As vagas brasileiras de imigração em Portugal já atravessaram quase todo o espectro social e laboral nas últimas décadas, mas nos últimos anos houve uma nova tendência com a chegada de cada vez mais empreendedores da área tecnológica ao país. Agora, o movimento começa também a ocorrer no sentido inverso: o COREangels Atlantic, único fundo europeu com foco exclusivo na internacionalização entre Brasil e Europa, acaba de ampliar a sua atuação para apoiar startups portuguesas e espanholas interessadas em entrar no mercado brasileiro. “O nosso fundo tem um modelo colaborativo, em que os business angels participam ativamente da seleção e acompanhamento das startups. É um envolvimento fundamental, especialmente num processo de internacionalização que pode ser muito complexo para uma empresa pequena”, diz Maurizio Calcopietro, managing partner do COREangels Atlantic, em entrevista ao DV.Italiano de Milão, Calcopietro vive há sete anos em Lisboa, mas conhece bem as dificuldades de entrar no mercado brasileiro. Entre Curitiba, no estado do Paraná, e São Paulo, foram 22 anos morando no país para o qual a partir de agora ajudará a levar empreendedores portugueses da área tecnológica. “Não é algo simples entrar no Brasil: é preciso ter parceiros locais, alguém que ajude com a legislação, com a estrutura, com as redes certas. Quem tentou sozinho, normalmente não teve bons resultados”, sublinha Calcopietro que se mudou para Lisboa justamente após participar de um dos principais eventos do ramo, o Web Summit.Criado em 2019, o fundo já investiu em sete startups brasileiras que expandiram para a Europa tendo Portugal como "porta de entrada", de acordo com o italiano. Agora, o COREangels Atlantic quer apoiar também o percurso inverso e para isso formalizou uma aliança com a sociedade gestora OW Ventures.O novo ciclo do fundo mantém o foco em empresas early stage, mas com um critério mínimo: pelo menos um ano de faturação. “É o tempo necessário para validar o produto e o mercado”, explica Calcopietro, sem detalhar que tipo de startups tecnológicas pretende levar ao Brasil nos próximos tempos, mas pontuando que "o importante é que sejam startups digitais, com potencial global.”O fundo opera segundo o modelo de arcanjo, em que cada startup é acompanhada de perto por um dos investidores. Foi assim que nasceu um dos seus maiores cases de sucesso até agora na Europa: a Sizebay, startup brasileira de provador virtual que virou referência na área do e-commerce e se expandiu pelo continente a partir de Portugal. Com um capital-alvo de três milhões de euros, o COREangels Atlantic já captou 60% do montante e conta hoje com 41 investidores - a maioria brasileiros, alguns residentes em Portugal. Já a entrada da OW Ventures na gestão do fundo surge como estratégia para garantir eficiência e atrair novos perfis de investidores, mesmo com tickets pequenos.'Intercâmbio' entre Brasil e PortugalAssim como Calcopietro, o brasileiro Luis Gutman, managing partner da OW Ventures chegou a Lisboa em 2018 e rapidamente reparou na lacuna de que faltava um fundo com conhecimento real do mercado brasileiro. Antes de fazer o caminho inverso rumo ao Brasil, no entanto, o carioca foi justo um dos responsáveis por consolidar o movimento mencionado anteriormente de "aproveitar a onda" de empreendedores brasileiros da área tecnológica a aterrar em Portugal. Os motivos são diversos. “Portugal ainda é um país barato para empreender, com bons talentos, boas universidades e um ecossistema muito bem articulado, com aceleradoras e incubadoras espalhadas pelo território”, explica o gestor da OW Venture ao DV. "É um país pequeno, mas com um ecossistema de startups muito bem organizado e distribuído. E o Brasil tem uma massa enorme de talentos e oportunidades. Então criar essa ponte entre os dois lados foi desde sempre nosso objetivo”, complementa..O próximo objetivo do carioca é se beneficiar desta "ponte" com empresas tecnológicas dos dois lados do Atlântico para, com sua rede de contatos, providenciar aos empreendedores portugueses uma entrada sólida no Brasil. “Tenho desde advogado que posso indicar para ajudar a empresa a criar a estrutura corretamente, até pessoas de áreas específicas, como saúde, desporto ou banca. Essa rede é essencial para apoiar o soft landing de uma startup europeia num mercado tão particular como o brasileiro”, afirma.Para Calcopietro, a mentalidade dos empreendedores ajuda a explicar a ligação entre os dois países: enquanto em Portugal, pensar global é uma necessidade desde o início, no Brasil, dada a dimensão do mercado interno, a internacionalização tende a ser adiada. Essa diferença, considera, abre precisamente espaço para as colaborações complementares que estão em curso de 2019 para cá e que agora caminham para novo capítulo. Em suma, o objetivo da nova fase da parceria, sublinham os dois gestores, é o de aproveitar o melhor de cada lado do Atlântico: o talento tecnológico das novas startups portuguesas aliados à dimensão e capacidade de escala do mercado brasileiro, também cada vez mais relevante na área das fintechs, por exemplo.nuno.tibirica@dn.pt.De Tomar a Londres, OSCAR acelera expansão europeia.Gi Group aposta em Portugal como plataforma estratégica na Europa