A entrada do Oeno Group em Portugal pode ter surpreendido quem não vê o país capaz de competir no campeonato dos melhores vinhos do mundo, mas isso é que é surpreendente para Michael Doerr, managing director do grupo sediado em Londres e especializado nestes investimentos. "A verdade é que há muito potencial neste mercado", garante.
De visita a Lisboa com Stephane Sésé, CEO da casa de champagne Boërl & Kroff a convite do embaixador do grupo e wine advisor português Cláudio Martins, para conhecer o primeiro de uma coleção de vinhos do outro mundo, no Torel Palace Hotel fala com entusiasmo dos "excelentes vinhos a excelentes preços - em alguns dos casos a metade do que mereciam -" que aqui encontrou. E vê claras oportunidades de crescimento neste mercado.
"Quando falamos de investimentos em vinhos, falamos quase automaticamente em França ou Itália - Portugal vem no fim da lista. Acredito que esta perspetiva vai mudar muito em breve, não só pelos investidores interessados em entrar nos vinhos finos como porque há espaço para os portugueses terem destaque nessas escolhas."
A visão de Doerr é partilhada por Cláudio Martins, que se move no mais alto segmento de luxo e abraçou a missão de levar o vinho português às estrelas, de braço dado com o Oeno - que nesta semana apresentou em Lisboa a sheiks, oligarcas e multimilionários, num local secreto da cidade, construído à medida para o evento que marcou a chegada do grupo de wine investment (já presente em Londres, Nova Iorque, Bordéus, Madrid, Munique e na Toscana) a Portugal.
"Estou farto de andar pelos melhores restaurantes do mundo e não ver vinhos portugueses", desabafou ao DN/Dinheiro Vivo. E porque não é homem de se deixar ficar quieto, deitou mãos à obra para começar a mudar essa realidade. O primeiro passo foi procurar um local e alguém com conhecimento e capacidade para produzir um vinho português de luxo, capaz de ombrear logo à partida com os melhores do mundo. E o resultado chegou nesta semana, saído do Alentejo com o nome Júpiter e um preço de mil euros por garrafa de 75cl. O primeiro dos seus Wines from Another World, que não vai encontrar em qualquer loja. "São verdadeiros artigos de coleção e queremos que estejam nas mãos de conhecedores absolutos que apreciarão verdadeiramente o seu caráter tão especial", explica Cláudio Martins. Fazendo jus ao maior planeta, Júpiter é o primeiro desta série limitada de vinhos do outro mundo, um alentejano de exceção, gerado em parceria com Pedro Ribeiro, da Herdade do Rocim, numa edição de 800 garrafas.
A ideia do Wines from Another World, concretizada com Pedro Antunes, da Sparrow Creative Solutions, é trazer "descobertas vínicas únicas em todo o mundo a uma comunidade eclética de conhecedores", tendo como conceito o sistema solar. A cada ano, será adicionado um vinho à coleção, até serem nove - como os planetas. O que também dá força à ideia de Cláudio Martins associar ao projeto a Agência Espacial Portuguesa, uma aproximação que, através da Geosat, concretiza um dos grandes objetivos desta agência: aproximar setor espacial e não espacial, para desenvolver novas aplicações que promovam o crescimento socioeconómico. "Através de imagens satélite de observação da Terra, conseguimos identificar o momento melhor para a vindima, garantindo vinhos de qualidade superior", explica Hugo André Costa, administrador da Agência Espacial.
"Em cada garrafa de vinho, há uma história para ser contada" e o CEO e fundador da Martins Wine Advisors quer partilhar as melhores, frequentemente encontradas em vinhos raros. "Não basta sonhar, há que levar a paixão a níveis extraordinários e inovadores, a outra dimensão", defende Pedro Antunes, da Sparrow Creative Solutions, responsável pela imagem do Wines from Another World. Foi ele quem idealizou o enquadramento de cada vinho numa caixa luxuosa e original, com um código através do qual os colecionadores poderão aceder a informações exclusivas, fotografias, vídeos e uma agenda de eventos privados pelo mundo.
