Casa da Réssa quer dar ao mercado “o Douro dos nossos avós”

Projeto do empresário Alexandre Dias resulta de vários anos de investimento em vinhas velhas no Baixo Corgo. Paulo Nunes é o enólogo responsável pelas novas referências.
Casa da Réssa quer dar ao mercado “o Douro dos nossos avós”
D.R.
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Primeiro veio o gosto por vinho e pelo Douro, depois a capacidade para investir em parcelas de terra que apareciam, esquecidas, por entre os socalcos da mais antiga região vinícola demarcada. Alexandre Dias foi investindo capitais próprios para adquirir os atuais 40 hectares de terreno que tem atualmente, dos quais 25 são vinhas, muitas delas velhas. No entanto, prefere não revelar o valor total do investimento realizado.

“O projeto Casa da Réssa nasceu unicamente com recurso a capitais próprios. O investimento nas vinhas foi feito ao longo dos anos, este é um projeto familiar que será o meu legado para as próximas gerações da minha família. Não o pensei para durar 10, 20 anos, irá sobreviver ao meu tempo, pelo que o valor de investimento total não é relevante para o futuro do projeto”, diz ao Dinheiro Vivo.

Há seis anos que a Casa da Réssa está a ser pensada, mas os vinhos só agora chegaram ao mercado. São três referências distintas, todas elas com enologia de Paulo Nunes – conhecido sobretudo pelos vinhos que assina na Casa da Passarella – e com viticultura de João Costa. “O projeto remonta a 2019 mas os vinhos são lançados agora porque achamos que tínhamos de os apresentar finalmente ao mercado”, referiu o enólogo durante a apresentação oficial das referências, num encontro exclusivo com jornalistas, em Lisboa.

“Tinha muita admiração pelo Paulo Nunes, pelo trabalho dele dos últimos 20 anos, sempre com respeito pelos terroirs. Obviamente o Paulo ser um filho da Folgosa foi um ponto de atração mútua. O Paulo é um dos grandes enólogos portugueses e é um enorme prazer trabalhar diariamente com ele”, justificou ainda, quando questionado sobre a escolha de Nunes para assegurar a enologia do projeto. “Foi o Paulo que nos trouxe o João Costa, que conhecia e com quem já tinha trabalhado. O João rapidamente se tornou um pilar fundamental deste projeto”, adiantou ainda.

Estes vinhos representam bem “a memória que tenho de um reserva que havia em casa dos meus avós. São vinhos menos tanínicos, menos complexos...”, continuou Paulo Nunes. Para o enólogo, o regresso a um estilo de vinhos que, considera, deixou de se fazer na região, é algo que lhe é particularmente caro.

São dois tintos de 2021 – um Reserva e outro Grande Reserva e um branco de 2022, com preços entre os €47 e os €87, e produções relativamente pequenas. Do branco foram feitas 2700 garrafas, do tinto Grande Reserva há 3500 garrafas e do tinto Reserva a Casa da Réssa colocou no mercado 16 900 garrafas.

Alexandre Dias, o empresário que fundou a Casa da Réssa
Alexandre Dias, o empresário que fundou a Casa da RéssaFotografia: Casa da Réssa

O timing da comercialização dos vinhos acontece também por necessidade de começar a viabilizar financeiramente o projeto. “Embora haja muita paixão neste projeto, há também, obviamente, racionalidade. Relevante, sim, é que o projeto seja sustentável”, começa por esclarecer Alexandre Dias quando questionado se o break-even está à vista. “Ambientalmente, socialmente e economicamente. E agora que estamos a atingir o ano seis do projeto e que os primeiros vinhos estão a chegar ao mercado, economicamente queremos que os próximos três anos sejam de equilíbrio operacional. E que, após esse período, possamos consolidar receitas, operação e libertar margem”, adianta apenas.

Composta por 50 parcelas diferentes, a Casa da Réssa será a casa de vinhos que se querem com “caráter e profundidade e que reflitam o território”. Com acesso a vinhas velhas e muito velhas – o branco é, precisamente, produzido a partir das parcelas com vinhas velhas – é muito possível que surjam vinhos de parcela muito em breve, adianta Paulo Nunes. Para já, as três referências que vão estar disponíveis em garrafeiras e alguns restaurantes selecionados são o resultado da mistura de várias parcelas cuidadosamente selecionadas.

E, quase prontos para chegar ao mercado estão também Vinhos do Porto, que foram provados neste encontro – amostras de barrica, ainda – e que prometem divertir os apreciadores deste tipo de produto, pela sua frescura e elegância. Mas poderá haver mais, adianta Alexandre Dias. “Além dos três vinhos que ir apresentámos e que constituem a gama base, os próximos anos trarão novidades. Os portos branco e tinto que apresentamos serão algumas das novidades. E vinhos especiais, de muito pequena quantidade, todos de parcelas que selecionamos e que serão lançados em anos especiais”, admite ainda o empresário ao Dinheiro Vivo.

Para já, conseguiram colocar no mercado estes três, com a nota curiosa de ambos terem sido, inicialmente, recusados pela Câmara de Provadores do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, - que prova os vinhos aptos às denominações de origem Porto e Douro. “Ambos tiveram de ir a recurso, porque não tinham o perfil que a câmara achava que deviam ter”, conta, divertido, Paulo Nunes. No final, ganhou a Casa da Réssa, que se junta assim ao grupo de marcas do Douro que apresentam vinhos tranquilos elegantes, pouco tanínicos, complexos e com um final de boca longo e um significativo potencial de guarda.

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