Governo já apresentou proposta para Grande Prémio de F1, mas não diz quanto custa

Executivo entregou proposta para o regresso de um Grande Prémio ao Algarve. Ministério da Economia em silêncio sobre de onde sairá o investimento de mais de 40 milhões que será necessário.
Governo já apresentou proposta para Grande Prémio de F1, mas não diz quanto custa
FOTO: EPA/SHAWN THEW / POOL
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O Executivo já apresentou uma “proposta positiva” à Formula One Management (FOM), com vista ao regresso de um Grande Prémio (GP) da Fórmula 1 a Portugal, ao autódromo do Algarve, confirmou o Dinheiro Vivo junto de fontes oficiais da organização que gere as provas de automobilismo. “Em termos gerais, podemos confirmar que houve discussões e uma proposta positiva, mas não podemos confirmar que o acordo esteja concluído”, adiantam as mesmas fontes. No entanto, o Ministério da Economia escusa-se a fazer qualquer comentário. Questionado pelo Dinheiro Vivo sobre que montante tem alocado para a prova e sobre em que rubrica do Orçamento do Estado vai ser inscrita esta despesa, o Ministério liderado por Manuel Castro Almeida confirmou a receção das questões mas, até à hora do fecho desta edição, optou por não dar uma resposta a qualquer uma delas.

Recorde-se que o anúncio de que estaria nos planos do Governo voltar a trazer um GP a Portugal foi feito por Luís Montenegro no início deste mês, durante as Festas do Pontal. Apesar de não haver uma tabela definida para os custos de trazer uma prova desta envergadura, é relativamente fácil perceber que intervalo de milhões de euros o Executivo terá de desembolsar para conseguir colocar Portimão no disputado calendário de 24 corridas que vão ter lugar em 2027. Outro número que foi confirmado ao Dinheiro Vivo pela FOM: o calendário não se estenderá para além das 24 provas, apesar de rumores da imprensa desportiva apontarem noutra direção.

Quanto custa trazer um GP a Portugal?

O Dinheiro Vivo sabe que para trazer um GP para um país com as características de Portugal é preciso investir cerca de 30 milhões de euros só na taxa de entrada – há países que pagam mais e outros menos, por razões históricas ou porque apresentam variáveis que os tornam mais apetecíveis como seja o Mónaco ou o Reino Unido. Outros circuitos pagam, literalmente, para ter lugar no calendário, como tem acontecido com alguns circuitos no mundo árabe. Mas 2027 tem um desafio acrescido: com contratos a terminar, como é o caso do dos Países Baixos, e com a Bélgica a acolher apenas um GP a cada dois anos, há vários circuitos na corrida para preencher os espaços que vão ficar vagos, alguns dos quais em África, para onde a F1 tem estado a olhar com interesse.

Para Portugal se tornar competitivo, terá por isso de apresentar mais do que um “circuito fantástico”. A classificação é de Lewis Hamilton, o vencedor dos últimos dois GP de Portimão, que tiveram lugar no Algarve em 2020 e 2021, quando Portugal foi o país que abriu as portas durante um confinamento que fechou grande parte dos circuitos, e limitou as provas de F1 à Europa.

Na altura, o país não pagou fee de entrada para garantir presença no calendário – uma informação que foi, à época, confirmada pelo Executivo de António Costa. E ainda assim, os custos, por prova, ascenderam a cerca de 10 milhões de euros, divididos por algumas grandes rubricas: “comissões e fees pagos ao promotor da Fórmula 1, custos com a preparação da infraestrutura (pista e edifícios) para a receção do GP de Portugal, custos com a organização da prova, médicos, aluguer de meios e máquinas, custos com alojamento, comissões sobre a venda de bilhetes, custos com a compra de mercadorias para F&B e custos com publicidade. O que totalizou um valor total de despesas de 9,4 milhões de euros”. Os dados constavam do Relatório de Execução entregue pela Parkalgar – a empresa promotora do evento em Portugal e que gere o Autódromo de Portimão – ao Turismo de Portugal, e que na altura foi divulgado pela revista EXAME.

Houve ainda, em 2020, um investimento de 1,5 milhões de euros feito pelo Governo, através do Turismo de Portugal, no novo pavimento do circuito, que precisava de ser revisto – e que, mesmo assim, não evitou que houvesse tampas a saltar no meio dos treinos.

Se Portugal ganhar a corrida, é portanto justo admitir que aos 30 milhões vão ainda acrescer custos de mais de 10 milhões de euros – uma vez que tem de ser considerado o aumento significativo dos preços de bens e serviços, registado a partir de 2022 – para além de outras rubricas. Por exemplo, ainda não se sabe se o asfalto terá de ser intervencionado – e a ser, que custo terá, algo que depende da condição da pista e da área a precisar de intervenção.

Mas quanto se ganha ao trazer uma prova desta dimensão?

Em termos objetivos, pouco ou nada. Segundo o mesmo relatório entregue ao Turismo de Portugal, os cálculos das receitas diretas e estimadas fixavam-se entre os 26,7 milhões e os 27,7 milhões de euros, um valor claramente abaixo daquele que tem de ser investido para conseguir ter o Grande Prémio em Portugal. A penalizar estas contas estão variáveis como, por exemplo, o facto de as receitas de bilheteira reverterem na totalidade para a organização da prova. No mesmo sentido, muito do aparato de serviços que faz parte do 'Grande Circo' vem, não raras vezes, com as equipas participantes, o que diminui o impacto potencial que a presença dos teams na região.

Para a FOM, a corrida à grelha de 2027 ainda está no início. “Há vários anfitriões potenciais a disputar um lugar no calendário, mas só teremos 24 corridas, por isso temos de considerar cada um com base nos seus méritos”, reiterou fonte oficial da organização.

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