Sistema de pagamento da Visa com stablecoins deverá estar disponível na UE "nos próximos 12 meses"

Um piloto lançado nos EUA já permite realizar pagamentos e transferências com recurso a criptoativos tendencialmente estáveis. O mecanismo deve singrar primeiro em economias emergentes.
Mark Nelsen, chief Consumer Product da Visa
Mark Nelsen, chief Consumer Product da VisaGerardo Santos
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Transferências ao segundo, para todo o mundo, através de criptoativos que sobressaem pela baixa volatilidade. É este o mais recente projeto da Visa, que foi dado a conhecer em Lisboa e deverá estar disponível na União Europeia em 2026.

A Visa lançou nos EUA o piloto de um sistema de pagamentos através de stablecoins, que deverá ficar disponível na União Europeia "nos próximos 12 meses". Esta é a expetativa transmitida por Mark Nelsen, diretor de produto na Visa, em entrevista ao Diário de Notícias e Dinheiro Vivo.

A empresa anunciou o lançamento do projeto piloto na quarta-feira, 12 de novembro, durante a Web Summit, que decorreu em Lisboa. Em causa está a disponibilização de pagamentos através de stablecoins, ou seja, criptomoedas que podem estar indexadas a uma divisa nacional (como o euro e o dólar), outro ativo (como o ouro), ou ainda uma carteira de ativos, mas sempre algo de baixa volatilidade.

Esta associação permite que as stablecoins sejam moedas estáveis (como o próprio nome indica), o que pode ser visto como uma vantagem por comparação com outras opções de investimento. Muitos outros criptoativos são tradicionalmente muito voláteis (é o caso da Bitcoin, por exemplo).

Mark Nelsen explica que a Visa quer tornar os pagamentos internacionais "mais eficientes", ou seja, torná-los disponíveis na conta do destinatário em segundos (a qualquer hora e em qualquer dia, incluindo fins de semana e feriados). O foco está anda em permitir "um valor estável e acesso rápido aos fundos, mesmo em mercados com volatilidade cambial ou infraestruturas bancárias limitadas".

Alguns dos melhores exemplos estão na América do Sul

O responsável salienta que os mercados do Brasil e Argentina poderão estar entre os primeiros a ganhar tração. Isto porque as respetivas moedas oficiais (reais brasileiros e pesos argentinos) são historicamente voláteis, nomeadamente porque aquelas são economias emergentes. Assim sendo, cidadãos brasileiros e argentinos deverão perceber mais rapidamente "o que é isto e por que motivo iriam querer aderir". No caso dos europeus e norte-americanos, por exemplo, a abordagem poderá ser distinta.

"Se quiseres enviar dinheiro para um amigo na Europa ou nos EUA, eles provavelmente não saberiam porque iriam querer stablecoins", diz Mark Nelsen. Em causa está o facto de o euro e o dólar serem mais estáveis, de economias mais maduras e, assim, são moedas mais estáveis.

Criptoativos em alternativa ao que já existe

A plataforma Visa Direct permite fazer pagamentos em tempo real, à escala internacional (está disponível na UE, para os clientes dos bancos que disponibilizam o serviço). Através do número do cartão, número da conta ou transferência para a conta bancária, é possível realizar transferências ou pagamentos, sendo que se registaram 10 mil milhões de transações em 2024. A plataforma "funciona muito bem", garante Mark Nelsen, "mas... cada vez mais pessoas têm carteiras de stablecoins".

O novo sistema de pagamento surge como alternativa à Visa Direct e permite transferências para qualquer 'stablecoin adress'. Significa isto que as transferências são feitas através da blockchain (em que ficam registadas todas as transações realizadas com criptomoedas, por todos os utilizadores à escala global) e chegam ao destinatário imediatamente após serem ordenadas, independentemente do dia e da hora.

Um dos objetivos passa por dar mais uma opção aos clientes, para que possam escolher como querem enviar/receber determinada quantia. "Não temos favoritos", na medida em que "cabe ao consumidor decidir como quer receber o dinheiro", aponta o responsável, antes de reiterar a rapidez como um fator crucial.

"Hoje ainda é difícil enviar dinheiro a alguém noutro país. Pode demorar 3 ou 4 dias", mas esta tecnologia permite enviar "em 3 ou 4 segundos"

Mecanismo deverá estar disponível na UE em 2026

O piloto tem início nos EUA, porque a regulação "foi implementada lá primeiro". Permite que quem lá está envie dinheiro para qualquer pessoa em todo o mundo, mas o plano passa por chegar a mais geografias em 2026, entre elas a UE, salienta o chief Consumer Product.

"Nos próximos 12 meses, vamos entrar nos países que implementarem o licenciamento" sendo que países como os Emirados Árabes Unidos, Japão e Singapura levam algum avanço. Neste âmbito, há confiança de que, na União Europeia, o Regulamento dos Mercados de Criptoativos (MiCA) permitirá a entrada daquele modelo dentro do mesmo prazo.

Para que chegue a Portugal (e aos restantes Estados membros), será depois necessário que a lei europeia seja transposta para lei de cada país. No caso do mercado nacional, caberá ao Governo fazê-lo.

Por outro lado, "em mercados nos quais os pagamentos imediatos são algo recente, as restrições só permitem enviar uma pequena quantidade de dinheiro" no imediato. Em todo o caso, Mark Nelsen acredita que os reguladores de países com maiores restrições a pagamentos digitais vão analisar a integração dos mesmos noutros mercados. "Se não houver problemas, mudam a regulação para serem mais abertos", diz.

Porquê anunciar na Web Summit?

Mark Nelsen explica que na Web Summit estava "uma quantidade tremenda de empresários e pessoas que constroem software", entre os quais estão os criadores de conteúdo. Ora, na edição de 2025, a Visa centrou o foco nos criadores de conteúdo, que "querem ser pagos em tempo real", aponta, citando um estudo da empresa em que se chegou a esta conclusão.

Posto isto, o novo sistema desenvolvido pela Visa visa, entre outras áreas da sociedade, os produtores de conteúdo.

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