Hugo Espírito Santo: "As fronteiras no aeroporto são um embaraço para o Governo e temos de pedir desculpa"

O secretário de Estado das Infraestruturas garante que o Executivo está a trabalhar numa solução que quer ver implementada antes do próximo verão. ANA responsabiliza Governo.
Hugo Espírito Santo, secretário de Estado das Infraestruturas no Congresso da APAVT
Hugo Espírito Santo, secretário de Estado das Infraestruturas no Congresso da APAVTDR
Publicado a

“A situação das fronteiras é um embaraço para o Governo. Não tenho outro nome e acho que devemos ter uma atitude de humildade relativamente àquilo que fazemos. Neste momento é um embaraço e acho que a única coisa que se pode fazer é pedir desculpa. Ninguém pode ficar contente com a experiência enquanto passageiro, hoje em dia, nos aeroportos nacionais.”, assumiu esta quarta-feira, 3, o secretário de Estado das Infraestruturas.

O mea culpa foi feito por Hugo Espírito Santo ao início desta manhã durante o 50º Congresso Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que decorre esta semana em Macau. Confrontado com as longas filas de espera no aeroporto Humberto Delgado, o governante assegurou que o Governo está a acompanhar o tema. “Temos atualmente cinco ministros a acompanhar o assunto diariamente. As causas estão todas identificadas: há falta de agentes da PSP, há uma dificuldade e instabilidade do ponto de vista tecnológico nas e-gates e há uma maior lentidão no sistema”, reconheceu.

O Governo, adiantou, está já a trabalhar numa solução que espera ver concretizada até junho de 2026, antecipando o pico do próximo verão, redesenhando a zona das partidas e chegadas da Portela. “Vamos aumentar em 30% o número de boxes e de e-gates nas partidas e nas chegadas iremos aumentar também as boxes em 30% e aumentar em 70% as e-gates”, explicou.

Recorde-se que no passado mês de outubro entrou em vigor o novo sistema  europeu de controlo automatizado de fronteiras externas, o Entry/Exit System (EES), para passageiros extracomunitários. As entradas e saídas passaram a ser registadas por via eletrónica em substituição do antigo sistema de carimbo de passaportes.

A implementação deste sistema tem originado longas filas com elevados tempos de espera.

Hugo Espírito Santo evidenciou que a mudança de protocolo originou uma “maior lentidão”, mas não se coibiu, também, de apontar o dedo à ANA dizendo que é imperativo melhorar o serviço prestado na infraestrutura da capital.

“Temos hoje em dia problemas enormes com os tempos de espera, mas também temos de olhar e lembrar que isto não é um problema só dos passaportes e só da fronteira. É também uma necessidade de olharmos e reequacionarmos a qualidade de serviço nos aeroportos e isso é algo que também temos vindo a insistir, nós e a ANA, no sentido de realmente darmos aqui um salto qualitativo”, assumiu

Já o chairman da ANA atirou responsabilidades ao Governo. “O problema das fronteiras não está nas nossas mãos. A situação é tão delicada que é caricata. [A resolução] dos constrangimentos não depende de nós, as fronteiras são um organismo de soberania”, disse momentos antes, durante uma intervenção no mesmo encontro em Macau.

José Luís Arnaut relembrou que o contrato de concessão impõe obrigações tanto à concessionária quanto ao concedente e que, do lado do Estado, estas não estão a ser cumpridas. 

“Temos requisitos mínimos de serviços, desde a entrega de bagagens à segurança que, se não cumprirmos, somos penalizados. O contrato prevê também tempos mínimos para as autoridades públicas”, relembrou.

O presidente do conselho de administração da ANA frisou que a falta de recursos humanos no controlo de fronteiras tem agravado o cenário.

“Ás 06h00 desembarcam 600 passageiros no aeroporto, há uma acumulação. Quando a fila de espera está quase nos 90 minutos reforçam [as equipas operacionais], mas entretanto já chegaram mais 1200 passageiros e ainda nem foram digeridos os anteriores”, exemplificou.

"O novo sistema é aplicado em todos os países da UE e só em Portugal é que há problemas", lamentou ainda.

Hugo Espírito Santo desmentiu e deu como exemplo o aeroporto de Bruxelas. "Acho que não é verdade que não haja problemas noutros aeroportos. Não me serve de consolo nenhum, o mal dos outros não me faz bem nenhum, mas existem, sim, problemas noutros aeroportos", garantiu.

*A jornalista viajou para Macau a convite da APAVT

Hugo Espírito Santo, secretário de Estado das Infraestruturas no Congresso da APAVT
ANA admite novo aeroporto pronto em 2035. Governo diz que "nada a impede de acelerar prazos"

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt