Agosto de 2031. Alvor anunciava a secessão. Estariam loucos? A agenda 2030 tinha acabado de cumprir-se, com tremendo êxito. Guterres estava orgulhoso. Schwab desdobrava-se em línguas da sogra e os media soltavam confetti, entre garrafas de champanhe..Já não havia carros a gasolina. De facto, nem elétricos (por falta de baterias e por danos ambientais). As pessoas eram virtuosas como nunca, abdicando de luxos capitalistas, tais como banho diário e aquecimento no inverno. Ninguém comia carne, nem peixe - só sintético. Além de suculentos insetos, hmm... de lamber os dedos. O euro digital era uma bênção. Transações feitas à velocidade da luz, impostos descontados na hora. Não era preciso fazer contas, bastava ser feliz..Então, que raios se passou em Alvor? Tudo terá começado no dia em que Maria Peixeira - notável praguejadora - resolveu estrebuchar com uma cabeça de pargo sintético nas mãos.."Ó mã, nã dá pa cozér iste..."..Então leu a etiqueta que dizia, Microsoft Foods. Perdeu o juízo.."Ai, Abílio Gaitas, que te dê uma disenteria tã grande que tê intestino se t"enról do pescóce à ponte do Rie Arade"..Foi aí que saltou a tampa ao povo.."Maria tê razâ, que porra é éstã?...andamos a comer pêxe sintétic desde 2027?!".A revolta deu-se ali mesmo, e logo criaram o regime. Impostos e afins baixaram para 10%. Propriedade privada e livre-mercado tornaram-se prioridades. O município ficou proibido de tocar em educação e saúde. Todas as regulações positivas caíram, em prol da lei natural. As contendas passaram a dirimir-se mediante eleição de juízes privados. O indivíduo foi declarado o agente da sociedade, e a família a célula da mesma, protegida pela subsidiariedade - sem exceções..Esta loucura resultou no maior PIB per capita do país. Todos queriam ir para lá - tal era a ingratidão que nutriam pelo paraíso de Guterres e Schwab. O caos da fronteira deu lugar ao referendo. Venceu o "Sim". Declarada a secessão, nasceu a República Independente de Alvor. Mas, claro, não durou sequer um mês. Alguém teria de salvar aquela insana gente. Por mar, deu à costa um porta-aviões da NATO. Por terra, vieram os capacetes azuis, em missão de paz. E tudo, num instante, se resolveu. Afinal, também os alvoreiros têm direito a ser felizes. Quer queiram, quer não..Economista e investidor