Para Marx, o trabalho escraviza quando sujeito à alienação capitalista. Para os nazis, liberta. Hitler e Estaline esperavam que o povo trabalhador edificasse o paraíso nacionalista. Trotsky preferia o internacionalista. Já os transumanistas anseiam que ciência e tecnologia os livrem do suor para que uma dúzia de super-homens possa enfim desfrutar.
Porque será que os movimentos revolucionários e utópicos dizem tanto disparate sobre o trabalho? É simples: são relativistas. Para eles, não existe verdade objetiva, somente uma "verdade" no tempo, espaço e dependente de quem a profere - o movimento, o partido, as instituições "democráticas", os especialistas, a genérica "ciência", a nomenklatura ou a burocracia do sistema (o tal "papel" do sketch do Gato Fedorento).
Em si mesmo, o trabalho não escraviza nem liberta. Só a mentira pode fazer de nós escravos, como só a verdade nos faz livres. Quem nos dera que Putin, Xi Jinping, Maduro, Lula e até Biden parassem imediatamente de trabalhar.
Puxando a brasa à minha sardinha, penso que é no cristianismo que encontramos o sentido pleno do trabalho humano. Os protestantes ligam-no à ética e ao espírito do capitalismo, isto é, ao funcionamento real da economia. Sem fantasias, portanto. Embora não alcancem toda a profundidade da tradição católica. Há cerca de 15 séculos que a Regra Beneditina professa o lema Ora et Labora. Deste modo, liga-se toda a atividade humana à verdade do Criador presente na realidade das coisas criadas. Enquanto a mente contempla na oração, as mãos contemplam na ação.
A juntar a esta tradição, a Igreja Católica do século xx e xxi tem sido pródiga na compreensão e valorização do trabalho. Exemplos não faltam, desde a mensagem de S. Josemaria Escrivá (fundador do Opus Dei) ao Concílio Vaticano II, ao magistério dos Papas e reconhecimento de S. José como Padroeiro dos Operários. Todos nos dão lições de sabedoria sobre como podemos contemplar a verdade com as mãos e reconhecer o criador na nossa ação sobre as coisas criadas.
Não é preciso ser beneditino. Ora et Labora, pá! As atividades quotidianas da pessoa comum, a ação produtiva sobre a matéria do mundo e inerentes relações sociais é sempre ocasião de culto ao Autor divino, a quem tudo agradecemos e oferecemos. Em todas as profissões legítimas, só a verdade liberta.
Economista e investidor