Vendas de carros usados ainda recuperam da pandemia mas importações disparam 38%

Análise do Standvirtual ao mercado automóvel nacional mostra que vendas de usados a subir, mas ainda aquém de 2019. Importações crescem e levam oferta a superar nível de procura.
Leonel de Castro / Global Imagens
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A transferência de propriedade de veículos ligeiros de passageiros, ou seja vendas de carros usados, subiu no último ano 3,5%, face a 2022, em Portugal. Mas a comercialização destes veículos ainda está 7,5% abaixo do que se registava em 2019, o último ano antes da pandemia de covid-19. Os dados constam no estudo de mercado anual do Standvirtual, divulgado na segunda-feira, que constata também as importações estão a influenciar todo o mercado.

As importações de veículos usados subiram 4,4% em 2023, em termos homólogos, e dispararam 37,8% em comparação com o ano de 2019.

Para Nuno Castel-Branco, diretor-geral do Standvirtual, os números evidenciam que os “portugueses continuaram a mostrar interesse em comprar veículos”. E, “tipicamente”, refere o gestor numa nota enviada à redação, o mercado de usados “é estável”,  sendo que o ano de 2023 se revelou “normal” e “positivo”.

Não obstante, os números demonstram também uma dinâmica negativa no mercado por causa das importações, registando-se um excesso de oferta em todo o mercado (usados e novos).

A análise do Standvirtual alega ter observado uma “estabilização” do mercado de usados, no último ano.  Isso é factual, considerando que o referido aumento das transferências de  propriedade. Contudo, aponta que o crescimento das importações somado às vendas de veículos ligeiros novos no último ano, que cresceram 27,2%  - dados da Associação Automóvel de Portugal (ACAP) divulgados em janeiro - “seria de prever” uma dinâmica “negativa ao longo de 2023, sobretudo pelo excesso de oferta”, de acordo com a análise do Standvirtual.

“Importámos cem mil carros usados, 50% das vendas de novos. Rácio que só os países do Leste da Europa têm”, afirmou o presidente da ACAP, Hélder Pedro, em entrevista ao Dinheiro Vivo em fevereiro. No verão de 2023, Roberto Gaspar, presidente da Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (Anecra), já avisava que as importações de veículos usados estavam a crescer desde 2021.

As importações, de acordo com a análise de mercado do Standvirtual, foram uma “forma de os vendedores nacionais reabastecerem o stock [automóvel]”, tendo em conta o “período de escassez de veículos [2021 e 2022]” nos stands portugueses face à procura.

O “crescimento progressivo” das importações, realça o estudo, verificou-se até agosto do ano passado. A partir daí, as importações caíram, “ficando abaixo do número de veículos importados em 2022”.

“A dinâmica de mercado permanece[u] positiva até agosto de 2022 com maior procura do que oferta”, tornando-se “negativa a partir de setembro”. “E mantém-se negativa durante todo o ano de 2023, decrescendo até cerca de 25% no mês de agosto, face ao ano anterior”, lê-se na nota do Standvirtual enviada à redação. “Estes valores estão relacionados, sobretudo, com o excesso de oferta disponível no mercado ao longo de 2023”, lê-se.

As importações ajudaram a diminuir o tempo médio esperado de venda em relação à oferta de stock, nota ainda o estudo do Standvirtual. Mas o chamado market supply “volta a aumentar a partir de outubro [de 2023]”, precisamente, porque há “mais oferta do que procura e maiores tempos esperados de venda”. Vender um veículo pode, agora, levar cerca de dois meses, segundo o estudo.

Durante o ano de 2023, registaram-se “significativos aumentos de vendas” nos distritos de Beja (+24%), Bragança (+16%), Viseu (+14%) e Santarém (+13%),  com o reporte anual do Standvirtual a salientar uma "surpreendente" contração de 6% na comercialização de usados em Lisboa. Castelo Branco (-17%), Évora (-15%) e Portalegre (-14%), foram as regiões a registar maior quebra.

Com “o arrefecimento da procura e o aumento da oferta”, o preço médio de venda cresceu em “cerca de 4%”, segundo o estudo. No final de 2023, consoante o segmento do veículo pretendido, os preços poderiam oscilar entre menos de 14 mil euros e os 34 mil euros.

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