Proptech: como vai mudar o mercado?

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Desde o aparecimento dos primeiros grandes portais imobiliários, nos finais dos anos 90, primeiro com o "casa sapo", e depois, em 2011, com o Imovirtual, tem-se assistido a uma acentuada transformação no mercado imobiliário.

No período pré portais imobiliários a procura de casa assentava maioritariamente nas agências imobiliárias e nos anúncios físicos de venda de imóvel, mas com o digital a ganhar cada vez mais adeptos, verifica-se uma transição do offline para o online acentuada, e atualmente a forma privilegiada de procura de casa é feita via consulta online, com uma capacidade grande de encontrar mais opções, enquadradas em parâmetros específicos.

Assim, como o aparecimento dos portais imobiliários transformou o mercado imobiliário do lado da procura, começa-se também a assistir a uma transformação do lado da oferta, com o surgimento das "agências imobiliárias digitais". Em Portugal, este modelo deu-se inicialmente com o lançamento da Domozo em 2017, um modelo de negócio ambicioso, mas que acabou por falhar essencialmente pela forma como hostilizou o mercado com uma campanha de TV bastante agressiva, o que fez com que o projeto não tivesse sido bem recebido pela concorrência das imobiliárias tradicionais e pelo mercado no geral.

Entre 2017 e 2020, outros projetos de "imobiliárias digitais" foram surgindo, tais como Sherlock Holmes ou Kazziffy, que também não foram bem-sucedidos, fechando portas pouco tempo depois da sua criação.

Existe atualmente em Portugal espaço para o surgimento no mercado imobiliário de propostas de valor diferentes às que existem atualmente. A maioria dos players tem modelos de negócio semelhantes, em que os consultores são freelancers e pagos com base num sucess fee pela venda do imóvel. Este modelo faz com que o acesso à profissão seja bastante fácil, observando-se que quando existe um crescimento na taxa de desemprego, existe também um crescimento no número de consultores imobiliários existentes. Esta facilidade com que se acede à profissão faz com que grande parte dos consultores imobiliários não tenha nem as habilitações nem a experiência necessária ao desempenho da profissão. O atual modelo de negócio em que é cobrada ao proprietário uma comissão, normalmente entre 4% e 5%, pela venda do seu imóvel, faz também com que o foco dos consultores seja mais direcionado para imóveis de elevado valor, não garantindo um tratamento igual entre todos os proprietários existentes em carteira.

O que algumas proptech se propõem fazer é alterar este paradigma, um modelo de negócio em que a comissão é fixa, garantindo assim um tratamento igual a todos os proprietários, oferecendo uma miríade de serviços associados mediante o pagamento de um pequeno pacote inicial, e em que o consultor é colaborador da empresa, o que permite que lhe seja providenciada formação contínua por parte do empregador, garantindo assim as skills, a formação e a experiência necessária para o desempenho da profissão.

O aparecimento das proptech deve ser visto também pelas imobiliárias mais tradicionais como uma oportunidade para adaptarem o seu modelo de negócio e ambas em conjunto procedam à transformação do negócio imobiliário em Portugal.

Se olharmos para outros mercados, como o dos classificados, o da mobilidade urbana ou o do alojamento, verificamos quão importante foi a entrada de players inovadores para que esses mercados tenham evoluído para o estágio em que estão hoje. A título de exemplo, a entrada da Uber não acabou com o negócio dos táxis, nem a entrada do Airbnb acabou com o negócio dos hotéis. O que estas empresas fizeram foi "obrigar" os players existentes no mercado a evoluir e a digitalizar os seus negócios.

Nélio Leão, CEO da Imovendo

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