Economia e sociedade
A economia nasceu política, economia política. Uma ciência social. Com o tempo, os ventos mudaram. Houve quem pretendesse higienizá-la, torná-la asséptica. Uma ciência exata. Economics, tal como Physics ou Mathematics. Tão ciência que, como estas, também fosse digna de um Prémio Nobel. Lá o teve. Comprado, qual título nobiliárquico (um Nobel pouco nobre), pelo Banco Central da Suécia, cerca de 70 anos após os originais. Na altura certa: após a II Guerra Mundial, seguiram-se décadas em que tudo parecia fluir ao sabor da economia, no melhor dos mundos, tirando um ou outro soluço, mais ou menos passageiro. A sociedade parecia domada, adormecida, deslumbrada. De tal ordem que houve quem proclamasse o fim da história.
E, no entanto, como diria Galileu, movia-se. Vários tumores foram lenta, mas persistentemente, começando a minar a saúde das sociedades, primeiro sem sintomas aparentes, depois numa explosão de metástases, facilitada por mudanças geopolíticas: pobreza endémica e assimetrias de riqueza e rendimento, nas economias ricas; envelhecimento das populações, um pouco por todo o mundo desenvolvido, pondo pressão na rede social; problemas de sustentabilidade ambiental ínsitas ao modelo económico dominante; assimetrias territoriais; clivagens geracionais, eu sei lá. Olhe à sua volta. De repente, o cobertor económico ficou curto.
Neste contexto, e à nossa escala, acoplar a coesão territorial à economia faz sentido se traduzir o reconhecimento tácito de uma falha no paradigma prosseguido: pior que o mercado deixado sozinho, só um tutelado pelo centralismo. Um bom princípio. A ver vamos.
Em todo o caso, de pouco servirá se não emergirem as vozes e a vontade que corporizem um dinamismo, aliando as dimensões cívicas e económicas, empenhado em combater as doenças que, minando as bases da sociedade, criam as condições perfeitas para a explosão de regimes autocráticos. Um desejo que, para não ser ingénuo, não pode ignorar o oportunismo sem escrúpulos de quantos, na economia, veem no atual contexto o espaço ideal para singrar. A economia contra a polis e a civitas. Um desafio aos empresários e às organizações empresariais.