
O lucro dos CTT - Correios de Portugal cresceu 66,2% em 2023, para 60,5 milhões de euros, em termos homólogos. As contas, divulgadas na tarde de terça-feira, também revelam que os portugueses investiram 12 590,1 milhões de euros em títulos de dívida pública comercializados pelos Correios, valor que corresponde a uma média de 50,8 milhões de euros por dia na subscrição de certificados de aforro e certificados do tesouro poupança crescimento, durante o ano de 2023.
“Durante o ano 2023, foram efetuadas subscrições no montante de 12 590,1 milhões de euros, com uma média de 50,8 milhões de euros/dia (32,7 milhões de euros /dia em 2022), que compara com 8 138 milhões de euros de subscrições em 2022 (e com a média de 4,1 mil milhões de euros no período 2019-21)”, lê-se no relatório veiculado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
“Nos primeiros cinco meses de 2023, os títulos de dívida pública atingiram níveis máximos históricos de emissão, induzidos pela maior atratividade do produto”, constatam os Correios, realçando o “ excecional” contributo dos certificados de aforro.
No primeiro semestre do último ano, devido à subida da Euribor, nomeadamente do indexante a três meses, que é usado na fórmula de cálculo dos certificados de aforro, houve uma escalada das taxas de juro daquele tipo de títulos de dívida pública. O aumento da atratividade foi acompanhado por uma crescente procura por certificados de aforro, quando as taxas de juro oferecidas pela banca para os depósitos a prazo registavam valores inferiores à remuneração destes títulos.
A corrida aos certificados de aforro foi tão grande que o Governo acabou por rever os limites de endividamento inscritos no Orçamento do Estado. Uma nova série de certificados de aforro, a ‘F’, começou a ser comercializada em junho, oferecendo uma taxa de juro base bruta mais baixa( 2,5%) face aos títulos de série ‘E’ (3,5%). A nova série balizou, ainda, o máximo de certificados possíveis de subscrever nos 50 mil euros. A série anterior permitia aplicar até 250 mil euros.
“A alteração das condições de comercialização, nomeadamente taxas de juro mais baixas e a diminuição dos limites máximos de aplicação por subscritor, reduziram a atratividade dos títulos da dívida pública e limitaram a sua subscrição no resto do ano”, analisam os CTT. No primeiro mês em que a nova série foi comercializada, tal como o Dinheiro Vivo noticiou então, a procura por certificados de aforro caiu 70%.
Não obstante, a corrida que se verificou no primeiro semestre por certificados de aforro foi suficiente para os CTT notarem um "desempenho positivo" dos serviços financeiros.
A comercialização dos instrumentos de dívida pública pelos CTT, integrados no segmento serviços financeiros e retalho , renderam ao grupo 44,4 milhões de euros no último ano, mais 32,7% face a 2022. Esta receita, “em especial dos certificados de aforro”, foi a principal alavanca para que os rendimentos deste segmento crescessem 3,4%, para 62,8 milhões de euros em 2023.
A procura por certificados de aforro deverá estabilizar e voltar para os níveis que os CTT referem como normais - na ordem dos quatro mil milhões de euros/ano -, não só pelas condições da nova série mas também por haver mais players a comercializar este tipo de títulos da dívida pública. A 14 de março, o IGCP, entidade que gere a dívida pública, anunciou que o Banco de Investimento Global (BiG) vai passar a comercializar certificados de aforro.