Ponto Zero abre caminho para mulheres na liderança de empresas

Criada por Mafalda Rebordão e Sara Aguiar, organização sem fins lucrativos prepara-se para a 4ª edição da C-Level Mentorship Academy, que já apoiou centenas de mulheres rumo a cargos de topo no país.
Mafalda Rebordão posa para foto no Parque das Nações, onde fica a Microsoft Portugal.
Mafalda Rebordão posa para foto no Parque das Nações, onde fica a Microsoft Portugal. Reinaldo Rodrigues
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O dado de que em Portugal apenas duas em cada dez posições de topo são ocupadas por mulheres, ajuda a explicar por que Mafalda Rebordão e Sara Aguiar decidiram criar, em 2020, a Ponto Zero, uma organização sem fins lucrativos que nasceu com a missão de acelerar o acesso de mulheres a cargos de liderança nas empresas portuguesas.

Na altura, ambas trabalhavam em gigantes tecnológicas — Mafalda na Google e Sara na Amazon — e perceberam que, apesar do discurso sobre diversidade, o tema do desenvolvimento de carreira era ainda “pouco democratizado” nas empresas. “Havia uma lacuna enorme no mercado português”, recorda Mafalda, hoje responsável pela área de parcerias estratégicas da Microsoft junto das Nações Unidas, em Nova Iorque, em entrevista ao DN. “As empresas falavam sobre talento, mas não criavam espaços para preparar as mulheres para liderar.”

A iniciativa começou com um podcast que consistia em entrevistar pessoas que tinham carreiras inspiradoras. Ao fazer a lista, no entanto, surgiu a questão: "Percebemos que só nos lembrávamos de homens. Foi um choque perceber que não tínhamos referências femininas", relembra Mafalda que, a partir daí, decidiu inverter o olhar e dar voz exclusivamente a mulheres de diferentes áreas. O projeto deu origem a um evento — We Can Do Better — e, pouco depois, transformou-se na C-Level Mentorship Academy, academia que se tornou hoje o principal programa da Ponto Zero.

Com duração de um ano, a academia junta executivos de topo a profissionais com mais de três anos de experiência que desejam acelerar a sua carreira. “Quando lançamos o desafio inicial, convidamos 30 C-Level a acompanhar, durante um ano, uma mulher cada um”, explica Mafalda. Desde então, a comunidade já reuniu mais de 400 participantes, entre mentores e mentees, e prepara-se agora para iniciar o quarto ciclo, que levará o número total de mulheres apoiadas a cerca de 500.

O programa, conta Mafalda, foi pensado para combater um fenómeno identificado em estudos internacionais: muitas mulheres perdem a ambição de chegar à liderança entre os três e dez primeiros anos de carreira. “É um problema sistêmico. As empresas estão cada vez mais preparadas para ter mulheres à frente, mas a sociedade ainda não está”, diz.

A C-Level Mentorship Academy surgiu, então, como uma ponte entre quem quer liderar e quem já chegou lá. Além da mentoria individual, o programa oferece masterclasses, formação em soft skills e uma rede de alumni que multiplica oportunidades. “Cerca de 40% das mulheres que passam pela academia dizem que já se sentem preparadas para assumir cargos de liderança, e entre 70% e 80% recuperam a ambição de lá chegar”, aponta Mafalda, ressaltando que, hoje, a Ponto Zero conta com uma equipa de oito mulheres voluntárias que coordenam o programa. “Operamos desde o início com zero dólares. É um bom exemplo de como há vontade de ajudar. Os CEO e executivos das maiores empresas do país oferecem o seu tempo, gratuitamente, para orientar outras mulheres”, sublinha.

No final do ano, após o arranque da 5a edição da academia, a Ponto Zero abrirá novo processo para 2026, com planos de expansão e ajustes no formato. “Queremos reforçar a formação dos mentores e das mentees, com temas como linguagem não violenta e personal branding, e incentivar encontros presenciais. A rede de apoio entre as mulheres é fundamental”, adianta.

Inspirada por modelos internacionais — dos Estados Unidos à Islândia —, Mafalda acredita que Portugal está num processo de amadurecimento no quesito da igualdade de género. “Os problemas económicos e culturais levam tempo a resolver, mas Portugal é um país de quintais. Há várias iniciativas, como a Portuguese Women in Tech, e precisamos de trabalhar juntos para gerar impacto real”, ressalta a jovem de 27 anos, que explica como gere o tempo entre seu trabalho e as iniciativas a qual se dedica fora dele.

“Aprendi na Google que podemos dedicar 20% do nosso tempo a projetos que nos apaixonam e aprendi a trabalhar com organizações multilaterais de grande escala, que mudar o mundo começa na nossa comunidade”, afirma, antes de citar uma frase de Eleanor Roosevelt que a inspira. “Mudar o mundo é algo tão pequeno que não aparece em nenhum mapa. Começa com as pessoas ao nosso lado”, finaliza.

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