No futuro, talvez não muito distante, uma ida ao supermercado vai ser uma experiência diferente da que é hoje. Mais simples e rápida. Sem filas. A Sensei é uma startup portuguesa que desenvolveu uma tecnologia para ser usada pelo setor do retalho e que vai permitir criar a primeira loja do futuro, autónoma e com check-out livre..“O cliente entra em loja com o simples passar de um cartão ou da aplicação [relativa à superfície comercial]. Estando em loja nada muda: o cliente faz as compras normais, vai tirando produtos e adicionando ao seu cesto ou [decide voltar atrás e] coloca os produtos na prateleira. Quando estiver pronto, pode sair, simplesmente. Deixa de ter de passar por uma caixa para pagar porque a compra é debitada automaticamente do cartão do cliente”, explica ao Dinheiro Vivo Vasco Portugal, CEO da empresa. “A única coisa que muda é na loja. Para o cliente final nada mudou; a experiência de compra é igual à de hoje, mas com um benefício grande: nunca mais terá de esperar para pagar ou sair da loja.”.Os produtos embalados, quando saem da prateleira para o cesto, são adicionados à conta de cada clientes. Se, por algum motivo, ele decidir prescindir desse produto e devolvê-lo à prateleira, esse item é eliminado porque o sistema desenvolvido pela startup portuguesa consegue reconhecê-lo. E que sistema é este?.“Usamos uma rede de câmaras com uma layer de visão computacional - que é essencialmente uma das áreas da inteligência artificial - que, no fundo, traduz tudo aquilo que é a atividade que acontece dentro de loja para dados. Com esses mesmos dados ele [sistema] sabe quem é o cliente que está em loja e que produtos está a levar para casa, para os poder debitar automaticamente sem ter de passar pela caixa” de pagamento..Os produtos não têm associados a si qualquer tipo de sensor, o que significa que são iguais aos que existem hoje nos supermercados. E os clientes não têm de proceder ao scan de itens ou passar por uma caixa de pagamento. “O produto não tem sensores; o cliente não tem sensores. Agarra no produto e a compra está feita”, assegura Vasco Portugal..Carros e supermercados .Com a evolução tecnológica tornou-se possível fazer compras à distância de um clique e os produtos adquiridos entregues em casa. Contudo, o retalho tradicional continua a enfrentar dificuldades: não é possível replicar o que é feito no comércio eletrónico para o espaço real. E foi perante este cenário que os fundadores da Sensei decidiram deitar mãos à obra e desenvolver uma solução que possa mudar a realidade física. Para isso usam a mesma tecnologia dos automóveis autónomos..“Isto é uma tecnologia que é usada essencialmente para os carros autónomos: a visão computacional. Hoje em dia, um carro que é autónomo usa a mesma lógica. Têm as câmaras que interpretam aquilo que estão a ver à volta delas e assim conseguem gerir quando o carro deve parar, estacionar e que obstáculos deve evitar. As variáveis são infinitamente superiores a um contexto controlado como este. A ideia é: se é possível construir um carro autónomo, com certeza que é possível construir uma loja autónoma”, diz o CEO da Sensei..Além das vantagens que esta solução pode ter para os consumidores, aos retalhistas permite-lhes saber os hábitos de consumo dos clientes e, consequentemente, ter mais facilidade em ter stocks dos produtos mais procurados, rentabilizando os seus negócios..A Sensei trabalha já com três empresas de retalho do Velho Continente, mas não quer ficar por aqui. Um dos objetivos para este ano é, precisamente, expandir o número de retalhistas com quem trabalha. Outro é aumentar o número de funcionários. Atualmente com 12 pessoas, a firma quer chegar ao final deste ano com 25 funcionários..A Sensei sabe que, pelo menos na Europa, não há outra empresa a desenvolver tecnologia para lojas autónomas da mesma forma. E por isso está confiante de que é “a empresa mais bem posicionada para poder rapidamente dominar o mercado de lojas autónomas e totalmente digitalizadas” na Europa..Em fevereiro do ano passado, a startup sediada em Lisboa recebeu uma ronda de financiamento no valor de 500 mil euros de investidores como o grupo germânico de retalho Metro Group, Sonae - através da Sonae IM (Bright Pixel) -, o acelerador Techstars e um conjunto de business angels. A empresa admite que possa, ainda neste ano, captar uma nova ronda de investimento.