Preço do café continua em alta. Quanto vamos pagar por um expresso?

Desde que Donald Trump anunciou a implementação de tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros que o mercado desta matéria-prima tem estado desorientado. Preços devem continuar a subir.
CARL DE SOUZA/AFP
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Nos EUA, o estado de espírito já se aproxima do pânico, enquanto os comerciantes esgotam os seus inventários, constituídos antes de os EUA terem imposto uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros, onde se inclui o café. Enquanto os dois países continuam à mesa das negociações a tentar firmar um acordo comercial que seja vantajoso para ambos os lados, os consumidores já experimentaram uma subida de 40% no preço do café, os comerciantes pagaram uma taxa de entrada pelos grãos brasileiros e muitos importadores têm carregamentos em stand-by nas alfândegas enquanto aguardam por uma decisão.

Recorde-se que os EUA são o principal consumidor de café e que o Brasil fornece ao país cerca de um terço do total de café consumido. Qualquer alteração na relação entre estes dois agentes acaba por mexer em todo o mercado do café, em redor do globo, porque altera significativamente o equilíbrio de forças.

Nos mercados internacionais, o preço do café brasileiro já escorregou 5%, enquanto o dos seus concorrentes – Colômbia, México ou Guatemala – já subiu até 10% com o aumento da procura.

Evolução do preço dos grãos de café em verde
Evolução do preço dos grãos de café em verdeReuters

Os preços do café têm estado a subir, nos últimos anos, com o clima a ser apontado como o principal responsável: chuvas, secas, tudo tem ajudado a justificar a quebra na produção e o aumento do preço dos produtores de café um pouco por todo o mundo. E, inevitavelmente, essa valorização já repercute nos consumidores, mesmo fora dos EUA.

Aliás, ainda esta semana a DECO alertou para o facto de o café moído ter sofrido um dos maiores aumentos do cabaz de alimentos que é monitorizado regularmente desde 2022.

O café torrado moído é, segundo os dados recolhidos pela associação de defesa do consumidor, o produto do cabaz cujo preço mais aumentou percentualmente este ano. Só na última semana, o preço do café escalou 71 cêntimos. Uma embalagem de 250 gramas de café torrado moído pode agora custar 5,13 euros, nota a DECO. A 1 de janeiro deste ano, a mesma embalagem de café custava 3,81 euros, o que significa que um aumento de 35% em menos de um ano. Se recuarmos a 2022, a subida em relação ao início desse ano é de 71%.

Num país onde o café faz parte dos hábitos diários, este aumento de preços tem um impacto significativo na carteira dos consumidores, e pode refletir-se numa retração do consumo, numa altura em que também os estabelecimentos comerciais não se coíbem de aumentar os preços da ‘bica’. Em Lisboa, o difícil é encontrar quem a sirva por menos de um euro e com a aproximação de 2026, é de esperar mais aumentos – como, de resto, acontece a cada início de ano. 

E mesmo a opção de consumo de café em casa, como mostram os valores divulgados pela DECO, vai ser impactada por esta escalada de preços que, segundo os indicadores disponíveis nos mercados das matérias-primas, não dão sinais de abrandar tão cedo.

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Café: Preços sobem, mas consumo não desce

No início deste ano, Cláudia Pimentel, secretária-geral da Associação Industrial e Comercial do Café, salientava em declarações ao Dinheiro Vivo que em Portugal, “o aumento do preço no consumidor varia de empresa para empresa, porque depende da sua capacidade de refletir ou não esses aumentos. E a capacidade tem também que ver com o stock que cada uma tem – não sendo um produto muito perecível, é possível ter bons stocks e isso deve ser tido em conta”.

E aproveitou ainda para recordar que, como potências futuras na produção do café, e com estreita relação a Portugal, temos atualmente Angola - “chegou a ser o segundo maior produtor do mundo e está a investir no setor, embora seja necessário haver estabilidade e vontade políticas e tenha de aprender a tratar do café – e também os Açores, cujas produções estão a beneficiar das alterações climáticas”. Para já, parece que estas apostas ainda não estão a ter efeito de travagem na subida dos preços, mas será preciso esperar mais algum tempo para ver se haverá real impacto no consumo, em termos nacionais.

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