Planear umas miniférias para a passagem de ano, a menos de um mês da virada do calendário para 2026, não será tarefa que se vislumbre de concretização fácil. O desafio traduz-se num sinal positivo para as agências de viagens que têm já os pacotes praticamente vendidos, apesar de um aumento dos preços perto dos 12%, resultado de uma maior antecipação das compras do mercado nacional num ano que se revelou, novamente, histórico para o setor.“Em 2025 abrimos as vendas para o Réveillon em maio, quando antigamente o fazíamos em outubro. Neste momento, temos pouca disponibilidade e a nossa capacidade está toda cheia. Cabo Verde está lotado e há outros destinos como o Dubai, as Maurícias ou Cuba com ocupações muito interessantes. O Brasil continua a ser o número um e, a nível nacional, a Madeira lidera e praticamente também já não temos disponibilidade. Mesmo no continente, quem deixa este planeamento para mais tarde acaba por não ir para onde quer, mas para onde encontra disponibilidade”, explica ao DN o diretor-geral da Solférias. Nuno Mateus assegura que o operador turístico irá superar a faturação de 2024 à boleia do incremento da procura que se está a aproximar dos 20%.Os portugueses estão a viajar mais e o apetite assume maior expressão em períodos como a Páscoa, o verão e o fim de ano. Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) corroboram a análise ainda preliminar das agências ouvidas pelo DN e revelam que só nos primeiros seis meses do ano os residentes realizaram 11,2 milhões de viagens, uma subida de 19,2% face ao mesmo período homólogo.A maioria das deslocações até junho foram realizadas em território nacional num total de 9,5 milhões, o que se traduz num crescimento de 18,9%. Já para fora de portas, o salto foi maior, de 20,4% o que se representa 1,7 milhões de viagens..Portugueses estão a viajar mais.A sede pujante das famílias por viajar não é um fenómeno novo e tem vindo a ganhar expressão nos últimos anos. A atual conjuntura económica parece não ser um entrave quando o assunto é fazer as malas para rumar a outro destino e os números deixam o próprio setor sem palavras.“Às vezes é muito difícil, mesmo para nós, explicarmos a reação do mercado. O segmento de lazer não tem um meio termo: é o oito ou o 80. A verdade é que, hoje em dia, viajar é encarado como um bem de primeira necessidade”, justifica Nuno Mateus.Apesar da perplexidade, o responsável da Solférias refere que há diversas variáveis na equação que têm contribuído para o aumento das vendas. Por um lado, a antecipação das reservas revela-se em melhores oportunidade negócio a preços mais apelativos, por outro, a oferta de destinos de médio-curso, com pacotes tudo incluído - que integram no preço final voos, alojamento, hotel e alimentação - têm seduzido um número crescente de viajantes, que acabam por optar por esta modalidade de modo a controlarem de forma mais eficaz os gastos.Aliado às propostas do mercado, surge também o perfil do turista português. “Há uma geração mais jovem que foi habituada a viajar desde sempre e esta franja viaja, de facto, bastante”, frisa.O quadro é partilhado pela Lusanova que perspetiva um crescimento de 10% na faturação global do ano. “Desde a pandemia que viajar passou a ser uma prioridade para muitos portugueses e essa tendência tem-se consolidado de forma muito expressiva. Estamos a notar que os portugueses não só viajam mais, como viajam de forma mais informada, com maior valorização da experiência e maior procura por destinos longos e viagens culturais bem estruturadas. A conjuntura económica tem impacto, mas não no sentido de reduzir a procura. O que notamos é um viajante mais seletivo, que valoriza mais o que está incluído e procura viagens com maior relação qualidade/preço. Os clientes estão menos dispostos a comprar produtos simples e sem conteúdo e demonstram maior apetência por circuitos completos, viagens temáticas, grandes destinos e experiências de valor acrescentado”, detalha o diretor operacional, Tiago Encarnação.Do lado da Agência Abreu, o balanço deste ano é otimista considerando o aumento do volume de vendas. “Sentimos que o mercado