Vivemos numa sociedade que está a diabolizar o plástico, muito devido à sua origem fóssil (é fabricado a partir de petróleo, gás natural ou carvão) e à enorme dificuldade em se decompor no meio ambiente. Os microplásticos estão por todo o lado: nas águas dos mares e dos rios, nos solos e até nos alimentos. E se isto é uma realidade de efeitos nefastos, também não deixa de ser verdade que os polímeros têm utilizações essenciais à vida humana, em áreas como a saúde, tecnologia, alimentar, entre muitas outras. Consciente da dualidade desta matéria-prima, o PIEP - Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros tem desenvolvido soluções inteligentes e sustentáveis para vários setores industriais.Em Guimarães, onde tem lugar uma equipa de mais de 90 colaboradores, laboratórios e unidades-piloto, o centro de inovação trabalha para empresas e entidades tão díspares como Philips, CERN (Organização Europeia para a Investigação Nuclear), Sonae, Bicafé, Ikea ou Galp. Um dos projetos mais emblemáticos que tem em mãos é o desenvolvimento de materiais compósitos e espumas termoplásticas, incluindo uma solução com cortiça reciclada, para o Einstein Telescope. Em termos mais claros, o PIEP está a preparar uma solução para o revestimento do telescópio. O futuro observatório europeu de ondas gravitacionais terá a assinatura do centro tecnológico inscrita em materiais sustentáveis e não-inflamáveis.Para o cidadão comum, o PIEP desenvolveu uma cápsula de café (a pedido da empresa Bicafé) totalmente fabricada em plástico, que facilita a reciclagem por ser monomaterial. Em geral, as cápsulas têm plástico e películas de alumínio ou papel, nomeadamente no filtro por onde passa o café. E aproveitou o material reciclado das cápsulas para criar um recipiente para colocação das unidades utilizadas, num incentivo à reciclagem em ambiente doméstico.A empresa de componentes de calçado Atlanta, no âmbito do projeto BioShoes4All, tem agora ao dispor solas biomiméticas, criadas no seio do PIEP com inspiração nas estruturas do coração humano, em teias de aranha e ventosas do polvo. Estas solas são mais leves do que as tradicionais, garantem mais conforto e uma melhor proteção contra os impactos. São também fabricadas com um plástico produzido a partir de derivados de fontes biológicas.Como afirma Cláudia Cristóvão, diretora-geral do PIEP, o objetivo “é fazer a transferência das nossas soluções para as empresas, para que estas façam a exploração económica”. Para o mundo da moda, o PIEP também criou novos cabides, aproveitando os inutilizados. O cliente foi a Adolfo Dominguez, que quis imprimir uma pegada mais ecológica ao negócio. Com cascas de arroz, o centro desenvolveu solas para chinelos de trabalho. A Ikea vai trabalhar com painéis fabricados a partir de resíduos industriais de plástico reutilizado. Para já, só na área da logística, mas a pensar aplicar no futuro ao mobiliário. Os investigadores do polo também transformaram caroços de azeitona em biopolímeros para o fabrico de formas de calçado ecológicas.Os exemplos da atuação são múltiplos. A Philips quer reduzir e substituir componentes elétricos e eletrónicos, com o objetivo de diminuir a necessidade de matérias-primas críticas, assim como os resíduos. Em simultâneo, quer materiais mais eficientes ao longo da cadeia produtiva. O PIEP está nessa corrida de inovação. Segundo Cláudia Cristóvão, o polo tem atualmente a decorrer candidaturas a projetos no valor de 30 milhões de euros. Só ao nível do Plano de Recuperação e Resiliência esteve envolvido em trabalhos cujo orçamento global atingiu os 13 milhões de euros. Desde a sua criação, em 2020, numa iniciativa conjunta entre a indústria, o Departamento de Engenharia de Polímeros da Universidade do Minho e o IAPMEI, já apoiou 700 empresas, desenvolveu 350 projetos de investigação e participou em diversas publicações científicas. Respostas que já exigiram um investimento acumulado de 20 milhões de euros. O PIEP foi constituído para aproximar ciência e indústria, ou seja, oferecer conhecimento científico para encontrar soluções que promovam a competitividade da economia e de uma forma sustentável. Em 2024, registou um volume de negócios de 5,4 milhões de euros - o maior da sua história. Este ano, prevê atingir os 6,4 milhões de euros, um crescimento de 18,5%. .Norte assegurou até agora quase metade do valor investido em imobiliário no país.Número de casas vendidas este ano em Portugal vai chegar quase a 170 mil