É o tipo de detalhes que, com a exclusividade e a qualidade de topo envolvida na elaboração levada a cabo por Pedro Ribeiro - um dos mais conceituados produtores da região -, permite que o Júpiter seja também o primeiro português a figurar no portfolio do grupo Oeno, disponibilizado a apreciadores, colecionadores e investidores de vinhos raros de todo o mundo.
"Ainda falta alguma educação para que se olhe para os vinhos portugueses com o mesmo potencial que as grandes regiões vitivinícolas do mundo", diz Michael Doerr. "Quando os investidores com interesse e capacidade financeira procuram vinhos finos, nunca pensam em Portugal nem pedem referências de vinhos portugueses, mas numa prova cega sem rótulos estou convicto de que figurariam ao lado dos melhores", afirma o fundador do Oeno. Pelo que não tem dúvidas: "Assim que introduzirmos os vinhos finos portugueses no nosso portfolio, não haverá vinho suficiente no país para responder aos pedidos".
A escolha do Júpiter para inaugurar esta presença ainda antes de o provar é justificada pelas "grandes expectativas" e pela imensa confiança em Cláudio Martins, agora embaixador do grupo em Portugal. "Para a maioria dos colecionadores, não seríamos uma escolha óbvia e eu gostava de mudar isso. Sei que produzimos vinhos do calibre dos grandes de Napa Valley, da Toscana ou da Rioja. Com Júpiter, posso chamar a atenção para o país e consigo apresentar estes vinhos de qualidade a pessoas que podem realmente apreciá-la, à sua história e caráter."
Passos que já entusiasmam o fundador do Oeno no sentido de reforçar a presença no país. "Abrir uma loja em Portugal? É uma possibilidade concretizável a curto prazo", admite Doerr.
Feito com castas indígenas e métodos de produção antigos, incluindo fermentação e quatro anos de envelhecimento em talhas, as 800 garrafas de Júpiter que saíram da Herdade do Rocim e das mãos do produtor Pedro Ribeiro escondem um vinho "suave, com sabor delicado e refinado". A descrição é de Cláudio Martins, wine advisor que já provou os melhores do mundo, aconselha bilionários do mundo inteiro sobre o que beber e a pedido deles construiu garrafeiras de milhões de euros. E que agora, regressado a Portugal ao fim de duas décadas em Londres, se deitou à missão de ajudar a catapultar os portugueses, associando-se a um vinho cotado a mil euros a garrafa. "Já provei vinhos de muitos produtores, mas este é, sem qualquer dúvida, o que merece ser Júpiter", diz.
Com ele, Cláudio Martins estreia o projeto Wines from Another World, que passará pelas principais regiões vinícolas do mundo, numa viagem com partida e chegada em Portugal. Sob essa bandeira, vão reunir-se alguns dos vinhos mais raros e exclusivos, produções de 500 a mil garrafas feitas a partir de castas indígenas e recorrendo a métodos tradicionais antigos, criando vinhos que contam as histórias dos lugares onde foram gerados. Com Júpiter à cabeça, a coleção foi inaugurada nesta quarta-feira em Lisboa, por convite personalizado a 20 conhecedores e colecionadores, mas já estão gizados os eventos que ao longo dos próximos oito anos vão revelar Wines from Another World em Bordéus, Champagne, Priorat, Toscana, Napa Valley, Mosel, Geórgia e, por fim, Douro.
"Viajar é uma parte fundamental da vida de um enólogo", explica o produtor de Júpiter, descrevendo-o como fruto de "uma viagem inimaginável" e "um desafio muito inspirador"."Este vinho será um legado cobiçável para as gerações futuras de conhecedores que apreciam a história, a cultura e a tradição nas suas escolhas vínicas", acredita Pedro Ribeiro.
"Estamos a regressar às raízes do vinho, usando métodos ancestrais para recuperar sabores antigos, criando algo completamente único", descreve Cláudio, que espera que os nove da coleção que apadrinha passem a figurar entre os mais cobiçados. E sem esquecer o lado de investimento, em que se especializou: "Se assim for, o seu valor aumentará exponencialmente. É por isso que estamos a ser tão seletivos com quem estamos a convidar para adquirir estes vinhos."