022, os CTT têm sido dos operadores que menos aumentaram os preços nos últimos anos. Em 2021, por exemplo, os CTT aumentaram os preços apenas 1,3%, tendo em conta as tarifas de correio nacional ocasional até 20 gramas e o valor médio de aumento dos tarifários prioritário e não prioritário, quando existentes, segundo dados do International Post Corporation e os sites dos operadores postais. Este valor pode ser comparado com o aumento da Bélgica, por exemplo, que em 2021 subiu os preços em mais de 20%. Na vizinha Espanha, o aumento médio entre 2018 e 2021 foi de 9,1%, enquanto em Portugal o aumento médio no mesmo período foi de apenas 2,3%. E no Reino Unido, em França, na Holanda e na Dinamarca os preços aumentaram acima de 5% em média nesse mesmo período. Além disso, os aumentos dos preços observados nestes países foram bastante superiores à inflação..Após dois anos de fortes disrupções nas operações de distribuição e logística, com o comércio eletrónico a crescer fortemente, para onde caminha o setor?.Com a crise pandémica e a guerra na Ucrânia agudizaram-se as tendências de incerteza quanto à durabilidade e efeitos destas crises nas disrupções das cadeias de abastecimento e, consequentemente, do comércio internacional. São evidentes os impactos inflacionistas quer ao nível da energia e dos combustíveis, mas também de outros produtos vitais para o bom e normal funcionamento da economia a nível mundial. Os próprios operadores de logística tiveram e têm de ajustar os preços dos seus serviços. E há, consequentemente, uma clara quebra de volume nos fluxos logísticos internacionais, muito evidente nos fluxos com origem na China e na região Ásia-Pacífico e uma desaceleração nos fluxos de e-commerce nacionais e europeus, associada também ao retorno a um novo normal propiciado pelo desconfinamento pós-covid..Como é que as preferências dos consumidores estão a mudar a forma como empresas como os CTT operam na hora de entregar uma encomenda? .Os últimos três anos mudaram paradigmas, mas não foram só os consumidores que sentiram uma necessidade de adaptação, uma vez que, quem vende, também teve de alterar as suas estratégias. Falamos de um mercado com mais oferta, mais competitivo, mas também de clientes cada vez mais exigentes e informados. Os CTT apresentaram no final de 2021 um relatório em que demonstraram precisamente que cada vez mais portugueses têm vindo a aderir às compras online. Cerca de 4,4 milhões de portugueses fizeram pelo menos uma compra online em 2020 - ano marcado pelo primeiro confinamento geral em Portugal - e estima-se que no final de 2021 4,6 milhões de portugueses compraram online, quase metade da população do país..E como é que os CTT se estão a ajustar a essas mudanças, face às tendências no pós-covid?.Fomos testemunhas dessa mudança e fizemos questão de acompanhar essa transformação digital apoiando o nosso tecido empresarial e a nossa economia. Lançámos, desde o início da pandemia, vários serviços e campanhas para empresas permitindo que estas continuassem, em segurança, a gerir os seus negócios remotamente e em contexto cada vez mais digital. É exemplo disso o Criar Lojas Online e a App CTT Comércio Local. O e-commerce é uma das alavancas de crescimento dos CTT e onde temos vindo a reforçar a nossa aposta operacional e de produto, subindo gradualmente na cadeia de valor com a disponibilização de plataformas e serviços integrados de venda online e continuará a ser essa a nossa aposta. Continuará a ser essa a nossa aposta no futuro..Em que áreas (e quanto) preveem os CTT investir este ano para prosseguir essa estratégia?.A título de exemplo, o mais recente anúncio relativamente a investimento prende-se com o lançamento da nova rede e marca de cacifos, a Locky, em parceria com uma empresa chinesa, onde os CTT são maioritários, e que visa um investimento de 8 milhões nos próximos três anos. Esta nova rede visa gerir o negócio dos cacifos a nível ibérico. Independente da marca CTT, o objetivo é que os clientes particulares que efetuem as suas compras online possam usar estes cacifos, independentemente do operador de distribuição, para levantamento das suas encomendas a qualquer hora e em qualquer lugar..Sendo o comércio eletrónico um catalisador importante na geração de tráfego de encomendas, qual é o atual posicionamento dos CTT nesta área? Quanto já pesa o e-commerce em toda a operação do grupo?.O posicionamento dos CTT no e-commerce é o de ser um operador completo e integrado de e-commerce a atuar em toda a sua cadeia de valor, quer em Portugal quer em Espanha. Hoje já não somos apenas um operador de logística e de entregas, mas integramos serviços quer a montante quer a jusante desta nossa atividade core, e que vão desde a publicidade multicanal - o CttAds, à disponibilização de plataformas de venda online para pequenas e médias empresas- como o são a solução Criar Lojas Online e a app CC Comércio Local, à oferta de soluções de pagamentos - a Payshop, até a serviços integrados de logística e e-fulfillment - o CTT Logística. Fomos o primeiro operador a lançar no mercado português uma plataforma de serviço de entregas rápidas e ultra-rápidas, em menos de 2 horas, o CTT Now e somos o operador nacional que disponibiliza a maior rede de pontos de conveniência e de lockers, a rede Locky.