continua ávido por realizar as suas férias e viagens, e tem cada vez mais interesse por destinos alternativos e conceitos de viagem diferenciados. Os portugueses continuam a fazer férias e a organizá-las melhor, ao mesmo tempo que procuram uma boa relação qualidade-preço, sem abdicar de viver experiências interessantes. Esta diversidade de produtos, destinos e preços é necessária e demonstra que a capacidade de resposta das agências de viagens e do setor do Turismo é fundamental.”, indica o diretor-geral, Pedro Quintela..Preços sobem até 12%.O orçamento familiar é um dos aspetos de maior relevo na hora de traçar o itinerário para as férias e viajar pesa cada vez mais na carteira. Do alojamento aos bilhetes de avião, os preços continuam a subir, o que se refletiu em aumentos de entre 5% a 12% nos pacotes vendidos pelos operadores turísticos este ano. “As principais subidas verificaram-se nos circuitos e escapadinhas europeias, sobretudo em destinos com elevada pressão turística ou com limitações de capacidade, como em Itália, em França, nos Países Baixos e na Europa Central. Contudo, apesar deste aumento de preços, a procura manteve-se forte em outros destinos também consolidados no mercado, como é o caso de Espanha, Grécia, Turquia, Marrocos e Egito, onde obtivemos crescimentos acentuados”, aponta Tiago Encarnação.A fatura mais inflacionada não tem, ainda assim, refreado a procura dos portugueses que afinam estratégias para encontrar as melhores oportunidades. Comprar com maior antecedência, viajar fora das épocas altas ou estar de olho nas promoções são algumas das formas de poupar alguns euros. “Temos verificado uma mudança gradual nos hábitos dos viajantes portugueses, que estão a diversificar mais as suas escolhas ao longo do ano. As férias na época de Páscoa, Natal ou em feriados prolongados têm vindo a ganhar importância. Paralelamente, existe também uma procura crescente para viajar em épocas de menor afluência, as chamadas shoulder seasons, o que permite evitar grandes multidões, mas também usufruir de preços mais competitivos e de experiências diferentes nos destinos”, enquadra o diretor da Lusanova..Da Europa ao Uzbequistão. Ásia ganha força nas preferências.A mudança de hábitos dos portugueses enquanto turistas não é exclusivamente inerente à forma como consomem. A lista de destinos escolhidos também está a ser alargada, com os países do continente asiático a ganhar cada vez mais adeptos de Portugal. “Cabo Verde, Brasil, Estados Unidos, Egito, Emirados Árabes, França e Espanha continuam a ser os mais procurados. Não sendo propriamente destinos novos, podemos salientar o maior peso da procura pelos Emirados e Brasil que, este ano, parece que estão de volta às preferências dos portugueses”, enumera Pedro Quintela. Já do lado das geografias que mais crescem entre o mercado nacional, o responsável da Abreu destaca o Japão, a China, a Austrália, o Sri Lanka,o Uzbequistão e o Butão.A Lusanova corrobora o maior interesse pela Ásia que tem assumido “um crescimento muito expressivo ao longo de 2025, tendência que também se reflete nesta época”. “A Ásia tem sido o grande motor do crescimento da nossa operação em 2025, com aumentos que variam entre 35% e 50%, dependendo do destino. O Japão, a China, o Vietname, a Tailândia, a Índia, Singapura e o Sri Lanka têm registado uma procura excecional”, partilha.Para o fim de ano, Tiago Encarnação refere que Nova Iorque se apresenta como “um destino icónico”. “A Capadócia, na Turquia, é um destaque importante, muito impulsionada pela nossa oferta especial para este período. Já entre os destinos europeus, Riga e Praga têm mostrado grande dinâmica, bem como algumas cidades alemãs e mercados de Natal com forte tradição”, acrescenta o responsável da Lusanova.Dentro de portas, as ilhas lideram, com a Madeira e os Açores a ocuparem o pódio das preferências dos portugueses.*A jornalista viajou para Macau a convite da APAVT.ANA admite novo aeroporto pronto em 2035. Governo diz que "nada a impede de acelerar prazos" .Hugo Espírito Santo: "As fronteiras no aeroporto são um embaraço para o Governo e temos de pedir desculpa"